Planalto teme risco de nova recessão
As notícias de que há risco de a economia desandar e o receio de que
manifestações do próximo domingo (15.mar.2020) sejam esvaziadas levaram o
presidente Jair Bolsonaro a, mais uma vez, defender os atos programados
para 15 de março. As falas do presidente, de que está com “uma faca no
pescoço”, e do general Augusto Heleno, de que há uma “resistência muito
grande ao Brasil estar dando certo” e de que há uma “rede de corrupção”,
foram vistas por analistas como uma “vacina” diante do que está por vir
–– um cenário em que a economia mundial pode caminhar para uma
recessão devido aos impactos do novo coronavírus levando o Brasil junto
e, consequentemente, derrubando os preços dos ativos.
As declarações foram feitas em Boa Vista, numa escala do voo
presidencial em Roraima, antes de seguir para os Estados Unidos, onde
Bolsonaro cumpre intensa agenda. O presidente defendeu os atos, dizendo
que não são contra o Congresso e nem contra o Judiciário, mas, sim,
pró-Brasil. Acrescentou que quem tem medo de rua não serve para ser
político. Criticou “pessoas” que não pensam no Brasil, só nelas.
Entretanto, não deu nomes. A fala fez aumentar a tensão entre os
poderes, porque, nas redes sociais, muitos apoiadores se referem ao
movimento de 15 de março como algo contra o Legislativo e contra o
Judiciário.
Reações –– Os congressistas, porém, não pensam em colocar mais
combustível no tanque da crise política. A expectativa é de que reações
políticas contra o governo virão apenas depois de 15 de março. Os
congressistas querem esperar para ver o tamanho da manifestação e como a
economia e os investidores se comportam. Até aqui, o chamamento aos
atos de rua ao longo de 2019 gerou mais instabilidade por colocar
gasolina no reservatório da crise econômica. O PIB do ano passado
cresceu 1,1%, taxa menor do que a de 2018 e de 2017, ambas de 1,3%.
O prometido investimento não veio em larga escala, como previa o governo
assim que assumiu. Ao contrário, está deixando o Brasil. O encontro
entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, neste final de
semana, é visto com esperança para tentar segurar os números e animar o
mercado por aqui. Mas, entre os investidores, há a certeza de que a
calmaria da política seria a saída para evitar dias piores. Até aqui,
esse céu de brigadeiro não veio.
As estimativas de crescimento da economia neste ano continuam sendo
revisadas para baixo e alguns analistas já começam a falar em retração
do PIB do primeiro trimestre. O maior banco privado do país, o Itaú
Unibanco, por exemplo, reduziu de 2,2% para 1,8% a expectativa de
crescimento da economia em 2020 e elevou as apostas para novos cortes na
taxa de juros básica, a Selic, para 3,75% até o fim do ano, como forma
de o Banco Central (BC) dar mais estímulo à economia.
Interlocutores do presidente do BC, Roberto Campos Neto, contam que têm
notado uma inquietação nada habitual nele, que está encurralado entre o
dilema da necessidade de cortar juros e de intervir no mercado para
conter a forte alta do dólar. O real tem apanhando e acumulado forte
desvalorização neste ano diante do dólar, que está cada vez mais perto
de R$ 5, cotação proibitiva até para patroa poder continuar indo à
Disney –– conforme ironizam economistas sobre as palavras de Paulo
Guedes.
No entanto, analistas estrangeiros têm feito projeções piores do que as
do Itaú para o Brasil, com alta de 1,3% neste ano, como é o caso da
britânica Capital Economics, que já prevê uma desaceleração da China,
onde o foco do coronavírus começou, de 5% para 2%. Se essa projeção se
confirmar, será um baque e tanto na economia global.
Analistas estrangeiros têm dito que o mundo caminha para uma recessão e
o Brasil pode repetir o desastre do governo de Dilma Roussef. Uma
recessão seria dramática para os interesses do governo.
A expectativa é de que, nesta semana, as novas projeções já falem sobre uma recessão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário