Jair Bolsonaro gastou 39% a mais neste mandato do que no anterior com passagens aéreas pagas com dinheiro público
Jair Bolsonaro |
O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) viajou para Campina Grande,
segundo maior colégio eleitoral da Paraíba, para dar palestras, falar
com eleitores em praças e conceder entrevistas para rádios locais em 8
de fevereiro do ano passado. “Hoje estou perdendo a sessão em Brasília.
Gostaria de estar lá, mas para quem tem pretensões outras tem de estar
muito bem preparado para aquele momento em 2018. Vale a pena tudo isso
aí”, afirmou em entrevista à época. A veículos de imprensa paraibanos,
apresentou a meta de fazer duas viagens para fora da capital federal por
mês: promessa cumprida.
Em campanha aberta para a Presidência da República, Bolsonaro aumentou
seus gastos com passagens aéreas pagas com dinheiro público da Câmara
dos Deputados. Levantamento feito mostra que, nesta legislatura (entre
2015 e 2017), o deputado fluminense gastou 39% mais com passagens
custeadas pela Câmara do que no período anterior (de 2011 a 2014):
passou de R$ 261 mil para R$ 362 mil.
O parlamentar mudou o perfil de suas viagens nos últimos três anos,
quando começou a ganhar força sua intenção de disputar o Palácio do
Planalto após se reeleger, em 2014, como o deputado mais votado (464.572
votos) no Rio. Ele passou a visitar mais cidades de todas as regiões do
País, fora do eixo Brasília-Rio, onde trabalha e mora.
Os deslocamentos para outros Estados saltaram de 23 para 83 – 2,3 por
mês. Foram considerados apenas os bilhetes em que Bolsonaro é o
passageiro e pagos por meio da cota parlamentar. A um ano para o fim da
atual legislatura, ele já se deslocou 351 vezes, ante 404 dos quatro
anos anteriores.
Em Campina Grande, uma das poucas cidades onde o PT perdeu as eleições
presidenciais no Nordeste, Bolsonaro pagou, com dinheiro da Câmara, R$
1.013,69 em bilhetes aéreos. Seu gabinete emitiu as passagens no dia 20
de janeiro do ano passado. Hoje, o deputado fluminense é o segundo mais
bem colocado nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
‘Mito’ — Bolsonaro costuma ser recebido por apoiadores aos
gritos de “mito” nos aeroportos, circula em locais públicos, dá
entrevistas e faz palestras relacionadas à segurança pública.
Em julho de 2017, o deputado seguiu esse roteiro. Foi recepcionado por
simpatizantes no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, onde falou em
“libertar o País” com a “verdade”. “Longe aqui de estar fazendo
campanha política, muito longe disso, mas cada um de nós tem a liberdade
de ter o direito de buscar o que é melhor para o País. Aqui não tem
mais um capitão do Exército, tem um soldado do Brasil à disposição para
ir às últimas consequências para retirar aquela podridão que está em
Brasília”, esbravejou. Entre junho e julho, o gabinete comprou quatro
passagens para Porto Alegre ao custo de R$ 4.456,60.
A área externa do gabinete do deputado em Brasília estampa uma montagem
de fotos em que ele aparece nos braços de seus apoiadores. No
informativo em que presta contas do mandato, o deputado Jair Bolsonaro
justifica suas viagens como uma troca de experiências sobre a
administração pública. “Minhas viagens, em consonância com a abrangência
nacional de meu mandato, visam a obter e transmitir conhecimentos e
experiências.”
Eleito pelo Rio, Bolsonaro tem direito a R$ 35.759,97 mensais por meio
da cota parlamentar. Entre 2015 e 2017, ele gastou R$ 967 mil dos R$ 1,3
milhão que tinha direito. De acordo com normas internas da Câmara dos
Deputados, “não serão permitidos gastos de caráter eleitoral”.
O chefe de gabinete de Bolsonaro, Jorge Francisco, afirmou que a
estrutura do Parlamento não se confunde com as atividades de
pré-campanha. Ele disse também que o deputado viaja a convite para falar
sobre segurança.
Casa para sexo — Desde que assumiu sua pré-candidatura
presidencial, Bolsonaro tem se apresentado como um político honesto, que
não está envolvido em escândalos — cita frequentemente o mensalão e a
Lava Jato — e ferrenho defensor da segurança pública. Mobiliza milhares
de seguidores Brasil afora.
Contudo, reportagens publicadas por parte da imprensa brasileira
colocaram em dúvida a legalidade de sua evolução patrimonial e de seus
três filhos parlamentares no período em que passaram a ocupar cargos
públicos.
Bolsonaro e seus três filhos possuem 13 imóveis que somam um valor de 15
milhões de reais. Vários deles com a declaração de compra em um valor
inferior ao definido por impostos municipais. Além disso, Jair Bolsonaro
recebia auxílio moradia da Câmara mesmo possuindo um imóvel próprio em
Brasília, o que seria, no mínimo, imoral.
A enxurrada de críticas à família Bolsonaro tirou o pré-candidato
presidencial do rumo. Em entrevista publicada, ele alegou que o imóvel
de Brasília era usado para fazer sexo. “Como eu estava solteiro naquela
época, esse dinheiro de auxílio moradia eu usava para comer gente”,
disse o parlamentar. À reportagem, ele também ataca os jornais
brasileiros dizendo que a maioria produz notícias falsas e nega que
tenha sonegado impostos, conforme afirmou em 1999 durante outra
entrevista.
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