segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Líder, tucano de 33 anos explora rejeição de governador
e apoia Bolsonaro no Rio Grande do Sul
Ex-prefeito de Pelotas, Eduardo Leite foi o mais votado no primeiro turno, com 36%



O tucano Eduardo Leite, durante ato de campanha no Rio Grande do Sul


Líder no primeiro turno da eleição no quinto estado mais populoso do país, o tucano Eduardo Leite, se eleito, terá que lidar com uma Assembleia Legislativa formada quase toda por deputados mais velhos do que ele.
Ex-prefeito de Pelotas, terceira maior cidade gaúcha, Leite, 33 anos, desponta na política do Rio Grande do Sul se intitulando como “o novo” em um cenário de forte desgaste de lideranças tradicionais e de rejeição aos partidos de esquerda.
Em pesquisa Ibope divulgada em 17.out.2018, o tucano apareceu na frente, com 59% dos votos válidos contra 41% do adversário, José Ivo Sartori (MDB).
Sem um padrinho político ou um mentor destacado, Leite destoa dos jovens políticos por não ser de família de expressão nessa área — o pai é advogado e apenas concorreu a prefeito uma vez.
O tucano, filiado ao partido desde os 16 anos, estreou na política ainda como estudante de direito, ao concorrer a vereador em 2004, e foi nomeado para ocupar cargos na prefeitura de sua cidade em gestões do PPS e PP. Eleito para a Câmara Municipal em 2008, conseguiu quatro anos depois reunir partidos ao seu redor para se lançar à prefeitura, aos 27 anos. Venceu após disputa com um candidato do PT em segundo turno.
A popularidade em Pelotas, que garantiu a eleição de sua ex-vice em primeiro turno há dois anos, pavimentou o caminho para o lançamento da candidatura ao governo.
Antes disso, o PSDB teve que romper com o governador, que apoiava desde a campanha eleitoral de 2014. No fim do ano passado, anunciou que entregaria os cargos, como a secretaria de Energia.
Foi preciso ainda solucionar um racha interno no diretório regional, que chegou a ser alvo de intervenção nacional, em 2015. Leite saiu fortalecido da crise e se tornou presidente estadual da legenda no ano pré-eleitoral.
Agora na campanha, ele tenta se diferenciar dos antigos aliados do MDB criticando a “falta de agilidade” do adversário e tenta demonstrar certa distância da política tradicional. “Não é esse papo de esquerda e de direita que vai melhorar a sua vida”, disse, na TV.
Embora defenda um “governo menor, que não atrapalhe”, se comprometeu na campanha a não privatizar a estatal de saneamento nem o Banrisul, um dos últimos bancos estaduais do país.
Adversários questionam sua experiência para administrar um dos estados mais endividados do país. Ele responde citando resultados obtidos em um município com recursos escassos. Em seu programa de TV, também mostra nomes históricos do estado que chegaram ao cargo com pouca idade, como Leonel Brizola, ícone da esquerda, em 1959.
Também orgulha-se de ter sido convidado para uma reunião do americano Barack Obama com jovens lideranças brasileiras em São Paulo, no ano passado. No início do mês, republicou post de uma apoiadora com uma foto do encontro e a mensagem: “‘Ele é só um carinha bonito.’ Busque conhecer bem as pessoas”.
Entre constrangimentos na campanha, está o apoio que recebia do ex-presidente do PSDB nacional Aécio Neves desde sua eleição para prefeito, em 2012. O partido no estado ficou marcado pelo tumultuado governo de Yeda Crusius (2007—2010), que resistiu a uma tentativa de impeachment.
Leite também vem sendo seguidamente questionado sobre supostas fraudes em exames pré-câncer em um laboratório contratado pela Prefeitura de Pelotas. Ele nega que tenha havido negligência da prefeitura e diz que uma investigação está em andamento.
Três dias após o primeiro turno, gravou um vídeo de declaração de voto no presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que já tinha recebido apoio de Sartori dias antes. Em tom sério e grave, disse que “jamais votou no PT” e que não concorda 100% com o capitão reformado. “Não vi autocrítica do Bolsonaro sobre frases que não respeitam a democracia e a existência pacífica e natural de outros seres humanos.”
O PSDB tenta manter uma porta aberta com o eleitorado de partidos como PDT e PT, que fizeram juntos 28% dos votos válidos no primeiro turno.




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