Crescimento medíocre desfez o encanto em torno da infalibilidade de Paulo Guedes
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes - economia em crise |
Desde a campanha eleitoral, a equipe econômica, comandada por Paulo
Guedes, era considerada um dos maiores ativos que Jair Bolsonaro tinha a
oferecer como garantia de qualidade para o seu governo. Pouco mais de
um ano depois, o governo Bolsonaro entregou um crescimento pífio para o
PIB de 2019 (1,1%), a cotação do dólar está na estratosfera (R$ 4,63) e
os efeitos do novo coronavírus sobre a economia do mundo têm derretido a
Bolsa de Valores (perdeu a marca dos 100 mil pontos) e ameaçam o
desempenho do Brasil em 2020.
Nesse período tão curto, o antes inquestionável Paulo Guedes passou a
conviver com críticas ao seu desempenho à frente do Ministério da
Economia e, em rodas de empresários governistas foi deflagrado o debate
se a estratégia adotada pelo ministro é a melhor para garantir a
retomada do crescimento.
Um cenário como esse era inimaginável, mas é fruto de uma conjunção
simultânea de uma série de problemas que afetam o País. O primeiro ponto
é que a economia brasileira não saiu do lugar em 2019. Pior: o
crescimento do PIB do primeiro ano de governo Bolsonaro foi inferior aos
dois anos anteriores (do governo de Michel Temer).
Num governo tão ideológico quanto o de Bolsonaro, ser comparado em
condição de inferioridade com uma administração tão desgastada quanto a
de Temer é o equivalente a perder a disputa de um título no futebol.
Além disso, como as expectativas pela chegada de Guedes e sua política
“realmente liberal” foram colocadas nas alturas, um resultado de
crescimento medíocre desfez o encanto em torno da infalibilidade do
ministro.
Até porque os próprios governistas alimentaram previsões superotimistas
em relação ao crescimento de 2019, calculando em pelo menos 2,5% a
aposta para o PIB do primeiro ano. É verdade que essas estimativas foram
se reduzindo com o passar dos meses e com o acúmulo de dificuldades.
Mas Bolsonaro ainda viu o Congresso aprovar propostas importantes, como a
reforma da Previdência e a MP da Liberdade Econômica, por exemplo.
Mesmo assim, o número foi mais acanhado do que se esperava.
O efeito da epidemia do novo coronavírus caiu como uma bomba na economia
mundial e saiu derrubando produtividade e mercados. Claro que seus
efeitos chegaram ao Brasil. A Bolsa teve quedas pesadas e seguidas e as
previsões otimistas para o crescimento deste ano foram revisadas para
baixo. E já há o risco real de Bolsonaro ter dois anos seguidos de PIB
baixo, sem conseguir alcançar nem 2%.
Esse quadro, sem dúvida, coloca a equipe econômica submetida ao seu
maior teste até agora. Guedes precisa encontrar uma fórmula que garanta
um crescimento mais robusto. Já o presidente do Banco Central, Roberto
Campos Neto, precisa descobrir um meio de domar a disparada da cotação
do dólar. E ainda segue em marcha lenta o trabalho de geração de
empregos, que desapareceram a partir do ruinoso segunda mandato de Dilma
Rousseff.
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