Brasil tem sua pior posição em ranking mundial de competitividade — o país ficou em 81º lugar entre 138 avaliados na pesquisa do Fórum
Econômico Mundial
A crise política minou a confiança na economia brasileira e levou o País
ao “fundo do poço” no tema competitividade. O levantamento anual feito
pelo Fórum Econômico Mundial, em parceria com a Fundação Dom Cabral
(FDC), divulgado na terça-feira (27.set.2016) à noite, mostra o Brasil
na 81ª posição em 2016, em um ranking de 138 nações. Em relação ao ano
passado, o País perdeu seis posições. Desde sua melhor classificação na
lista foram nada menos do que 33 posições perdidas — o Brasil caiu da
48ª posição no ranking global, em 2012 — entre 144 países —, para a 81ª
agora — mas apenas entre 138 países. Ou seja, está abaixo da metade da
tabela.
O relatório 2016/17 do Fórum Econômico Mundial sobre a competitividade
global acaba sendo um retrato acabado do fracasso da gestão da então
presidente Dilma Rousseff desde o fim de seu primeiro período
(2011/2015).
Foi o pior resultado desde 2007, quando o Fórum mudou a metodologia do levantamento, informa o relatório.
A queda brasileira foi tão impactante que o país deixou de figurar no
"top 10" de competitividade entre os países da América Latina e do
Caribe. Fica atrás não só de um clássico entre os países da região, em
termos de desempenho, como é o caso do Chile, mas também de um país
tremendamente pobre, a Guatemala.
O retrocesso do Brasil foi contínuo nos anos Dilma: 48º lugar em
2012/2013; 56º em 13/14; 57º no período seguinte; 75º em 2015/2016, para
desabar seis posições e terminar em 81º em 2016/17.
RECESSÃO — Segundo Carlos Arruda, professor da FDC e coordenador da
pesquisa no Brasil, trata-se de um resultado que mostra o “fundo do
poço” em relação às perspectivas sobre a economia nacional. Desde que o
levantamento começou a usar a metodologia atual, há 20 anos, a posição
do País não era tão ruim. Ele ressalva, no entanto, que o estudo
referente a 2016 foi encerrado em maio último — no dia 12 daquele mês, o
atual presidente, Michel Temer, assumiu o cargo temporariamente após o
afastamento de Dilma Rousseff.
Como era previsível, foi nos itens relacionados ao desempenho
macroeconômico que o país recebeu as piores avaliações: em "ambiente
macroeconômico", ocupa a 126ª colocação entre os 138 países pesquisados.
Pior ainda é a posição em "eficiência do mercado de bens" — 128º lugar.
O relatório lembra, a propósito, a "profunda recessão" que o Brasil está
enfrentando e que a taxa de crescimento declinou firmemente, de uma
média anual de 4,5% entre 2006 e 2010, ainda no período Lula, para 2,1%
entre 2011 e 2014, de acordo com o Banco Mundial.
A queda brasileira, diz o relatório, "é provocada principalmente pela
deterioração dos mercados de bens, de trabalho (leia-se: desemprego) e
financeiro". Acrescenta: "No plano institucional, a segurança se
deteriorou e também a percepção da qualidade da administração do setor
público".
O documento traz para o topo dos "fatores mais problemáticos para fazer
negócios" um clássico nesse tipo de consulta: impostos e a regulação
deles. Para 15,9% dos pesquisados, impostos é o maior problema, ao passo
que 12,5% apontam a regulação das taxas.
CORRUPÇÃO — Os resultados mostram que algumas avaliações sobre o País
não mudaram tanto nos últimos anos, tanto do lado positivo (o porte do
mercado) quanto do negativo (complexa estrutura tributária,
infraestrutura deficiente e altos encargos trabalhistas). No entanto, a
falta de confiança nos políticos e nas instituições acabou puxando os
indicadores para baixo e comprometendo a posição brasileira como um
todo. No quesito confiança nos políticos, diz Arruda, o Brasil está na
última posição da lista entre todas as nações avaliadas (138º lugar).
Mas a corrupção ocupa lugar igualmente privilegiado entre os fatores que
entravam os negócios, mencionada por 13,6% dos pesquisados. Resultado
perfeitamente previsível em tempos de Lava Jato e prisões em sequência
de empresários de grosso calibre.
O relatório elogia o combate à corrupção, um endosso à Lava Jato, sem mencionar nominalmente a operação.
BRICS — Na comparação com todos os Brics, o Brasil também ficou atrás. A
China aparece na 28ª posição (a mesma do ano passado), enquanto a Índia
aparece no 39º lugar (subindo 16 degraus em apenas um ano). Tanto
Rússia quanto África do Sul ganharam duas posições em relação a 2015, e
agora ocupam os lugares 43º e 45º da lista, respectivamente.
REFORMAS — Segundo Arruda, a boa notícia é que a agenda de reformas que o
Brasil tem pela frente — mudanças na Previdência, controle nos gastos
públicos, reforma da legislação trabalhista e nas concessões de
infraestrutura — podem ajudar bastante na apuração dos resultados do
próximo ano. Ele afirma que o resultado obtido pela Índia em 2016
reflete em muito as mudanças de regras concretizadas nos últimos anos.
A disposição em corrigir gargalos de produtividade, de acordo com o
professor, tem funcionado também em mercados latino-americanos como
México e Colômbia. “A Colômbia tem feito reformas de longo prazo, com
parcerias entre o setor público e o privado, e tem crescido de forma
lenta, mas constante, na lista”, diz Arruda.
Já o atual governo do México, explica ele, tem optado por fazer reformas
de forma mais abrupta, sem medo de perder a popularidade. Em 2016, o
México ficou em 51º lugar no ranking de competitividade, enquanto a
Colômbia ficou na 61ª colocação.
Outro fator que deve ajudar o Brasil no ranking do ano que vem é o fato
que a economia está, de certa forma, andando na direção contrária do que
ocorre no resto do mundo. Enquanto o mundo fica mais protecionista —
como evidenciado pela saída do Reino Unido da União Europeia –, Arruda
pondera que a economia brasileira vem se abrindo ao comércio exterior.
O estudo tem uma base liberal e desenvolvimentista, explica o professor
da FDC, mas também contempla alguns avanços em indicadores sociais,
especialmente nos setores de saúde e educação.
NO GLOBAL — Nas primeiras dez posições do ranking, houve algumas
mudanças de posição, mas a lista de líderes em competitividade
manteve-se a mesma. A Suíça ocupa o primeiro lugar em competitividade,
pelo oitavo ano consecutivo. Em 2016, na ordem, destacaram-se: Suíça,
Cingapura, Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Suécia, Reino Unido,
Japão, Hong Kong e Finlândia, completando o "top 10".
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