segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Anular delação da OAS é reviver o engavetador



Rodrigo Janot


Nos seus áureos tempos de oposição, o PT grudou em Geraldo Brindeiro, procurador-geral da Era FHC, o apelido tóxico de “engavetador-geral da República”. Ao anular a delação de Léo Pinheiro, da OAS, o procurador-geral Rodrigo Janot teve o seu momento de Brindeiro. Deixou no ar uma dúvida incômoda: por que resolveu cometer velhos erros se há tantos erros novos a cometer? Ou Janot abre a gaveta ou acabará provando que é errando que se aprende. A errar!
Faltou nexo à justificativa de Janot. Irritou-se com a notícia de que a delação da OAS incluiria um capítulo sobre Dias Tóffoli, o ministro do Supremo Tribunal Federal. Tachou a informação de inverídica, chamou o vazamento de “estelionato delacional” e deu por encerrada a negociação com Léo Pinheiro. Ora, francamente! Nada mais comum na Lava Jato do que os vazamentos. E Janot resolve rodar a baiana por conta de uma goteira que expeliu o que diz ser uma inverdade?!?
A decisão de Janot tornou-se ainda mais incompreensível diante da revelação dos segredos que o barão da OAS já compartilhou com a Procuradoria. Por exemplo: é mesmo de Lula o tríplex que ele jura não possuir no Guarujá. O imóvel e a reforma feita nele saíram das petropropinas destinadas ao PT. A empreiteira borrifou verbas sujas no caixa da reeleição de Dilma. Os grão-tucanos Aécio Neves e José Serra estão na lista de beneficiários de propinas. Delação, como se sabe, não é prova. Mas a obrigação do procurador-geral é procurar.
Num dos grampos que o doutor Sérgio Moro jogou no ventilador há cinco meses, Lula soa na fita questionando o advogado-companheiro Sigmaringa Seixas, de Brasília, sobre uma demanda que deveria ser encaminhada a Rodrigo Janot. Sigmaringa sugeriu a via institucional de uma petição. Lula queria saltar a “formalidade”. Sigmaringa alertou: “Ele vai dizer não, ele não vai receber.” E Lula: “Essa é a gratidão. Essa é a gratidão dele [Janot] por ele ser procurador…”
O pior pecado que um procurador-geral da República pode cometer é o de passar à sociedade a impressão de que agradece com a caneta ao poderoso que o indicou para o cargo. Gente na posição de Janot não deve gratidão senão ao contribuinte, que lhe paga os vencimentos. E tudo o que esses brasileiros desejam é que o procurador Janot procure. E não esconda o que já foi encontrado.




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