O 'controle' sobre o futuro eleitoral de Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva |
Lula prevê que viverá dias turbulentos. Indiciado pela Polícia Federal
sob a acusação de receber R$ 2,4 milhões em “vantagens ilícitas” da
empreiteira OAS, ele dá de barato que será denunciado pela força-tarefa
da Lava Jato. De passagem por Brasília disse a um amigo não ter dúvidas
de que o juiz Sérgio Moro acatará a denúncia, convertendo-o em réu. O
amigo de Lula resumiu assim o drama que o atormenta: “Ele está deixando
de ser dono do seu destino político, a situação foge do seu controle.”
Após reunir-se com Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, na sexta-feira
(26.ago.2016), Lula conversou com um grupo de senadores petistas no
hangar em que tomaria o jatinho de volta para São Paulo. Foram
encontrá-lo, Jorge Viana (AC), Humberto Costa (PE), Paulo Rocha (PA) e
José Pimentel (CE). Na definição de um dos congressistas, a notícia
sobre o indiciamento deixou Lula “baqueado”. Ele estranhou que a
divulgação tenha ocorrido às vésperas da deposição de Dilma. Enxergou na
novidade uma motivação política. Irritou-se com a inclusão de sua
mulher, Marisa Letícia, no rol de indiciados.
As críticas de Lula à ação da Polícia Federal ecoaram uma nota divulgada
por seus advogados. Nela, os doutores Cristiano Zanin Martins e Roberto
Teixeira repudiaram as acusações do delegado federal Márcio Adriano
Anselmo, responsável pelo inquérito sobre o tríplex do Guarujá. Eles
repisaram o argumento segundo o qual o imóvel não pertence a Lula, mas à
própria OAS. Anotaram que o relatório do delegado tem “caráter e
conotação políticos”. Apelidaram-no de “peça de ficção.”
Trecho do relatório de indiciamento de Lula e sua mulher Marisa: R$ 2,4 milhões em 'vantagens ilícitas' |
A guerra retórica que Lula e seus defensores declararam à Polícia
Federal está crivada de ironias. O morubixaba do PT sempre se vangloriou
da autonomia que a polícia adquiriu durante o seu governo. Em dezembro
de 2014, discursando numa homenagem ao ex-ministro da Justiça Márcio
Thomaz Bastos, que havia morrido, Lula enalteceu a transformação que o
amigo produzira no Departamento de Polícia Federal.
Sob o comando de Thomaz Bastos, “a ação da Polícia Federal alcançou
indistintamente ministros e ex-ministros, prefeitos e deputados de
diversos partidos, inclusive dos que apoiavam o governo”, discursou
Lula. Nessa época, ele trazia os lábios grudados no trombone: “O braço
da lei, por meio da polícia judiciária, passou a alcançar os ricos e
poderosos.” Alvejado, Lula parece lamentar que a PF tenha ampliado seu
raio de ação para o nível presidencial.
Correm na ‘República de Curitiba’ pelo menos mais dois inquéritos contra
o pajé do PT. Um deles, já em estágio avançado, envolve o sítio de
Atibaia, usado por Lula e reformado por um consórcio informal que
incluiu uma empresa do companheiro-pecuarista José Carlos Bumlai, a
Odebrecht e a OAS. É contra esse pano de fundo que o amigo de Lula disse
que ele “está deixando de ser dono do seu destino político.” Ele
continua insinuando que, se o perturbarem muito, disputará novamente o
Planalto. O problema é que seus direitos políticos passaram a depender
da Justiça.
Se Lula for condenado em segunda instância, ficará inelegível por oito
anos. Ou seja: o controle sobre o futuro eleitoral da única liderança
nacional do PT foi transferido para a mesa de Sérgio Moro e para o
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que julga em segundo grau os
recursos movidos contra sentenças do juiz da Lava Jato.
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