Trabalhadores informais chegam a 10 milhões no País e 10% dos com carteira assinada recebem meio salário mínimo
Desemprego — semáforos são repletos de homens e mulheres que trabalham como setas |
Após uma queda desde 2012, número de trabalhadores sem carteira assinada voltou a subir, retratando o momento ruim da economia.
A crise econômica tem empurrado parte dos brasileiros para a informalidade como alternativa ao desemprego crescente.
Em todo o Brasil, são hoje cerca de 10 milhões de trabalhadores
informais, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) Contínua compilados pelo Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
A quantidade de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada tem
crescido nos últimos meses. No início deste ano, eram 9,7 milhões. “São
profissionais sem nenhum tipo de contribuição trabalhista e
previdenciária”, diz Tiago Cabral Barreira, pesquisador do Ibre e
responsável pelo levantamento. Apesar do crescimento recente, esse
número já foi maior. No fim de 2012, o contingente de informais chegou a
11,2 milhões de trabalhadores.
Expectativa — A tendência é de que o número de trabalhadores
informais continue crescendo ao longo dos próximos meses, sobretudo
porque o mercado de trabalho não deverá esboçar uma reação este ano.
Para o Ibre, a taxa de desocupação deverá encerrar o ano em 12,3% —
atualmente a desocupação está em 11,3%.
“A taxa de desemprego deve parar de aumentar somente no segundo
trimestre do ano que vem, o que seria uma inflexão em relação à atual
trajetória”, afirma Barreira, do Ibre. “Uma queda na taxa de desemprego
só deve ocorrer no terceiro trimestre de 2017”, diz.
“Se as expectativas em relação ao aumento da confiança estiverem
corretas, e isso rebater em vendas e consumo, o emprego deve ser um dos
próximos indicadores a se recuperar — mas tudo indica que só no ano que
vem”, afirma o professor Rafael Campelo, da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe).
No primeiro trimestre, 10% recebiam meio salário mínimo — Segundo cálculos da Fipe, população ocupada com baixo rendimento foi de 9 milhões para 10,3 milhões em um ano.
A situação precária do mercado de trabalho fica evidente quando se
analisa o rendimento dos trabalhadores. No País, 10,3 milhões dos
ocupados recebem até meio salário mínimo, o que equivale a uma
remuneração mensal de apenas R$ 440. Essa parcela, que no primeiro
trimestre deste ano representava 10,9% da População Economicamente Ativa
(PEA), em 2015 estava em 7,9%, com 9,023 milhões de trabalhadores nessa
condição.
Os dados, obtidos por meio da Pnad Contínua e compilados pela Fundação
de Pesquisas Econômicas (Fipe), apontam ainda que 5,5 milhões recebem
apenas um quarto do salário mínimo, o equivalente a uma renda mensal
inferior a R$ 220. No primeiro trimestre do ano passado, esse
contingente era de 4,4 milhões de pessoas.
“Esse movimento não é muito diferente do observado na taxa de desemprego
padrão: as taxas se reduzem até 2014 e voltam a subir desde então, como
resultado da crise econômica — acompanhada pelo crescimento da
desigualdade de renda”, afirma o professor Rafael Camelo, da Fipe,
responsável pelo levantamento dos dados.
Ele observa que esse contingente de baixos rendimentos abrange também
trabalhadores autônomos ou que tiveram redução de jornada, mas,
sobretudo, trabalhadores sem carteira assinada. “Os dados são mais
dramáticos não só pelo crescimento de uma parcela dos trabalhadores que
ganha pouco, mas porque esse é o mesmo grupo que dispõe de menos
proteção social em tempos de crise: não pode contar com
seguro-desemprego ou FGTS”, explica. Além disso, esse grupo é mais
afetado pela corrosão do poder aquisitivo pela inflação, que neste ano
já acumula quase 5% e pressiona itens básicos da alimentação, como
arroz, feijão e leite.
IBGE vai divulgar índice de mão de obra subutilizada — O IBGE,
responsável pela Pnad Contínua, vai divulgar novos dados sobre o mercado
de trabalho a partir de novembro, com as chamadas medidas de
subutilização da mão de obra — a quantidade de trabalhadores ocupados,
mas que poderiam trabalhar mais horas na semana.
Além da taxa de desocupação, a pesquisa vai começar a revelar um
indicador de subutilização por insuficiência de horas trabalhadas e
outro de força de trabalho potencial. “No recorte por insuficiência de
horas serão considerados os que trabalharam menos de 40 horas na semana
de referência, porém gostariam de trabalhar mais e estavam disponíveis
para isso”, explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento
do IBGE. “Já a força de trabalho potencial são as pessoas que realizaram
busca efetiva de trabalho, mas não estavam disponíveis, como grávidas
ou estudantes. Outro grupo são os que não haviam buscado emprego, mas
gostariam de trabalhar e estavam disponíveis — os que antes eram
chamados de desalentados.”
Cimar explica que o cálculo da taxa de desocupação não sofrerá mudanças,
pois segue os padrões estabelecidos pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Pela Pnad Contínua, são considerados desocupados os que
não trabalharam nem uma hora na semana anterior à pesquisa, mas tentaram
conseguir emprego nos últimos 30 dias.
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