Os sem-voto tentam despolarizar a eleição presidencial
Surgiu no último debate presidencial do primeiro turno um novo
agrupamento político: o MSV, Movimento dos Sem Voto. Convertidos pelo
eleitorado em coadjuvantes da corrida presidencial, Ciro Gomes, Geraldo
Alckmin, Marina Silva, Henrique Meirelles e Alvaro Dias se uniram num
esforço para tentar despolarizar a sucessão. Tarde demais. A tendência
de definição da disputa é um mano a mano entre Jair Messias Bolsonaro e
Fernando ‘Lula’ Haddad.
Lula e Bolsonaro, embora pairassem como espectros sobre os estúdios da
Globo, não estavam presentes. O primeiro continua preso, em Curitiba. O
segundo, beneficiado pelo álibi de um atestado médico, trocou o debate
global por uma entrevista no telejornal da Record, emissora ligada ao
bispo Edir Macedo, seu apoiador. Quem mudou de canal teve a oportunidade
de assistir ao empenho de Bolsonaro para se manter no topo do ranking
das opções anti-PT. Os médicos do Albert Einstein proibiram Bolsonaro de
debater na Globo porque ele mal conseguiria falar por dez minutos. Na
Record, o paciente tagarelou por 25 minutos. A cenografia incluiu três
intervenções de um enfermeiro.
O PT “mergulhou o Brasil na mais profunda crise ética, moral e
econômica”, atacou Bolsonaro. Na campanha, prosseguiu Bolsonaro, “tudo é
conduzido de dentro da cadeia pelo senhor Lula, que indica aí um
fantoche seu chamado Haddad, que por incompetência sequer conseguiu
passar para o segundo turno de sua reeleição em São Paulo.”
As críticas à polarização ecoaram durante todo o debate da Globo — da pergunta inaugural às manifestações finais.
O ataque coletivo dos sem-voto aos dois extremos da polarização,
especialmente a Bolsonaro, chegaram com pelo menos cinco anos de atraso.
Deve-se a ascensão do capitão à falência do sistema político. A
sociedade sinalizara sua impaciência ao ocupar o asfalto na célebre
jornada de junho de 2013. O retrovisor mostra que os coadjuvantes de
2018 não entenderam o ronco do asfalto.
Ciro continuou massageando Lula. Aderiu à tese petista de que a
condenação por corrupção e lavagem de dinheiro foi motivada por
perseguição política.
A inação do PSDB diante do mergulho de Aécio Neves na lama da corrupção
agravou e contaminou a credibilidade do tucanato paulista levando
Bolsonaro a ocupar o posto de anti-PT — no trato com a corrupção, o pior
tipo de excesso é o da moderação.
Marina tomou chá de sumiço depois da derrota de 2014. Logo ela, que fora
a grande vítima da polarização tucano-petista da sucessão passada.
Difícil reverter a menos de 72 horas da eleição um sentimento de ódio e
desalento que foi construído ao longo de cinco anos de reações
equivocadas.
Mas, contudo, já podemos dizer que o próximo Presidente da República,
seja ele quem for, ficará devendo sua vitória a Luiz Inácio Lula da
Silva.
Jair Bolsonaro em recuperação em casa |
Recuperando-se de duas cirurgias, Bolsonaro não leva sua campanha às
ruas há quase um mês. Ele faz e acontece nas redes sociais. No mesmo
período, Haddad voou de palanque em palanque como um drone guiado pelo
controle remoto do padrinho-presidiário. Vai à cadeia uma vez por semana
para receber orientações.
A rápida ascensão de Haddad nas pesquisas ateou medo no pedaço do
eleitorado que tem aversão ao PT. Ao trombetear na TV o risco de
Bolsonaro ser derrotado pelo petismo no segundo turno, o neonanico
Geraldo Alckmin converteu o medo em pânico. A tática funcionou, só que o
voto refratário à volta do PT migrou direto para Bolsonaro, sem fazer
escala em Alckmin ou assemelhados. O eleitorado anti-PT antecipou para o
primeiro turno a viagem que o conduziria ao colo de Bolsonaro.
O eleitor pobre, que o PT supunha ser cativo, começou a cair de amores
por Bolsonaro. Meio zonzo, os petistas têm saudades do tempo em que o PT
polarizava as disputas presidenciais com o PSDB. O PT sabia quais
botões deveriam ser apertados para desnortear o tucanato. Agora, aguarda
as instruções da cadeia.
Quem dissesse há um ano que Jair Bolsonaro chegaria às eleições de 2018
como um presidenciável competitivo corria o risco de ser internado como
maluco. Pois aconteceu. Além de liderar as pesquisas do primeiro turno,
Bolsonaro deixou de ser um azarão para o segundo turno. Até o mercado
financeiro, que sonhava com alternativas mais previsíveis, já trata a
eventual vitória de Bolsonaro como algo natural.
Bolsonaro chega às portas do Planalto depois de passar 27 anos na Câmara
como um folclórico deputado do baixíssimo clero. O capitão formou com
um general uma chapa puro-sangue militar. Cavalga um partido de
fancaria, o PSL, que elegeu um deputado em 2014 e que, hoje, conta com
uma bancada de oito deputados. O tempo de Bolsonaro no horário eleitoral
é de 8 segundos.
Como explicar que tamanha precariedade tenha virado um sucesso? Deve-se o
fenômeno à falência do sistema político. Bolsonaro é a resposta
enraivecida do eleitorado aos defeitos da democracia brasileira — da
blindagem de corruptos até a ineficiência de escolas e hospitais,
passando pela falta de empregos. Um pedaço do eleitorado envia, por meio
de Bolsonaro, um aviso aos caciques da política, entrincheirados no PT,
no PSDB, no MDB e nos seus cúmplices. Eis o recado: a conta da
desfaçatez chegou.
No próximo domingo, 07.out.2018, dia da eleição, Luiz Inácio Lula da Silva estará completando seis meses de prisão.
No momento, reina o pessimismo na monarquia carcerária de Curitiba. Após
uma semana em que Lula discutira com Haddad a hipótese de antecipar o
anúncio do próximo ministro da Fazenda, o petismo assiste ao avanço da
infantaria de Bolsonaro sobre redutos tradicionais da estrela vermelha.
Entre eles a região Nordeste. Na reta final do primeiro turno, só uma
coisa sobe na planilha do candidato petista: o índice de rejeição.
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Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (04.out.2018) avaliou qual a
opinião dos brasileiros sobre a melhor forma de governo: “democracia”,
“ditadura” ou “tanto faz”.
O levantamento mostrou que 69% dos brasileiros acreditam que a
democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo,
contra 12% que acham que a ditadura é melhor em certas circunstâncias.
Para 13%, tanto faz se o governo é uma democracia ou uma ditadura.
O índice de apoio à democracia, de acordo com a pesquisa, é o maior desde 1989.
A pesquisa também aponta:
- Para 84% dos eleitores com ensino superior, a democracia é sempre a melhor forma de governo; o índice é de 72% entre os que têm ensino médio; 55%, com ensino fundamental.
- A porcentagem de apoio à democracia entre as mulheres é de 67%, e, entre os homens, de 71%.
- 74% dos eleitores mais jovens, de 16 a 24 anos, e 64% dos mais velhos, com mais de 60 anos, apoiam a democracia.
Sobre a pesquisa:
- Margem de erro: 2 pontos percentuais para mais ou para menos
- Entrevistados: 10.930 eleitores em 389 municípios
- Quando a pesquisa foi feita: 3 e 4 de outubro de 2018
- Registro no TSE: BR-02581/2018
- Nível de confiança: 95%
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