quinta-feira, 21 de junho de 2018



CPI com intuito de detonar a Operação Lava Jato



Com rapidez, o PT obteve na Câmara 190 assinaturas para convocar uma CPI sobre as delações da Lava Jato. Ao perceber que a iniciativa pegou mal, parte dos signatários correu para realizar a façanha de desistir da convocação da CPI.
Pelo regimento, a desconvocação da CPI só poderá ocorrer se pelo menos 96 apoiadores formalizarem um pedido de desistência. No final da noite de terça-feira (19.jun.2018), já haviam 63 rubricas desistentes. Faltavam 33 assinaturas para formalizar o pedido desconvocação da CPI.
O pedido de CPI foi protocolado na Mesa diretora da Câmara, em 30 de maio, pelo líder do PT, Paulo Pimenta (RS). Muitos deputados alegam ter assinado sem ler. Dizem ter corrido os olhos apenas sobre a “ementa” — um texto curto, que resume o requerimento. Pareceu-lhes inofensivo.
A ementa anota que o objetivo da CPI seria “investigar denúncias de irregularidades feitas contra Antonio Figueiredo Basto e outros, inclusive envolvendo escritório de advocacia, ocorridos no âmbito de alguns processos de delação.” Especialista em delações, o advogado Figueiredo Basto foi acusado de vender proteção a doleiros por US$ 50 mil mensais. Ele negou.
O problema é que o texto da justificativa do pedido de CPI foi modificado. Do modo como foi escrito, deu margem à interpretação de que o objetivo da comissão parlamentar seria o de inviabilizar a Lava Jato. Disponível aqui, o texto que deu asas à suspeição anota a certa altura:
“O objeto da CPI deverá estender-se, por conexão, para ocorrência de irregularidades em sede de outras investigações, que estejam em desacordo com o quanto firmado na legislação de referência e na defesa do sistema de proteção de direitos e garantias insculpidas na Constituição Federal …”.
Como nem todo mundo deseja bulir com a Lava Jato, a CPI converteu-se numa iniciativa natimorta. “A Câmara não tem nem mesmo a prerrogativa de encerrar uma operação conduzida por outro Poder, no caso o Judiciário. Então, para evitar banalizações e interpretações equivocadas, decidimos reunir assinaturas para o requerimento de desistência da CPI”, disse um deputado.
Quatro dezenas de deputados encaminharam à direção da Câmara pedidos individuais de desistência. Foram informados de que o regimento interno da Casa exige a apresentação de um requerimento coletivo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou em diálogos privados a intenção de arquivar o pedido de CPI por conta própria.
Maia alegaria que o requerimento não circunscreve a investigação parlamentar a um fato determinado, como exige a Constituição. Mas os deputados rogaram ao presidente da Câmara que não agisse sozinho. “Sabemos que essa CPI está morta, não vai prosperar”, disse outro deputado. “Mas precisamos cumprir o nosso papel político”, acrescentou. 
Em tempos de eleição, os políticos estão muito em evidência. Devem pelo menos tomar cuidado com as impressões digitais. A vida ensina que seriedade quando perdida não dá em segunda safra. Melhor não mexer com a Lava Jato.



PS:O deputado federal Luis Carlos Heinze pré-candidato do Partido Progressista (PP) a governador do Rio Grande do Sul foi um dos que assinou para convocar a CPI sobre as delações da Lava Jato, mas, posteriormente, pediu para que seu nome fosse retirado da lista de apoiadores.









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