segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Movimentos pró-Lula montam acampamento para
manifestações em Porto Alegre



Manifestantes pró-Lula começam a montar acampamento em Porto Alegre


A Frente Brasil Popular, que congrega dezenas de movimentos sociais, sindicais e partidos de esquerda, começou a montar na tarde de domingo (21.jan.2018) o acampamento que abrigará a militância em Porto Alegre e onde os militantes pró-Lula vão se manifestar de segunda-feira (22.jan.2018) até o dia do julgamento. Na quarta-feira (24.jan.2018), o TRF-4 julgará a apelação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado pelo juiz Sergio Moro em julho de 2017 a 9 anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
O acampamento está sendo montado, conforme diálogo com as autoridades do Estado do Rio Grande do Sul, no Anfiteatro Pôr-do-Sol — um amplo gramado localizado às margens do rio Guaíba — a cerca de um quilômetro da sede do TRF-4. A estrutura para a montagem já foi descarregada. Segundo a assessoria de imprensa do MST, cerca de 200 sem-terra estão envolvidos na construção das tendas, que servirão não só como alojamento, mas também como plenária para debates.
Alguns militantes do interior do Paraná já estão a caminho, mas a maioria das caravanas deve desembarcar somente na segunda (22.jan.2018). A Frente Brasil Popular espera 300 ônibus do interior do Paraná e 150 de outros estados.
A programação dos movimentos terá início na manhã de segunda-feira (22.jan.2018) com uma marcha da Via Campesina, com cerca de 2,5 mil integrantes, da Ponte do Guaíba (BR-116) até o local do acampamento, que começará a receber as delegações. O percurso da marcha é de 7,6 quilômetros, atravessa algumas das principais avenidas da capital gaúcha, e contará com a presença de João Pedro Stédile, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST).
A partir das 14 horas, de segunda-feira (22.jan.2018), haverá no acampamento um seminário sobre supostas arbitrariedades no processo contra o ex-presidente. Mais tarde, às 18 horas, no Fetrafi-RS (Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do Rio Grande do Sul), está marcado um encontro de juristas em defesa da democracia.
O evento principal ocorrerá na tarde de terça-feira (23.jan.2018), a partir das 17h, na Esquina Democrática. Haverá um ato político, seguido por uma marcha pelo centro até o acampamento, onde ocorrerá uma vigília. A presença de Lula na cidade ainda é uma incógnita. Caso o petista vá a Porto Alegre, deverá comparecer a essa manifestação.
A Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul vai anunciar na segunda-feira (22.jan.2018) o plano de ação para evitar incidentes durante o julgamento mas, segundo ela, alguns Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) do interior estão preparando cavalgadas até Porto Alegre e devem se concentrar no Parque Marinha do Brasil, a poucas dezenas de metros do acampamento dos movimentos pró-Lula.

O JULGAMENTO — Lula será julgado em segunda instância seis meses após ter sido condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Na ação, o petista é acusado de receber R$ 3,7 milhões de propina da empreiteira OAS em decorrência de contratos da empresa com a Petrobras. O valor, apontou a acusação, se referia à cessão pela OAS do apartamento tríplex ao ex-presidente, a reformas feitas pela construtora nesse imóvel e ao transporte e armazenamento de seu acervo presidencial.
O TRF-4 já informou que, caso condenado, Lula só poderá ser preso após a tramitação de todos os recursos. Em caso de condenação em segunda instância, o ex-presidente fica inelegível pela Lei da Ficha Limpa, mas pode se manter na disputa também por meio de recursos.



Integrantes da Frente Brasil Popular começam a montar acampamento no Anfiteatro Pôr-do-Sol,
onde os grupos pró-Lula vão se manifestar


OS PRÓS — Também no domingo (21.jan.2018) começaram a chegar a Porto Alegre as primeiras caravanas vindas do interior do Rio Grande do Sul e diversos estados do Brasil trazendo militantes que vão se manifestar em defesa de Lula. Muitos deles vão ficar hospedados nas casas de integrantes de grupos pró-Lula que se dispuseram a abrigar os visitantes.
Outros estão alojados em sedes de sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT). É o caso de um grupo de 120 jovens integrantes da Via Campesina e do Levante Popular da Juventude que estão acampados na quadra do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul.
Uma delas é a argentina Nadya Loscacdo, de 23 anos. Estudante de História da Arte em Buenos Aires, Nadya integra a organização de esquerda Pátria Grande, que tem vínculos com o MST, e desde o início de janeiro participa de uma “vivência” no assentamento sem-terra de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre.
“Para nós na Argentina é importante defender a democracia no Brasil para barrar o avanço do neoliberalismo no continente”, disse Nadya.
A estudante Daniele Cazarotto, 24 anos, filha de assentados do MST nascida em um acampamento do movimento em Hulha Negra (RS), também estava alojada no local. “A importância maior dessa manifestação é defender a democracia”, disse ela.
Desde o dia 15.jan.2018 integrantes do Levante Popular têm feito ações em defesa de Lula na capital gaúcha. Uma delas é o Blocão Cadê as Provas, que percorre bairros da periferia com uma bateria de escola de samba chamando as pessoas para dialogar sobre o julgamento de Lula em um tipo de atividade chamado “agitação e propaganda”.
Na segunda-feira passada (15.jan.2018) o grupo fez uma ação no centro de Porto Alegre. Segundo eles, o ato provocou debates entre pessoas pró e contra o petista, mas sempre de maneira democrática.
“Houve interação entre as pessoas com diferentes posições mas sem brigas, como manda a democracia”, disse Rafael Rodrigues, 27 anos, do Levante. Durante todo o domingo (21.jan.2018) sindicalistas ligados à CUT colaram cerca de 5 mil cartazes de apoio ao ex-presidente nas principais avenidas de Porto Alegre.



A militante pró intervenção militar Luciana Liska
segura uma bandeira do Brasil no bairro de classe
média alta Moinhos de Vento, em Porto Alegre


OS CONTRAS — Na movimentada esquina das avenidas Mostardeiro e Goethe, no bairro de classe média alta Moinhos de Vento, dois militantes de um grupo que defende a intervenção militar se manifestavam embaixo de chuva. A dona de casa Luciana Liska, 47 anos, e um homem que não quis se identificar porque, segundo ele, “a imprensa toda é do PT”, seguravam bandeiras do Brasil em uma mão e guarda-chuvas na outra.
Nos 10 minutos em que a reportagem esteve no local, cinco carros buzinaram em solidariedade à dupla de manifestantes. Segundo Luciana, a presença deles ali não está diretamente relacionada ao julgamento de Lula. Eles costumam ir ao mesmo ponto todos os domingos. Ontem decidiram enfrentar a chuva apesar de a manifestação ter sido abortada por causa do mau tempo.
“Precisamos dos militares porque quase todos os políticos estão envolvidos em corrupção. A gente não tem mais onde recorrer”, disse a dona de casa.

LULA — O ex-presidente foi condenado em julho a 9,5 anos de prisão por corrupção e lavagem pelo juiz Sergio Moro. Ele é acusado de receber vantagens da empreiteira OAS, como a reserva e reforma de um tríplex em Guarujá (SP).
A defesa recorreu e o caso foi enviado ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a segunda instância da Justiça Federal. A partir do veredito, há vários cenários possíveis para o futuro de Lula.
Confirmada a condenação, Lula pode se enquadrar na Lei da Ficha Limpa, que barra candidatos já condenados por um grupo de juízes, como é o caso do TRF-4. A cassação não é automática — precisa ser oficializada pela Justiça Eleitoral após o registro do candidato.








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