terça-feira, 2 de setembro de 2014


Novos produtos de higiene íntima prometem eliminar odores 
e até prevenir DSTs


Uma olhada rápida no setor de higiene pessoal é suficiente para notar que a oferta de produtos para a região íntima e para o sexo só cresce. A dúvida, entretanto, é se eles de fato são necessários – para a saúde e o prazer.
Em visita a farmácias, a reportagem encontrou mais de 30 tipos de produtos para a higiene íntima, como sabonetes e lenços umedecidos. E eles estão cada vez mais especializados: há aqueles voltados para adolescentes, os que apelam para a neutralização total de odores e até os que dizem prevenir doenças sexualmente transmissíveis.
Há duas semanas, chegou ao país o Sex Wipes (lenços para o sexo). O produto, para ser usado por homens e mulheres antes e depois das relações sexuais, promete equilibrar o pH da genitália e proteger as mucosas de agentes causadores de doenças, mas o benefício é contestado por especialistas.
A fabricante não divulga quais ingredientes teriam esse poder, e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) só registra o produto para fins de higienização.
Já na Econoforma 2014, feira voltada para o varejo farmacêutico nacional que ocorreu no fim de agosto, a ducha higiênica portátil In-M foi lançada. O produto, destinado à limpeza do reto ou da vagina para exames, segundo a empresa, também tem a indicação de uso depois do ato sexual para prevenção de infecções urinárias e para a limpeza do reto – o que evitaria infecções em relações heterossexuais e homossexuais.
"A procura por esses produtos está aumentando e tem muito a ver com as mudanças no estilo de vida da mulher. Hoje ela trabalha o dia inteiro, tem mais parceiros sexuais e muitas vezes não tem tempo para se arrumar antes do encontro", diz Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP.
O sabonete para a região íntima feminina ainda é o campeão de vendas do setor. A linha Dermacyd, sabonete íntimo que detém 60% desse mercado, lançou quase um produto diferente da linha por ano nos últimos seis anos e teve um crescimento de 11% no ano passado.
De fato, a maior parte dos produtos é voltada para as mulheres – e a explicação é biológica e também cultural.
"A vagina é úmida e quente, o que a propicia para infecções", diz Luciano Pompei, ginecologista e professor-assistente da Faculdade de Medicina do ABC.
Já Carmita Abdo, lembra que mulheres e homens veem genitais de formas diferentes.
"Enquanto o homem pensa mais no tamanho e na performance, a mulher se preocupa principalmente com a limpeza e a aparência", diz. Segundo ela, a tendência de depilação total está alinhada a essa preocupação maior com a higienização.

USAR OU NÃO?
Fazer uma higiene depois do sexo faz sentido, já que a relação sexual altera a flora vaginal, pela fricção em si e também pelo contato com o sêmen.
"O sêmen é alcalino e a vagina é ácida. Essa diferença pode causar alterações na mucosa e facilitar a proliferação de micro-organismos nocivos", diz Pompei.
A dúvida, entretanto, é se esses produtos específicos são realmente imprescindíveis ou se só a água sozinha já daria conta do recado.
Para sanar as dúvidas, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) lançou um guia para a limpeza íntima feminina para especialistas. Nele, há indicação para o uso de produtos que removem resíduos que não seriam retirados somente com água.
A lista de produtos permitidos inclui sabonetes neutros e os específicos para limpeza íntima. Há uma ressalva, porém, aos sabonetes comuns, que levam a uma "secura" excessiva da região. Lenços umedecidos podem ser usados, mas, em excesso, podem agredir a mucosa.
A higienização, segundo o guia, não deve ser feita internamente. E há uma recomendação para a frequência: uma a três vezes por dia em clima quente e apenas uma limpeza diária no frio. O guia também lembra que a higienização não é para "esterilizar", mas para remover partículas sólidas e melhorar a flora.

CONTRA DOENÇAS
Nenhum desses produtos, entretanto, deve ser usado para prevenir doenças. Sabonetes em geral só evitam as doenças que aparecem na ausência de higiene, como o câncer de pênis e vulva.
"A prevenção de doenças sexualmente transmissíveis é feita com preservativos. Em caso de infecções, é preciso buscar tratamento ", diz Newton Eduardo Busso, professor de ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
A ginecologista Paula Fettback diz que a higiene antes e depois do sexo pode prevenir alterações da vagina que provocam corrimento ou infecções urinárias de repetição. Nenhum estudo comprovou essa relação direta.
Já o uso da ducha no pós-sexo é controversa, e médicos, em geral, não recomendam o uso porque ela pode acabar com a flora natural.
Afora a higiene, eliminar ou não o odor é uma questão cultural que, para especialistas, deve ser superada. "O odor natural pode ser atraente para o parceiro e, se não é desagradável, não deve ser combatido", diz Carmita.

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