A ex-candidata a presidente Marina
Silva afirmou que governo levou o país ao ‘período pré-industrial’ e que
plano de concessões é ‘medida sobre leite derramado’
Marina Silva |
Ex-candidata à Presidência da República pelo PSB, Marina Silva fez na
terça-feira (09.jun.2015) severas críticas à presidente Dilma Rousseff e
afirmou que o governo levou o país de volta “ao período
pré-industrial”. Em um evento sobre meio ambiente na Câmara Municipal de
São Paulo, Marina criticou a condução do ajuste econômico feita pelo
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e afirmou que os cortes são mais
profundos porque o governo “perdeu a credibilidade”. Marina ainda
considerou “medidas sobre o leite derramado” o Plano de Concessões de
Obras anunciado pelo governo federal.
— O que está acontecendo é muito grave. Nós estamos vendo milhares e
milhares de postos de trabalho desaparecerem da noite para o dia, a
população está ficando cada vez mais endividada, quando vai ao
supermercado o salário está ficando cada vez menor em função da
inflação. Esse é o momento de reconhecer a gravidade dos problemas e
recuperar credibilidade — disse Marina, em entrevista coletiva.
Questionada sobre a profundidade e o foco dos cortes no Orçamento
promovidos pelo ministro Levy, Marina disse que o governo espera que a
população faça todo o sacrifício sozinha:
— O ajuste é feito de uma forma muito mais amarga em função da falta de
credibilidade. Como não há autocrítica sendo feita e o governo pede para
que a sociedade faça sacrifícios, fica muito difícil que os sacrifícios
sejam feitos por quem menos pode. Exatamente nesse momento quem paga o
maior preço é quem não tem como pagá-lo sozinho. O governo continua com
39 ministérios, com mais de 20 mil cargos em comissão, sem reconhecer os
erros que cometeu para poder ganhar uma eleição — disse ela.
A ex-candidata, que, quando estava no PT foi senadora pelo partido no
Acre e ministra do governo Lula, criticou ainda as Medidas Provisórias
(MPs) que dificultam o acesso aos direitos trabalhistas:
— No momento em que a população mais precisa de seguro-desemprego porque
está ficando desempregada, são criadas barreiras para o acesso ao
seguro-desemprego. No momento em que a sociedade precisa ser treinada
para ter a esperança de um novo posto de trabalho, estão reduzindo os
recursos do Pronatec pela metade. Há uma contradição muito grande entre
as necessidades reais do país e aquilo que está sendo feito.
Marina demonstrou ceticismo em relação ao sucesso do Plano de Concessões
de Obras, anunciado pelo governo federal, dizendo que "são medidas
tomadas sobre o leite derramado". E criticou o desejo da presidente
Dilma de criar mecanismos para agilizar o licenciamento ambiental das
obras:
— Dilma disse que quer uma legislação para simplificar o licenciamento. O
problema não é o meio ambiente, nós somos o eterno bode expiatório. O
gestor público não acelera nem dificulta nada, ele cumpre regimentos de
forma republicana — disse Marina durante sua palestra, lembrando que foi
apelidada de "ministra dos bagres" durante a polêmica do licenciamento
ambiental das usinas hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia.
Financiamento de Campanha
Marina Silva fez críticas indiretas à aprovação do financiamento
empresarial de campanha pela Câmara dos Deputados, em votação
capitaneada pelo presidente Eduardo Cunha. Segundo Marina, seu partido, a
Rede Sustentabilidade, cujo registro espera decisão judicial, defende
financiamento público com a possibilidade de doações de pessoas físicas
até um certo limite.
— A ideia é ter muitos contribuindo com pouco, para diluir as doações.
Assim não fulaniza as contribuições — afirmou Marina, que já adotou
sistema de doação de pessoa física online com resultados bastante
modestos durante suas duas campanhas eleitorais.
Agora, a ideia é ter um fundo partidário voluntário para a Rede, que,
por mudanças na lei eleitoral, não terá acesso ao fundo partidário
público. Segundo ela, para funcionar, o modelo pode demorar muitos anos
porque precisa de uma mudança de educação política da população:
— Infelizmente há um descolamento das pessoas em relação aos políticos e
partidos. E a sociedade não tem motivos para dizer “eu vou contribuir”
porque não há mais discussões de ideias entre partidos, é discussão de
tempo de TV, marqueteiro — disse Marina.
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