Governo estima que receita extra com repatriação supere R$ 60 bilhões — maior que o PIB de 55 países
A equipe econômica avalia que o programa de repatriação vai injetar
dinheiro novo na economia brasileira e impulsionar a retomada do
crescimento do País, além de melhorar as contas públicas. Pela evolução
dos últimos dias da adesão ao programa, o Ministério da Fazenda
considera que a arrecadação com multa e impostos vai ultrapassar R$ 60
bilhões — cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) — com o volume de
dinheiro regularizado podendo chegar a mais de R$ 200 bilhões — 75%
ficam nos cofres federais e 25% são distribuídos para Estados e
municípios.
Como esse dinheiro não foi declarado à Receita, não podia antes retornar
ao País. Com a regularização, o caminho de volta fica aberto. A
expectativa do governo é de que muitas empresas em dificuldade por conta
da crise econômica, que têm dinheiro lá fora, vão acabar retornando com
parte dele para o País. Pessoas físicas também devem aproveitar para
canalizar os investimentos para o Brasil, onde os juros estão mais
elevados e a rentabilidade é maior.
“O mais provável é que boa parte desses recursos venha para o Brasil”,
disse um integrante da equipe econômica. Do ponto de vista fiscal, a
avaliação é de que a repatriação já está ajudando a distender as
preocupações em relação ao cumprimento da meta fiscal deste ano,
fortalecendo o cenário para 2017. Para o governo, o Brasil já está se
beneficiando da diminuição dessas incertezas, com o aumento da
confiança. “Ninguém mais pergunta se a meta vai ser cumprida”, disse a
fonte do Ministério da Fazenda. Para o governo, o mais importante é que
essa é uma poupança que estava lá fora e poderá vir para o País. “Não é
nada desprezível o efeito positivo disso”, acrescentou.
Adesão — Pelos últimos dados oficiais da Receita, a arrecadação da
repatriação com a cobrança do Imposto de Renda e multas já soma R$ 45,78
bilhões, totalizando R$ 152,6 bilhões de ativos regularizados. Os
números mostram que 21.676 pessoas físicas e 70 empresas fizeram a
declaração. O prazo final para adesão ao programa é no próximo dia
31.out.2016. Após essa data, o Banco Central terá condições de mapear
quanto de dólares já entrou no Brasil para o pagamento de multa e IR.
Já se sabe que muitos contribuintes estão trazendo parte dinheiro do
exterior para pagar parte da multa e do IR. Depois, com os ativos
regularizados, poderão, aos poucos, retornar com todo o dinheiro para o
País.
Dinheiro dá fôlego ao governo — A área econômica já começou a discutir o
que será feito com o dinheiro da repatriação. A tendência é de que a
maior parte seja usada para o pagamento dos restos a pagar — despesas do
Orçamento já assumidas e transferidas de um ano para o outro. Essa é
uma alternativa que ajuda a “limpar” e dar maior transparência ao
Orçamento de 2017, o primeiro de fato do governo Michel Temer. Outra
alternativa é diminuir o déficit previsto para 2016, de R$ 170,5
bilhões.
O volume elevado dos restos a pagar sempre tem sido um problema fiscal,
porque essas despesas acabam se transformando num “orçamento paralelo”.
“Os restos a pagar são uma dívida, que de uma maneira ou de outra, são
um passivo que precisa ser pago”, disse um integrante da equipe
econômica.
A secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, justificou a disposição do
governo em usar os recursos para a quitação de restos a pagar. “O
estoque de dívidas de curto prazo deixados nos últimos anos foi muito
grande”, disse. Mas o governo lembra que, mesmo com esses pagamentos, as
despesas de 2017 não poderão crescer, porque o teto do gasto para o ano
que vem já foi fixado no projeto de lei orçamentária.
Receita extra do governo supera PIB de outros países — O montante
arrecadado pelo governo brasileiro com a lei da repatriação de recursos
já é maior que o PIB de 55 países. A cifra é equivalente ao PIB da
Nicarágua em 2015, por exemplo.
Segundo dados do Banco Mundial, o montante também supera a soma de todos
os bens e serviços produzidos em outras 54 nações no ano passado.
Representa, ainda, 46% do PIB paraguaio e 38,5%, do boliviano.
O Planalto acredita em uma enxurrada de novas adesões até a próxima
segunda-feira (31.out.2016), quando termina o prazo. Para atender à
demanda, o Banco Central estendeu das 19 horas para as 23 horas o
horário para registrar operações de câmbio. O novo horário vale até o
dia 31.
No gráfico a seguir, há uma comparação, utilizando a cotação do dólar do
fim do dia 26.out.2016 para mostrar o PIB de alguns países:
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