Confirmado: Eike Batista pagou “pedágio” para organização criminosa em operação na Petrobras
Em julho de 2013, o executivo Ivo Dworschak, da OSX, empresa naval de
Eike Batista, alertou o ainda bilionário: operadores do petista José
Dirceu estavam cobrando até impostos da propina que lhes era devida por
contratos na Petrobras. As empresas de Eike, como a OSX, derretiam. Ele
fizera e redobrara apostas tresloucadas em poços que não davam petróleo.
A fatura finalmente chegara; com ela, a pressão dos operadores do PT. A
OSX, em parceria com a Mendes Júnior, obtivera, em 2012, um contrato de
US$ 922 milhões com a Petrobras, para construir as plataformas P-67 e
P-70 — duas das preciosidades da exploração no pré-sal. Contratos na
Petrobras, ainda mais dessa ordem, não vinham de graça. Naquele momento,
vinham atreladas a “pedágios”.
Eike não poderia deixar que a OSX parasse de receber da Petrobras, o
único contrato que realmente pagava as contas. Mandou, segundo o
executivo Ivo, bancar a fatura dos operadores de Dirceu. “O Eike falou
que isso faz parte das negociações, para eu ficar tranquilo e só dar
seguimento aos pagamentos”, disse Ivo recentemente aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato. O executivo participou de reuniões em que os operadores de Dirceu, da espanhola Isolux, estrilavam diante do calote na propina.
“Eu vi fisicamente na minha frente um bando de argentinos ou
uruguaios lá, cobrando que a gente cumprisse o acordo senão eles iriam
denunciar lá, fazer as ações nas origens, a ameaça seria tipo ‘Vou falar
com José Dirceu que vocês não estão cumprindo e isso vai dificultar a
vida de vocês’”, narrou Ivo à Lava Jato. Ele procurou Eike novamente.
“Faz parte, fica tranquilo e honra o que foi feito, com impostos e
tudo”, orientou Eike, segundo o depoimento de Ivo.
E assim foi feito. Ao longo de 2013, de acordo com planilhas de
pagamentos e extratos bancários, empresas associadas a Dirceu, sem
prestar serviço algum, receberam, ao menos, R$ 12 milhões. Dirceu já
havia sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal no mensalão — mas o
julgamento do mensalão, como a Lava Jato veio a comprovar, em nada
mudara a regra do jogo em Brasília e no Rio de Janeiro. O dinheiro da
propina do pré-sal saiu da OSX e da Mendes Júnior. Após ser lavado,
chegou às contas de operadores do petista, como Júlio César Oliveira
Silva, o Julinho — um dos mais eficientes lobistas da turma de Dirceu,
conhecido no submundo da venda de armas pesadas a governos e preso pela
Lava Jato na semana passada. De lá, a propina era sacada em espécie ou
seguia para contas de laranjas. A Lava Jato ainda rastreia o
destinatário final da dinheirama. Já há provas documentais, no entanto,
de que outros dois lobistas da Petrobras pagaram propina a Dirceu e ao
PT por meio dos mesmos laranjas. Dirceu, que está preso em Curitiba
desde agosto de 2015, já foi condenado a 23 anos de prisão.
As fraudes e propinas envolvidas no contrato bilionário de Eike e da
Mendes Júnior com a Petrobras resultaram na 34ª fase da Lava Jato,
deflagrada na manhã de quinta-feira, dia 22.set.2016. Foi batizada pelos
investigadores de Arquivo X, uma alusão a Eike Batista.
Após dois anos e meio de investigações, não restam dúvidas de que havia
uma sofisticada organização criminosa em operação na Petrobras — e não
apenas nela. O montanhoso corpo de provas que emerge da maior
investigação já feita no Brasil revela, em minúcias, como funcionava a
corrupção promovida pelo grupo que assaltava a estatal. Havia, como nas
grandes organizações criminosas, uma clara divisão de tarefas. Cabia ao
cartel de grandes empresas — como Mendes Júnior e OSX — pagar propinas
aos funcionários da Petrobras e aos políticos que mandavam nesses
funcionários. Cabia a esses funcionários e aos chefes deles, os
políticos, entregar os contratos da estatal às empresas do cartel, por
mais danosos que fossem aos cofres da Petrobras. Durante ao menos uma
década, a organização criminosa prosperou formidavelmente. Empreiteiros
enriqueceram. Burocratas enriqueceram. Lobistas enriqueceram. Políticos
enriqueceram — e foram eleitos e reeleitos com dinheiro sujo. Até que,
enfim, a estatal quebrou.
No topo dessa sofisticada organização criminosa estava, segundo a
força-tarefa, Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com eles, o esquema,
do qual Lula se beneficiou política e materialmente, não poderia
acontecer sem que ele tivesse dado as ordens, direta e indiretamente. Na
semana passada, o juiz Sergio Moro acolheu a denúncia dos procuradores
contra o ex-presidente. Moro entendeu que há provas suficientes de
autoria e materialidade no caso em que Lula é acusado de receber propina
da empreiteira OAS, lavada como um tríplex em Guarujá. Assim, o
ex-presidente se tornou réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro —
e as investigações prosseguirão intensamente. Ele é investigado em
outras cinco frentes; numa delas, em Brasília, também já virou réu,
acusado de tentar obstruir a Lava Jato.
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