A imagem de Lula, antes monumental, agora ...
petistas se queixam do líder e da cúpula do PT
petistas se queixam do líder e da cúpula do PT
Luiz Inácio Lula da Silva — líder sindical da década de 80, estalando de
pureza moral, respeitado até pelos adversários, poupado pela imprensa,
com cheiro de ABC paulista, uma referência em meio à falência da
política tradicional. Impossível, era, imaginá-lo fechando acordos com
Sarneys e Renans ou desfrutando de confortos pouco assépticos, fora dos
limites do contracheque.
Como se sabe, o personagem desapareceu misteriosamente nos idos de 2003.
Seu sumiço interrompeu uma carreira política promissora. Nunca mais foi
visto. Mas não custa procurar. Se ficar comprovado que o Lula da década
de 80 morreu, como parece provável, ainda restará pelo menos uma
alternativa para o PT. Chama-se Olívio Dutra.
Como Lula, Olívio é fundador do PT. Cultiva os mesmos valores. Com uma
diferença: jamais desapareceu. Ao contrário, reaparece nos momentos mais
incômodos. Como no domingo eleitoral, dia em que o eleitor rosnou para o
PT.
Ao comentar a situação da legenda numa entrevista radiofônica, Olívio
declarou coisas assim: “Não adianta dizer que a culpa é do Judiciário,
do adversário, da grande mídia. Existem erros graves pelos quais as
pessoas estão sendo julgadas e algumas até presas.”
Olívio tachou de “legítima, consciente e necessária” a reação do
eleitorado. “O PT tem de levar uma lambada forte mesmo porque errou, e
errou seriamente.” Não cogita deixar o partido. Enxerga espaço para
“retomar o caminho certo.” Como? “Evidente que tem de ter conteúdo e
prática muito diferentes desses conteúdos e práticas dos discursos dessa
maioria que está dirigindo o partido.”
Tomado pelas palavras, Olívio lembra muito aquele Lula dos idos de 80. Distribuindo lambadas.
RENOVAÇÃO ANTECIPADA — A tragédia eleitoral que se abateu sobre o PT no
primeiro turno das eleições municipais deflagrou um fenômeno inédito: a
autoridade de Lula começa a ser questionada por alguns de seus próprios
correligionários. Por ora, as críticas soam em ambientes internos. Longe
dos refletores, petistas de mostruário acusam Lula de retardar a
renovação da direção partidária. O movimento de cobrança começa a ganhar
os contornos de uma onda.
Um petista histórico disse que deve procurar Lula para aconselhá-lo a se
afastar da rotina partidária. Avalia que o ex-presidente deveria se
dedicar em tempo integral à sua defesa, liberando o partido para
apressar a substituição dos seus dirigentes, a começar pelo presidente,
Rui Falcão. Afirma traduzir o sentimento de um número crescente de
filiados insatisfeitos com o estilo centralizador que Lula imprime à sua
liderança.
Os insatisfeitos desejam antecipar de dezembro de 2017 para o início do
ano a escolha dos novos dirigentes. Antes da abertura das urnas
municipais, falava-se em abril. Agora, uma parte dos descontentes já
defende que o calendário seja encurtado para janeiro ou fevereiro.
Reivindica-se também o fim do chamado PED, o processo de eleições
diretas do PT. Alega-se que esse modelo favorece a corrente majoritária
de Lula, Construindo um Brasil Novo.
Nos fundões do PT, critica-se também o rol de nomes cogitados como
potenciais substitutos de Rui Falcão. A lista inclui o próprio Lula e
duas alternativas endossadas por ele: o ex-ministro e ex-governador da
Bahia Jaques Wagner e o senador Lindbergh Farias. Em menor ou maior
grau, os três estão sob a mira da Lava Jato. E os petistas desgostosos
receiam que, optando por um deles, o partido acabe virando a página para
trás.
DENÚNCIAS — Acontece com Lula um fenômeno muito comum na política: o
sujeito acha que é uma coisa. Mas a sua reputação indica que ele já
virou outra coisa. A nova denúncia, protocolada contra Lula em Brasília,
por suas relações promíscuas com a Odebrecht, é a terceira acusação
formal da Procuradoria em que o ex-presidente petista é retratado como
protagonista de casos de corrupção. Nas outras duas denúncias, Lula já
virou réu. Uma em Curitiba e outra em Brasília. Lula em breve será réu
pela terceira vez.
A realidade de Lula é muito parecida com a de uma mulher fictícia criada
por um escritor chamado Josué Guimarães. Essa mulher da ficção sofria
de uma doença que a fazia diminuir diariamente de tamanho. E seus
parentes serravam os pés das mesas e das cadeiras, rebaixando os móveis,
para que ela não percebesse o que lhe acontecia. No caso de Lula, a
família petista tenta disfarçar o encolhimento do seu ex-grande líder
reduzindo o drama jurídico do personagem a uma conspiração da Polícia
Federal, da Procuradoria e da mídia.
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