O ‘senadorzeco’ Renan Calheiros
Renan Calheiros |
Tido como um político calculista, Renan Calheiros passou a viver
perigosamente. Enrolado em oito inquéritos da Lava Jato, o senador
forneceu a colegas que também enfrentam apuros penais um serviço de
desmonte de grampos e escutas ambientais. Fez isso deformando o
papel da Polícia do Senado. E espetou a conta no bolso do
contribuinte. Apanhado em suas exorbitâncias, Renan resolveu dar
aula de democracia.
Ensinou que “a submissão ao modelo democrático não implica em
comportamentos passivos diante de excessos cometidos por outros
poderes”. Numa apoteose do ilógico político que caracteriza a
inconsequência reinante no Congresso, Renan explicou: “um juizeco de
primeira instância não pode, a qualquer momento, atentar contra um
poder”. Um “chefete de polícia” travestido de ministro da Justiça
não deve prestigiar uma Polícia Federal que cumpre ordem judicial
que desconsidera a invulnerabilidade do Senado.
Todos estranharam o comportamento de Renan. Até os seus amigos mais
próximos acham que ele perdeu a bússola que o fazia antecipar
racionalmente os resultados de suas ações. Perdido, o mandarim do
Congresso exercitou o seu direito de escolher o próprio caminho para
o inferno. Com atraso, Renan descobriu que o Supremo Tribunal
Federal (STF) tirou da gaveta, depois de três anos, uma denúncia em
que Renan é acusado de bancar as despesas de uma filha que teve fora
do casamento com dinheiro da empreiteira Mendes Júnior. O STF, agora
presidido por Cármen Lúcia, definirá nos próximos dias a data de
julgamento da denúncia longeva. O Brasil pode estar mudando, a nova
presidente do Supremo trata Renan como um ‘senadorzeco’ qualquer.
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