UM PRÊMIO AO AJUSTE - A importância do “grau de investimento”
Graças às correções feitas pela nova
equipe econômica, o governo escapou de um vexatório rebaixamento na sua
avaliação de crédito. Mas as reformas não podem parar.
Se Dilma Rousseff não fizesse uma correção de rota e insistisse na
política econômica de seu primeiro mandato, o Brasil teria caído no
precipício. Consultorias nacionais e estrangeiras passaram a incluir em
suas análises conjunturais cenários de dificuldades para o país. Havia
um risco elevado de o Brasil sofrer uma crise financeira, diziam esses
relatórios, que nos comparavam com a falida Grécia.
A queda de confiança foi estancada provisoriamente com a indicação de
Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Dar o cargo a um economista
francamente opositor ao receituário do PT foi o primeiro sinal de que
Dilma estava disposta a desembarcar do populismo e do descontrole
fiscal, mesmo traindo suas promessas de campanha.
Levy tem executado a inglória missão de diminuir gastos, segurar verbas,
rever projetos e, acima de tudo, contrariar interesses. A chiadeira foi
geral. O programa de ajustes, entretanto, obteve dias atrás o esperado
aval externo. A agência de classificação de crédito americana Standard
& Poor’s decidiu manter a atual nota brasileira, e não rebaixá-la,
como se temia.
Foi uma vitória para Levy – e uma grande notícia para o Brasil, que,
pelo menos por enquanto, continuará a fazer parte do clube das economias
confiáveis, donas do chamado “grau de investimento”, um indicador de
baixa probabilidade de calote da dívida pública. Quanto menor o risco,
menor o custo do dinheiro. O país consegue obter empréstimos externos
pagando juros menores.
As taxas pagas pelo governo brasileiro servem também de referência para
as operações de obtenção de crédito pelas empresas brasileiras no
exterior. Então, se o governo é confiável, o setor privado também se
beneficia com acesso a financiamento mais abundante e a um custo mais
baixo.
Países e empresas detentores da nota máxima, AAA, podem tomar dinheiro
pagando juros baixíssimos, ao redor de 2% ao ano para uma operação com
vencimento em dez anos. Para o Brasil, cuja nota na escala de
classificação é BBB-, o degrau mais baixo entre os países tidos como
seguros, a taxa para uma operação semelhante, feita em dólares, está
próxima de 5%. Em um passado não muito remoto, antes de o país ser
promovido a grau de investimento, o que ocorreu em 2008, o governo só
conseguia captar recursos estrangeiros se pagasse juros superiores a
10%. É um valor semelhante ao da Grécia atualmente.
A diferença não é apenas de custo. Perder o grau de investimento
significa ser proscrito do portfólio de investimentos dos ricos fundos
de pensão dos países ricos. Representa a diferença entre contar com um
fluxo estável de recursos de longo prazo para os investimentos
produtivos ou ficar à mercê do capital especulativo e volátil de
curtíssimo prazo.
Para chegarem à nota, revisada anualmente, as agências levam em conta o
histórico financeiro do país e a estabilidade de suas instituições, além
de uma série de indicadores econômicos. O método busca avaliar a
capacidade de um país (ou de uma empresa) de pagar em dia a sua dívida.
Mesmo com a credibilidade abalada, depois de quatro anos de uma política
econômica que embotou o ânimo dos investidores, o Brasil ganha uma nova
chance.
Parar de fazer besteiras foi o primeiro passo. Como afirmou a analista
Lisa Schineller, diretora de avaliação da Standard & Poor’s, a
decisão de manter a nota brasileira foi motivada pela surpresa positiva
representada pelo plano de ajustes apresentado por Levy. A agência
deixou claro, entretanto, que acompanhará atentamente a execução das
medidas.
“A presidente Dilma Rousseff enfrenta um cenário político e econômico
extremamente desafiador, em meio à forte queda nos índices de aprovação
de seu governo, à contração econômica e às investigações de corrupção na
Petrobras”, disse Schineller, em um comunicado. “Ao mesmo tempo, a
sinalização oferecida pela política econômica mudou de maneira
expressiva, algo que não fazia parte de nosso cenário-base. Uma ampla
correção vem ocorrendo para fortalecer o compromisso fiscal e eliminar
várias distorções, entre elas os preços administrados artificialmente.”
O inevitável arrocho nas contas públicas e a alta nos juros colocarão a
economia brasileira em uma fase de retração. É o preço do ajuste. Se a
correção de rumo progredir, abre-se a perspectiva de uma retomada da
confiança empresarial e de aumento na atividade na segunda metade do
ano. Elevar o potencial de crescimento e retomar a média de 4% ao ano,
entretanto, exigirá uma nova rodada de reformas.
É o que se espera do governo, tão logo seja quitada a conta dos anos de irresponsabilidade.
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