A democracia, ensinou o velho Churchill, é o pior regime possível com exceção de todos os outros.
A história que começou a ser escrita em junho de 2013 tornou-se um
pesadelo do qual o Brasil não consegue acordar. Há cinco anos, as ruas
roncaram para reivindicar menos roubalheira, mais prosperidade e
serviços públicos decentes. O sistema político ofereceu um espetáculo de
cinismo, desemprego e descaso.
Desenvolveram-se muitas teorias para tentar explicar o fenômeno que
explodiu em junho de 2013. Cada um enxerga o que lhe convém. Mas todas
as teses convergem para um mesmo ponto: quem deveria ter oferecido
soluções virou parte dos problemas. Reeleita em 2014 ao final de uma
campanha marcada pela mentira, Dilma entregou o avesso do que prometera.
Aquecido pela Lava Jato, o asfalto ferveu até obter o impeachment.
Além de produzir uma ruína econômica jamais vista, Dilma deixou como herança um substituto constitucional apodrecido.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderia ter cassado a chapa Dilma-Temer
numa fase em que ainda era possível convocar novas eleições. Contudo,
sob a presidência de Gilmar Mendes, o TSE julgou tarde e decidiu mal.
Financiada com verbas roubadas, a chapa foi absolvida por excesso de
provas.
Um pedaço do eleitorado disse a si mesmo: “Se este é o Brasil do futuro,
me deem um do passado”. Repaginou-se a polarização. De um lado, o grupo
que recuou à era do autoritarismo fixou-se em Bolsonaro. Na outra
ponta, a ala que voltou aos tempos do ‘rouba, mas faz’ optou por um
Haddad que diz ser Lula.
Se 2018 revela alguma coisa é que 2013 tornou-se o ano mais longo da
história. E ainda vai longe. Os eleitores mais velhos, já meio cansados
de tanta experiência, comportam-se como se o país não tivesse futuro. Os
mais jovens, sem experiência, acham que não há um passado. O Brasil vai
às urnas de saco cheio de sua própria realidade.
Seja qual for o resultado das eleições, a reconstituição da história
passará pela cadeia. Se Fernando Haddad for eleito, Lula terá feito a
campanha mais espetacular desde a chegada das caravelas, elegendo o
inacreditável. Se Jair Bolsonaro vencer, Lula descerá ao verbete da
enciclopédia como um manipulador fracassado que elegeu com sua taxa de
rejeição um presidente da República inimaginável.
Lula chega à beira da urna em posição constrangedora. Realiza um
derradeiro esforço para evitar um fiasco: a vitória de Bolsonaro no
primeiro turno.
Não demora e todos saberão se Lula sairá de 2018 consagrado ou
desmoralizado. Por ora, a única certeza à disposição é a seguinte: num
Brasil empregocida, com quase 13 milhões de desempregados, a influência
política da cadeia revela que o único empreendimento que prospera é a
indústria da decadência.
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