A saga do oficial de Justiça na inútil busca por Renan
Oficial de Justiça tenta notificar, sem sucesso, Renan Calheiros na residência oficial da Presidência do Senado às 21h30m de segunda-feira (05.dez.2016) |
Wessel Teles de Oliveira, responsável por notificar senador sobre
decisão do ministro Marco Aurélio, relatou suas idas e vindas e as
artimanhas do senador peemedebista para evitar notificação sobre
afastamento.
O oficial de Justiça Wessel Teles de Oliveira, responsável por notificar
o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da decisão do ministro do Supremo
Tribunal Federal Marco Aurélio Mello determinando seu afastamento do
cargo de presidente do Senado, relatou ao STF na terça-feira
(06.dez.2016), como foi sua busca malsucedida para tentar localizar o
político que se recusa a deixar a cadeira de chefe do Congresso
brasileiro.
Wessel se dirigiu à residência oficial da Presidência do Senado às
21h30m de segunda-feira (05.dez.2016), logo após receber o primeiro
mandado da história do STF desde, pelo menos, a redemocratização, que
determinava o afastamento do presidente do Senado. A tarefa de encontrar
e passar a ordem para um dos homens mais poderosos da República,
contudo, não foi executada.
“Nessa ocasião, por entre os vidros transparentes laterais da porta
visualizei o senhor José Renan Vasconcelos Calheiros se despedindo do
deputado Rodrigo Maia (presidente da Câmara)”, relata o oficial ao
ministro Marco Aurélio.
A assessoria do peemedebista que resiste a deixar a cadeira e já sabia
da decisão liminar do Supremo determinando seu afastamento — àquela
altura já divulgada pela imprensa —, então, teria lhe relatado que Renan
não estava ali. “Ato imediato, afirmei que a informação não
corresponderia à verdade, uma vez que conseguiria apontar para a figura
do Senador caminhando em sentido oposto ao meu, no que me foi respondido
ilogicamente que o senador não estaria na residência”, segue o relato
do oficial, que não identifica a assessora.
Wessel ainda chega a citar o fotógrafo, Dida Sampaio, que registrou a
imagem de Renan olhando para o oficial de Justiça enquanto adentrava a
residência oficial. Diante do “impasse visual”, a assessoria do
parlamentar pediu para que o oficial de Justiça retornasse às 11 horas
de terça-feira (06.dez.2016).
“Informei o ocorrido à secretaria judiciária (do STF), no que me foi
orientado a me dirigir à Presidência do Senado no horário agendado”,
continua o relato.
No dia seguinte, então, Wessel voltou ao Congresso, incumbido de
notificar o peemedebista que a cadeira de presidente não mais seria
ocupada por ele. Das 11h da manhã às 15h, contudo, o oficial de Justiça
se deparou com mais assessores de Renan, e nada do homem mais poderoso
do Legislativo para ler o documento de sete páginas (seis da decisão do
ministro, mais uma do mandado para ser assinado por Renan) .
“A partir deste momento (11h da manhã) até às 15hrs (resultando um
montante de 4 horas de espera), fui submetido a toda ordem de tratamento
evasivo dos assessores, que ora se revezavam em afirmar que o senador
estaria em reunião, ora me deixavam sem nenhuma informação concreta, a
aguardar em uma sala de espera”, segue o relato.
Enquanto o oficial aguardava o desenrolar de um dos episódios prestes a
entrar para a história do País, a Mesa Diretora do Senado, reunida com
Renan, elaborava um documento assinado por todos seus membros afirmando
que o peemedebista não seria apeado da cadeira de chefe do Congresso até
que o plenário do STF tome uma decisão definitiva em relação ao tema.
Com o mandado não cumprido e o documento da Mesa do Senado, Wessel
retornou ao Supremo e registrou sua busca mal sucedida por Renan
Calheiros. Os documentos do embate inédito entre dois poderes da
República deixaram suas mãos e foram submetidos ao gabinete do ministro
Marco Aurélio Mello, que já encaminhou o caso para ser julgado no
plenário do Supremo.
Na quarta-feira (07.dez.2016), a Corte deve dar um desfecho para o caso.
Pelo menos por enquanto, Wessel não terá que tentar encontrar Renan
novamente.
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