Cientistas reproduzem anticorpo capaz de neutralizar o HIV
Pesquisadores brasileiros, em Nova York, conseguem reduzir temporariamente quase toda a carga do vírus HIV em pacientes.
A escultura representa o anticorpo 3BNC117 |
Cientistas brasileiros reproduziram em laboratório um anticorpo capaz de
neutralizar o HIV e reduzir a carga do vírus a níveis baixíssimos.
A escultura representa um anticorpo muito especial em ação. Na parte de
baixo, vê-se uma longa fita enrolada. Ela é o pedaço do vírus HIV que
ataca as células humanas e provoca a Aids. Já o pedaço de cima é o
anticorpo apelidado de 3BNC117. Na representação, ele está neutralizando
o HIV.
Michel Nussenzweig |
"Ele bloqueia o vírus, bloqueia o receptor do vírus que vê a célula
humana. Então, o vírus não consegue entrar na célula", explica Michel
Nussenzweig, cientista.
O anticorpo foi criado pelo sistema imunológico de uma pessoa soropositiva mas que não desenvolveu a Aids, um caso raríssimo.
O anticorpo foi isolado e depois clonado no laboratório do cientista
brasileiro Michel Nussenzweig, na Universidade Rockefeller, em Nova
York. O estudo, que foi publicado na quarta-feira (08.abr.2015) na
revista científica Nature, mostra que o tratamento com esse anticorpo
pode reduzir radicalmente a presença do vírus HIV no organismo.
A pesquisa foi liderada por outra cientista brasileira, Marina Caskey. O
3BNC117 foi injetado em 17 pacientes soropositivos, e 12 soronegativos.
Cada um recebeu apenas uma dose. Nos portadores de HIV, em uma semana a
quantidade de vírus no organismo caiu em até 99%. Mas o efeito não foi
duradouro. Como normalmente o corpo humano não consegue produzir esse
anticorpo o vírus gradualmente voltou.
Nas pessoas soronegativas, o objetivo foi verificar se haveria alguma reação prejudicial ao anticorpo, o que não aconteceu.
Marina Caskey |
"A gente está mostrando pela primeira vez que essa classe de drogas, que
são chamadas anticorpos que são neutralizantes, pela primeira vez a
gente está mostrando que ela tem atividade significante em pessoas que
são infectadas com HIV que ainda não estão em tratamento", afirma a
cientista Marina Caskey.
A próxima etapa da pesquisa, que começará ainda este ano, envolverá um
número maior de pacientes e várias doses do anticorpo, na esperança de
que ele eventualmente elimine o vírus HIV do organismo das pessoas
infectadas. Ainda é cedo para falar em cura, mas esse é o objetivo.
Uma conquista importante da ciência para saúde
Uma terapia com uma nova geração de anticorpos "neutralizantes", testada
pela primeira vez em humanos, conseguiu reduzir a quantidade de HIV no
sangue.
O estudo, publicado na revista científica "Nature", dá novo fôlego à imunoterapia como uma estratégica eficaz contra o HIV.
Em alguém com o vírus, há uma espécie de luta entre o HIV e o sistema
imune. Ainda que o corpo produza novos anticorpos para combater o vírus,
este está sempre em mutação para conseguir escapar dos ataques e
sobreviver.
A nova pesquisa, conduzida na Universidade Rockefeller, acaba de mostrar
que a administração de um anticorpo potente, chamado por ora de
3BNC117, pode pegar o HIV desprevenido e reduzir a carga viral do
paciente.
Outros anticorpos testados em humanos tinham mostrado resultados
decepcionantes. Este novo, no entanto, pertence a uma nova geração de
anticorpos neutralizantes que podem combater de forma potente cerca de
80% das cepas de HIV.
Anticorpos neutralizantes são produzidos naturalmente em 10% a 30% dos
pacientes com HIV, mas apenas depois de vários anos de infecção - a essa
altura, os vírus em seus corpos já evoluíram para escapar até mesmo
desses anticorpos mais potentes. Ao isolá-los e cloná-los, porém,
pesquisadores conseguiram transformá-los em agentes terapêuticos contra
as infecções por HIV que tiveram menos tempo para se preparar e se
proteger.
A dose única do anticorpo foi bem tolerada nos voluntários e se mostrou
eficaz em reduzir a carga viral - em alguns pacientes, essa ação foi
temporária e, em outros, mais duradoura.
É possível que a nova droga, ainda em teste, consiga dar um fim em vírus
que estejam escondidos em células infectadas, que servem como
reservatórios de vírus inacessíveis pelos medicamentos atuais. Também é
provável que esse anticorpo precise ser usado em combinação com outros
anticorpos ou drogas antirretrovirais para manter as infecções sob
controle.
O estudo ainda aumentou as esperanças de se criar uma vacina contra o
HIV. Se os cientistas conseguirem induzir o sistema imune de uma pessoa
sem HIV a gerar anticorpos potentes como o 3BNC117, talvez isso seja
suficiente para bloquear uma infecção de HIV antes que ela se
estabeleça.
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