Instituto Lula recebeu R$ 3 milhões de empreiteira investigada na Operação Lava Jato
Mais R$ 1,5 milhão foram pagos pela
Camargo Corrêa a LILS, empresa do ex-presidente, entre 2011 e 2013,
revela laudo da Polícia Federal
Luiz Inácio Lula da Silva |
A Camargo Corrêa pagou R$ 3 milhões para o Instituto Lula e mais R$ 1,5
milhão para a LILS Palestras Eventos e Publicidade, de Luiz Inácio Lula
da Silva, entre os anos de 2011 e 2013. É a primeira vez que os negócios
do ex-presidente aparecem nas investigações da Operação Lava Jato, que
apura um esquema de cartel e corrupção na Petrobrás com prejuízo de R$ 6
bilhões já reconhecidos pela estatal.
São três pagamentos de R$ 1 milhão cada registrados como “Contribuições e
Doações” e “Bônus Eleitoral” para o Instituto, aberto por Lula após ele
deixar a Presidência da República, em 2011. A revelação sobre o elo da
empreiteira – uma das líderes do cartel alvo da Lava Jato – com Lula
consta do laudo 1047/2015, da Polícia Federal, anexado na terça-feira,
09.jun.2015, nos autos da investigação.
O laudo tem 66 páginas e é subscrito pelo perito criminal federal Ivan
Roberto Ferreira Pinto . A perícia foi realizada na contabilidade da
Camargo Corrêa de 2008 a 2013, período em que a empreiteira recebeu R$ 2
bilhões da Petrobrás. O documento mostra que a construtora repassou R$
183 milhões em “doações de cunho político” – destinadas a candidaturas e
partidos da situação e da oposição.
No caso dos pagamentos ao Instituto Lula e à LILS eles foram feitos nos
mesmos anos: 2011, 2012 e 2013 – em meses distintos. Para o Instituto,
dos três pagamentos, dois são registrados como “Doações e
Contribuições”: 2 de dezembro de 2011 e 11 de dezembro de 2013. O que
chamou a atenção dos investigadores foi o lançamento de 2 de julho de
2012, sob a rubrica “Bônus Eleitoral”.
Para o LILS, cujo endereço declarado é na própria residência de Lula, em
São Bernardo do Campos, a empreiteira depositou em conta corrente: R$
337,5 mil, em 26 setembro de 2011, R$ 815 mil em 17 de dezembro de 2012 e
R$ 375,4 mil em 26 de julho de 2013.
Dois executivos da empreiteira, Dalton dos Santos Avancini e Eduardo
Hermelino Leite, confessaram em acordo de delação premiada que foram
feitas doações eleitorais ao PT após pedido do ex-tesoureiro do partido
João Vaccari Neto – preso, em Curitiba, pela Lava Jato.
O doleiro Alberto Youssef – peça central da Lava Jato – também citou o
nome de Lula ao afirmar em delação à Procuradoria, no dia 4 de outubro
de 2014, que “tinham conhecimento” do esquema de corrupção na estatal “o
Palácio do Planalto” e “a presidência da Petrobrás”. Em seguida ele
citou nominalmente o ex-presidente.
Lula não é alvo de investigação da Lava Jato. Recentemente, o
ex-presidente atacou publicamente o que chamou de “insinuações”
envolvendo seu nome na operação. “Eu não ia dizer isso aqui, mas estou
notando todo santo dia insinuações. ‘Lá na Lava Jato vão citar o nome do
Lula’. ‘Querem que empresários citem meu nome’. ‘O objetivo é pegar o
Lula’.”, desabafou no ato de 1º de Maio, em São Paulo.
Na ocasião, ele disse que “é bom de briga”.
DIRCEU
No mesmo documento pericial, constam os pagamentos da Camargo Corrêa
para a JD Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu
(Casa Civil), do governo Lula. Ele é investigado por suposto uso das
consultorias para empresas do cartel como forma de ocultar propina para o
PT.
O laudo pericial aponta que foram lançados como pagamentos entre 2010 e
2011 o valor total de R$ 900 mil, por meio de 10 depósitos bancários.
COM A PALAVRA, O INSTITUTO LULA.
O Instituto Lula informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que
os valores registrados na contabilidade da Camargo Corrêa foram doados
legalmente e que não existe relação entre a entidade e questões
eleitorais.
“O Instituto Lula não prestou nenhum serviço eleitoral, tampouco emite
bônus eleitorais, o que é uma prerrogativa de partidos políticos,
portanto deve ser algum equívoco.”
Segundo a assessoria do Instituto, “os valores citados no seu contato
foram doados para o Instituto Lula para a manutenção e desenvolvimentos
de atividades institucionais, conforme objeto social do seu estatuto,
que estabelece, entre outras finalidades, o estudo e compartilhamento de
políticas públicas dedicadas à erradicação da pobreza e da fome no
mundo”.
Quanto aos valores para a empresa do ex-presidente a assessoria informou
que “os três pagamentos para a LILS são referentes a quatro palestras
feitas pelo ex-presidente, todas elas eventos públicos e com seus
respectivos contratos”.
“Essas doações e pagamentos foram devidamente contabilizados, declarados e recolhidos os impostos devidos.”
A nota informa ainda que “as doações ao Instituto Lula e as palestras do
ex-presidente não tem nenhuma relação com contratos da Petrobrás”.
COM A PALAVRA, A CAMARGO CORRÊA.
“A Construtora Camargo Corrêa esclarece que as contribuições ao
Instituto Lula referem-se a apoio institucional e ao patrocínio de
palestras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no exterior.”
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