Troca de e-mails entre Youssef e empreiteiro registra ‘doações’
Doleiro da Lava Jato diz que mensagens
de executivo da Queiroz Galvão confirmam parte do pagamento de R$ 7,5
milhões em 2010 para políticos por contratos na Petrobrás
E-mails trocados entre Alberto Youssef e um executivo do grupo Queiroz
Galvão são considerados para investigadores da Operação Lava Jato provas
de que a empreiteira pagou R$ 7,5 milhões de propina em forma de
doações eleitorais na campanha de 2010 em troca de contratos na
Petrobrás.
Em sua delação premiada, o doleiro confirmou os repasses e apontou que o
valor teria beneficiado candidatos do PP, entre eles o ex-ministro
Mário Negromonte (PP-BA), e o senador Valdir Raup (PMDB-RO).
“Todos os valores repassados são provenientes de vantagens indevidas
decorrentes do esquema existente na Petrobrás”, afirmou Youssef, no dia
11 de fevereiro, em delação premiada à força-tarefa da Operação Lava
Jato.
Alberto Youssef está preso desde março de 2014. |
Um dos e-mails foi enviado a Youssef no dia 30 de agosto de 2010 pelo
executivo da empreiteira Othon Zanoide de Moraes Filho – preso por cinco
dias pela Lava Jato, em 14 de novembro de 2014, na sétima fase da
operação, batizada de Juízo Final.
Nele, Moraes Filho escreveu: “PRIMO (apelido de Youssef) A seguir a
relação de recibos faltantes, desde já agradeço a ajuda”. Segue, então,
de forma numerada oito registros de valores que totalizam R$ 4 milhões.
“O e-mail se refere apenas à parcela das doações em que faltavam os
recibos, mas o total das doações oficiais foi de aproximadamente R$ 7,5
milhões de reais, todos provenientes da Queiroz Galvão”, afirmou
Youssef.
No e-mail, o executivo da Queiroz Galvão cobra os recibos dos valores
pagos a quatro políticos nominados na mensagem: Aline Corrêa,
“250.000,00”; Roberto Teixeira, “250.000,00; Nelson Meurer “500.000,00”;
e Roberto Brito “100.000,00”. Há ainda o registro de R$ 100 mil em
nome de “PP de Pernambuco”, R$ 500 mil para o “PP da Bahia”, outros R$
300 mil para “PMDB de Rondônia” e o de maior valor “R$ 2,04 milhões
destinado ao “Diretório Nacional P. Progressista”.
A lista interceptada pela Lava Jato, em março de 2014, quando Youssef
seria preso em São Luís (MA), é o registro “dos recibos faltantes”,
explicou o doleiro. “Ou seja, das pessoas que tinham recebido os valores
da Queiroz Galvão, como doação ‘oficial’, mas que ainda não haviam
enviado seus recibos para a construtora”.
Veja cópia de e-mails localizado com Alberto Youssef |
A empreiteira é uma das 16 que integravam o cartel que corrompia agentes
públicos em troca de contratos da Petrobrás. Os executivos da empresa
ainda não foram alvo de denúncia. Eles integram os pacotes de ações
penais que ainda serão apresentadas à Justiça Federal este ano.
Dias antes da cobrança dos recibos, em 17 de agosto, outro e-mail –
desta vez enviado do doleiro para o executivo – registra os dados de uma
conta bancária: “conta doação de campanha – Primo (apelido de
Youssef)”. O doleiro explicou aos investigadores da Lava Jato que na
mensagem “está repassando a conta do Diretório Nacional do PP para
pagamento pela Queiroz Galvão”.
Em outro e-mail trocado entre os dois alvos da Lava Jato, Moraes Filho
indica que “todos os recibos com exceção do Nacional serão” emitidos em
nome da Construtora Queiroz Galvão S.A. e da Vital Engenharia Ambiental
S.A. – empresa do grupo para o setor de limpeza e lixo.
O doleiro afirmou em sua delação que “com certeza” os beneficiados
sabiam que os valores recebidos em nome das duas empresas eram
provenientes do “esquema da Petrobrás”.
Segundo os processos da Lava Jato, PT, PMDB e PP controlavam um esquema
de loteamento político dos cargos estratégicos da estatal, por meio do
qual arrecadavam de 1% a 3% de propina nos contratos firmados com
empreiteiras.
Beneficiados
Em sua delação premiada, Youssef afirmou que os R$ 500 mil para o PP da
Bahia “seria destinado a Mario Negromonte”. O ex-ministro, foi uma das
lideranças do partido com participação ativa no esquema operado pelo
ex-deputado José Janene (PP-PR) – morto em 2010 e ponto de partida da
Lava Jato.
Seu irmão, Adarico Negromonte foi denunciado pela Lava Jato acusado de
ser transportador de dinheiro do doleiro Alberto Youssef. Ele chegou a
ser preso pela PF, mas acabou liberado.
O doleiro explicou também que o valor de R$ 300 mil registrado em nome
do “PMDB de Rondônia” era para Valdir Raupp. “Ainda houve um outro
repasse por meio de doação de campanha de R$ 200 mil para Valdir Raupp.
Em e-mail enviado por Youssef ao executivo da Queiróz Galvão no dia 22
de outubro de 2010, ele fornece o endereço de Nelson Meurer “para que a
construtora enviasse o documento original de doação”.
Esquema de doações
Youssef afirmou que foi ele quem indicou à Queiroz Galvão que a propina
fosse paga por meio de doações. Segundo o doleiro a construtora teria R$
37,5 milhões a pagar em propina para o esquema do PP comandado pelo
ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.
O valor seria referente aos valores que ela conseguiu em duas obras da
Petrobrás: a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo
Petroquímico do Rio (Comperj).
Apesar do montante da propina ser de R$ 37,5 milhões, o ex-diretor de
Abastecimento liberou o pagamento de R$ 7,5 milhões para ser operado
pelo doleiro.
Segundo Youssef, Moraes Filho perguntou como ele queria receber tais
valores. “Disse que poderia ser por doação oficial, se houvesse espaço.”
O doleiro afirmou que foi ele quem “indicou para a empresa os nomes dos
candidatos a serem beneficiados, a partir de indicação do líder do
Partido Progressista”. Em sua delação, ele apontou o nome do deputado
João Pizzolati. A única exceção foi o pagamento para Raupp, do PMDB.
Teria sido o ex-diretor de Abastecimento que indicou o pagamento para
Raupp. “O valor para Valdir Raupp foi inicialmente de R$ 300 mil”,
explicou o doleiro. Costa, porém, pediu que o valor fosse elevado para
R$ 500 mil deu o telefone de contato e o valor a ser disponibilizado”.
Depois de ligar para um assessora que trabalhava com Raupp, o doleiro
disse que ela foi até seu escritório, em São Paulo. Como ele não tinha
em caixa os R$ 500 mil, sugeriu que fosse feita também uma doação.
“Ela concordou e indicou o Diretório do PMDB de Rondônia para o
pagamento”, afirmou o doleiro. No e-mail em que o executivo da Queiroz
Galvão mandou para o doleiro no dia 30 de agosto, o valor registrado na
lista de recibos em atraso é referente ao acerto.
PSDB na CPI
Youssef diz que estranhou o fato de o valor que a construtora disse que
pagaria seria R$ 7,5 milhões de propina – referente ao 1% do PP. Ele diz
que questionou um dos executivos, pois o valor total era por volta R$
37,5 milhões”.
“Othon disse que Paulo Roberto Costa somente havia autorizado R$ 7,5
milhões e que, do valor total, R$ 10 milhões já teriam sido pagos para
evitar a CPI da Petrobrás”, afirmou Youssef.
Os R$ 10 milhões teria como destinatário o ex-presidente do PSDB, o
senador Sérgio Guerra (PE), morto em 2014, um dos membros da CPI. O
partido nega irregularidades, diz que recebeu apenas doações legais e
defendeu investigações sobre eventuais irregularidades.
COM A PALAVRA A DEFESA
“A Queiroz Galvão nega veementemente qualquer pagamento ilícito a
agentes públicos para obtenção de contratos ou vantagens. A companhia
informa ainda que todas as suas doações seguem rigorosamente à
legislação eleitoral”.
O senador Valdir Raupp, por meio de assessoria, também nega
irregularidades. Raupp afirma que “nunca pediu um centavo a Paulo
Roberto Costa“.
Os demais citados não foram localizados.
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