segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Em meio a crise, governador do Rio Grande do Sul
faz campanha ancorada na austeridade
Candidato à reeleição Sartori atrasou salários ao longo do mandato
e conseguiu ir ao segundo turno



O governador José Ivo Sartori (MDB), em campanha em Porto Alegre


“Regime de Recuperação Fiscal”, “Lei de Responsabilidade Estadual” e “privatizações” são algumas das expressões recorrentes no horário eleitoral de uma das campanhas finalistas do segundo turno no Rio Grande do Sul.
O emedebista José Ivo Sartori, que tenta a reeleição no estado, busca reverter os desgastes de quatro anos de crise econômica apostando em um discurso de continuísmo, ancorado em medidas de austeridade.
O estado é presença constante no alto do ranking de déficit dos governos, e o atraso no pagamento dos salários dos servidores é rotina desde o primeiro ano do mandato dele, ainda em 2015.
Foi administrando essa quase falência, que inclui um decreto de calamidade financeira como o do Rio de Janeiro e uma imobilidade que lembra o ocaso do governo Michel Temer, que Sartori, 70 anos, decidiu se lançar à reeleição.
Diz na campanha que a única maneira de reverter a crise no estado é aderir ao plano de renegociação da dívida discutido com o governo federal, que deve ser sacramentado apenas no próximo mandato.
No primeiro turno, o emedebista foi bem-sucedido ao promover essas bandeiras: reduziu gradualmente sua rejeição, que estava em 44% no Ibope no início da campanha, e fez 31,1% dos votos, ante 35,9% do mais votado, Eduardo Leite (PSDB).
Logo na pré-campanha, conseguiu manter o núcleo de sua vitoriosa coligação de 2014 e garantiu o maior tempo no horário eleitoral gratuito.
Também de 2014, desengavetou o estilo de candidato, se apresentando como “O Gringo”, como são chamados os descendentes de italianos da serra gaúcha, de jeito simples e meio caipira. Quatro anos atrás, quando ainda era um pouco conhecido ex-prefeito de Caxias do Sul, foi eleito em parte graças a uma onda anti-PT, derrotando o petista Tarso Genro, que era candidato à reeleição.
Agora, a seu favor, conta ainda o retrospecto de imune aos escândalos da política nacional dos últimos tempos, em que pese o MDB gaúcho ter nomes expressivos envolvidos, como o chefe da Casa Civil de Temer, Eliseu Padilha.
Só nos estados vizinhos do Sul, a delação da Odebrecht contribuiu para enterrar as pretensões eleitorais de seus ex-colegas do Paraná, Beto Richa (PSDB), e de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), que renunciaram neste ano para disputar o Senado e acabaram derrotados.
No caso de Sartori, o maior respingo em seu mandato foi acusação na delação da JBS de que sua campanha anterior recebeu R$ 1,5 milhão com origem em negociação ilícita entre a empresa e o então presidenciável tucano, Aécio Neves. O governador negou irregularidades e disse que o pagamento era uma doação oficial.
Mas restaram poucas realizações de governo a divulgar na campanha. A alta da criminalidade é um de seus principais problemas. Os investimentos estaduais são escassos e estão no nível dos do Amazonas, estado mais pobre e com população muito menor. Com a crise fiscal, o governador aprovou aumento de impostos em 2015 e, no pacote de enxugamento, decidiu extinguir até a fundação de estatística e a entidade que gere a TV Educativa do estado, que, pelo seu plano, fica com sua gestão terceirizada.
Ele tentou promover um plebiscito para a vendas de estatais, como uma companhia de mineração, mas foi derrotado na Assembleia Legislativa.
“Custos e despesas são como unhas, volta e meia a gente tem que fazer um corte”, disse ele em um dos programas na TV.
Na campanha, deixou de lado seu perfil mais conciliador e partiu para ataques contra Eduardo Leite, questionando, por exemplo, suposta negligência em exames de câncer na cidade onde o adversário foi prefeito — o tucano nega.
No segundo turno, Sartori quer pegar carona na candidatura do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que tem larga vantagem no Sul, para quebrar um tabu: o Rio Grande do Sul nunca reelegeu um governador desde que a reeleição foi instituída, em 1997.
Recebeu desde a semana passada apoio do PSL, do DEM e do quarto colocado na eleição, Jairo Jorge (PDT).
“Não podemos recomeçar tudo do zero, pegamos um estado de joelhos”, costuma dizer o emedebista.




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