Mais uma “Pedra no Caminho” de Geraldo Alckmin
Laurence Casagrande Lourenço |
O ex-secretário de Logística e Transportes no governo Alckmin, Laurence
Casagrande Lourenço, foi preso na quinta-feira, 21.jun.2018, no âmbito
da Operação Pedra no Caminho, braço da Lava Jato em São Paulo. A
investigação mira desvios em contratos do Rodoanel Trecho Norte, cujas
obras foram iniciadas em 2013, quando Lourenço era presidente da Dersa
(Desenvolvimento Rodoviário S/A) — estatal responsável por obras
rodoviárias de São Paulo.
Atualmente, Lourenço é o presidente da Companhia Energética de São
Paulo. Ele foi secretário de Secretaria de Logística e Transportes entre
maio do ano passado e abril deste ano e chegou a presidir a Dersa entre
janeiro de 2011 e maio de 2017. Também passou pela Fundação Casa e a
Secretaria de Segurança Pública.
Segundo o Ministério Público Federal, a ‘Pedra no Caminho’ mira crimes
praticados por agentes públicos e empresários durante as obras do
Rodoanel Viário Mário Covas — Trecho Norte e envolvem a suposta prática
de corrupção, organização criminosa, fraude à licitação, crime contra a
ordem econômica e desvio de verbas públicas. As obras contaram com
recursos da União, do Governo do Estado de São Paulo e do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e foram fiscalizadas pela Dersa.
EMPURRÃO — A revelação de que Laurence Casagrande Lourenço, ex-chefão da
Dersa, meteu-se em desvios de até R$ 131 milhões nas obras do Rodoanel
empurra o tema da corrupção para dentro da campanha presidencial de
Geraldo Alckmin pela terceira vez. Guiando-se por autocritérios, o
candidato tucano considera-se um político honesto. Não se cansa de
mencionar sua vida modesta. Mas a reiteração dos escândalos suscita uma
incômoda indagação: para que serve a honestidade de Alckmin?
Qualquer um pode testemunhar o conceito extraordinário que faz de si
mesmo. Contudo, sem prejuízo do direito de Alckmin ao autoelogio, o que
sobra no final da trajetória de um administrador público são os fatos. E
os fatos transformam a probidade presumida de Alckmin num asterisco que
ajuda a compreender como o Brasil virou uma cleptocracia. A principal
marca da perversão nacional é uma administração pública corrupta
comandada por pessoas presunçosas.
Acumula-se na porta do comitê eleitoral de Alckmin um monturo que vai
ganhando a perigosa aparência de um lixão. Admitindo-se que Siemens,
Alston e Paulo Preto sejam pendências compartilhadas com outros tucanos,
sobram duas goteiras que supostamente pingaram verbas sujas em arcas
clandestinas de campanhas de Alckmin: R$ 10,3 milhões da Odebrecht e R$ 5
milhões da CCR. Nos dois casos, aparece como coletor Adhemar Ribeiro,
cunhado de Alckmin.
De repente, a Procuradoria arrasta para o centro do palco Laurence
Casagrande Lourenço. Não é um personagem qualquer. Sob Alckmin, o preso
foi escalado justamente para averiguar denúncias de corrupção na Dersa, a
estatal que cuida de Rodovias em São Paulo — denúncias contra Paulo
Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador de propinas do
tucanato paulista.
Até ontem, Alckmin jactava-se de ter sido o primeiro a investigar Paulo
Preto. Agora, precisa explicar por que não notou que Laurence, seu
investigador, era, ele próprio, um caso de polícia.
Laurence entrou e saiu da Dersa na gestão de Alckmin. Transitou por
cargos relevantes como o de secretário de Logística e Transportes. Um
mês antes de o governador trocar o Palácio dos Bandeirantes pelo
palanque, passou a responder pela Companhia Energética de São Paulo,
onde se encontrava até ser preso.
Alckmin declarou-se “surpreso” com as novidades descobertas sobre
Laurence. Defende a investigação. Mas continua boiando no ar a pergunta:
para que serve a honestidade de um gestor público se essa qualidade
precisa ser puxada pelos cabelos para não se afogar no lodo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário