Novos produtos de higiene íntima prometem eliminar odores
e até prevenir DSTs
Uma olhada rápida no setor de higiene pessoal é suficiente para notar
que a oferta de produtos para a região íntima e para o sexo só cresce. A
dúvida, entretanto, é se eles de fato são necessários – para a saúde e o
prazer.
Em visita a farmácias, a reportagem encontrou mais de 30 tipos de
produtos para a higiene íntima, como sabonetes e lenços umedecidos. E
eles estão cada vez mais especializados: há aqueles voltados para
adolescentes, os que apelam para a neutralização total de odores e até
os que dizem prevenir doenças sexualmente transmissíveis.
Há duas semanas, chegou ao país o Sex Wipes (lenços para o sexo). O
produto, para ser usado por homens e mulheres antes e depois das
relações sexuais, promete equilibrar o pH da genitália e proteger as
mucosas de agentes causadores de doenças, mas o benefício é contestado
por especialistas.
A fabricante não divulga quais ingredientes teriam esse poder, e a
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) só registra o produto
para fins de higienização.
Já na Econoforma 2014, feira voltada para o varejo farmacêutico nacional
que ocorreu no fim de agosto, a ducha higiênica portátil In-M foi
lançada. O produto, destinado à limpeza do reto ou da vagina para
exames, segundo a empresa, também tem a indicação de uso depois do ato
sexual para prevenção de infecções urinárias e para a limpeza do reto – o
que evitaria infecções em relações heterossexuais e homossexuais.
"A procura por esses produtos está aumentando e tem muito a ver com as
mudanças no estilo de vida da mulher. Hoje ela trabalha o dia inteiro,
tem mais parceiros sexuais e muitas vezes não tem tempo para se arrumar
antes do encontro", diz Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do
Programa de Estudos em Sexualidade da USP.
O sabonete para a região íntima feminina ainda é o campeão de vendas do
setor. A linha Dermacyd, sabonete íntimo que detém 60% desse mercado,
lançou quase um produto diferente da linha por ano nos últimos seis anos
e teve um crescimento de 11% no ano passado.
De fato, a maior parte dos produtos é voltada para as mulheres – e a explicação é biológica e também cultural.
"A vagina é úmida e quente, o que a propicia para infecções", diz
Luciano Pompei, ginecologista e professor-assistente da Faculdade de
Medicina do ABC.
Já Carmita Abdo, lembra que mulheres e homens veem genitais de formas diferentes.
"Enquanto o homem pensa mais no tamanho e na performance, a mulher se
preocupa principalmente com a limpeza e a aparência", diz. Segundo ela, a
tendência de depilação total está alinhada a essa preocupação maior com
a higienização.
USAR OU NÃO?
Fazer uma higiene depois do sexo faz sentido, já que a relação sexual
altera a flora vaginal, pela fricção em si e também pelo contato com o
sêmen.
"O sêmen é alcalino e a vagina é ácida. Essa diferença pode causar
alterações na mucosa e facilitar a proliferação de micro-organismos
nocivos", diz Pompei.
A dúvida, entretanto, é se esses produtos específicos são realmente
imprescindíveis ou se só a água sozinha já daria conta do recado.
Para sanar as dúvidas, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações
de Ginecologia e Obstetrícia) lançou um guia para a limpeza íntima
feminina para especialistas. Nele, há indicação para o uso de produtos
que removem resíduos que não seriam retirados somente com água.
A lista de produtos permitidos inclui sabonetes neutros e os específicos
para limpeza íntima. Há uma ressalva, porém, aos sabonetes comuns, que
levam a uma "secura" excessiva da região. Lenços umedecidos podem ser
usados, mas, em excesso, podem agredir a mucosa.
A higienização, segundo o guia, não deve ser feita internamente. E há
uma recomendação para a frequência: uma a três vezes por dia em clima
quente e apenas uma limpeza diária no frio. O guia também lembra que a
higienização não é para "esterilizar", mas para remover partículas
sólidas e melhorar a flora.
CONTRA DOENÇAS
Nenhum desses produtos, entretanto, deve ser usado para prevenir
doenças. Sabonetes em geral só evitam as doenças que aparecem na
ausência de higiene, como o câncer de pênis e vulva.
"A prevenção de doenças sexualmente transmissíveis é feita com
preservativos. Em caso de infecções, é preciso buscar tratamento ", diz
Newton Eduardo Busso, professor de ginecologia da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo.
A ginecologista Paula Fettback diz que a higiene antes e depois do sexo
pode prevenir alterações da vagina que provocam corrimento ou infecções
urinárias de repetição. Nenhum estudo comprovou essa relação direta.
Já o uso da ducha no pós-sexo é controversa, e médicos, em geral, não
recomendam o uso porque ela pode acabar com a flora natural.
Afora a higiene, eliminar ou não o odor é uma questão cultural que, para
especialistas, deve ser superada. "O odor natural pode ser atraente
para o parceiro e, se não é desagradável, não deve ser combatido", diz
Carmita.
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