domingo, 29 de outubro de 2017

Para Gustavo Franco era para o PSDB
ter feito o que cobrou do PT



Gustavo Franco


O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, que deixou o PSDB há um mês, diz que ele e outros economistas ligados aos tucanos estavam desgostosos com a sigla havia um tempo. O partido tinha adotado um “discurso ambíguo" em relação à defesa da economia de mercado.
O cenário piorou neste ano, quando o PSDB não soube lidar com dilemas éticos. Preservou o senador Aécio Neves na presidência, enquanto é alvo de acusações.
Franco é estrategista-chefe e presidente do conselho de administração da gestora Rio Bravo Investimentos. Foi presidente do Banco Central (1997-1999), no governo FHC. Participou da formulação do Plano Real. Recentemente, se filiou ao Partido Novo. Formação — é bacharel (1979) e mestre (1982) em economia pela PUC do Rio e doutor pela Universidade Harvard (1986).
Gustavo Franco diz não pretende se candidatar na próxima eleição — “Tanto que fui para um cargo de direção e, pelas normas do partido, quem está nesses cargos está impedido de concorrer”.
Franco escreveu uma carta a para explicar a desfiliação — porque deixou o PSDB — segundo ele:
“As razões estavam todas ali, bem explicadas. No detalhe, há uma questão antiga de como o partido de denominação social-democrata se torna mais contemporâneo. Mais em sintonia com os temas de uma economia de mercado que o Brasil precisa se tornar. O PSDB sempre praticou isso quando foi governo federal, embora tivesse um certo incômodo com essa prática e um discurso um tanto ambíguo. É uma questão antiga.
Ficou mais desconfortável depois da Presidência do Fernando Henrique, quando sucessores dele no partido, os candidatos [José] Serra [senador], Geraldo [Alckmin, governador de São Paulo] e mesmo o Aécio, não tinham a mesma capacidade que Fernando Henrique de, vamos dizer, ter uma prática diferente da herança social-democrática da geração 1988, que marcava muito a origem do PSDB.
Isso criava desconforto para mim e muitos outros economistas do partido, mas era muito mais teórico do que real, sobretudo se o partido está fora do governo. Mas depois apareceu a questão específica do Aécio e sobre como o partido deveria se comportar diante de uma dúvida ética.
A questão do Aécio pesou, sim. Como gesto político, podia ter se afastado para montar a sua defesa. Mas ficar presidente do partido com todas essas dúvidas, para dizer o mínimo, é difícil. Aí houve uma questão imediata: era para fazer o que, no passado, cobramos do PT.
Mas eu sou apenas um professor universitário. Como filiado de muitos anos, mandei minha carta, com meus pensamentos. Não aconteceu nada. Procurei outro partido, onde estou muito confortável e muito feliz.”




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