terça-feira, 10 de fevereiro de 2015


PT recebeu R$ 40 milhões de propina 
no estaleiro gaúcho de Rio Grande
Pedro Barusco revelou ao Ministério Público Federal que R$ 60 milhões 
foram desviados na construção de três sondas no Estado


A construção de três navios-sonda de perfuração no estaleiro gaúcho da Petrobras em Rio Grande teria envolvido o pagamento de R$ 60 milhões em propina – R$ 40 milhões para o PT – e foi combinado entre Pedro Barusco (ex-gerente da estatal), João Vaccari Neto (tesoureiro do partido) e o empresário Milton Pascowich (operador da fraude). A rota do suborno foi detalhada por Barusco em acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
Conforme ele, a Sete Brasil – empresa que nasceu de um projeto da Petrobras para fabricar sondas nacionais – venceu uma licitação em 2011 para produzir 21 navios desse tipo nos estaleiros de Rio Grande (RS), Jurong (ES), Kepel Fels (RJ) e Enseada do Paraguaçú (BA). Barusco ressaltou que o "maior contrato de sondas do mundo inteiro" ocorreu dentro da legalidade, mas envolveu um acordo de distribuição de 1% do valor de cada embarcação para as três partes do esquema criminoso.
Como cada navio teve um preço médio de US$ 720 milhões (R$ 2 bilhões), Barusco delatou ao MPF que R$ 60 milhões foram desviados do estaleiro de Rio Grande para serem distribuídos entre ele, o PT e a Sete Brasil. O partido da presidente Dilma Rousseff ficou com a maior parte do dinheiro, segundo ele.
"A divisão se dava da seguinte forma: dois terços para João Vaccari e um terço para a 'Casa 1' e 'Casa 2'. A 'Casa 1' referia-se a pagamentos no âmbito da Petrobras, especificamente para o Diretor de Serviços, Renato Duque, e Roberto Gonçalves, e a 'Casa 2' referia-se ao pagamento de propinas no âmbito da Sete Brasil, especificamente para o declarante, João Carlos de Medeiros Ferraz, presidente da empresa, e, posteriormente, também houve a inclusão de Eduardo Musa, diretor de Participações", aponta a delação.
As 21 unidades estão previstas para ser entregues a partir de 2016 e serão destinadas principalmente à perfuração de poços no pré-sal da Bacia de Santos, incluídas as áreas da cessão onerosa, de onde a estatal está autorizada a retirar 5 bilhões de barris de petróleo.

Jantar na Itália encaminhou acerto
Barusco revelou ao MPF que o operador da fraude em Rio Grande era o empresário Milton Pascowitch, que presta serviços à Ecovix, companhia do ramo de construção naval e off-shore. No depoimento, o ex-gerente da estatal falou que "demorou bastante para se consolidar essa forma de pagamento por conta do grande número de pessoas envolvidas".
Para não haver erro na execução do crime, Barusco, Julio Camargo (lobista da Toyo-Setal), Renato Duque (diretor de Serviços da Petrobras) e João Carlos Ferraz (então presidente da Sete Brasil) selaram o acordo em um jantar em Milão, na Itália, em outubro de 2011. Eles acertaram os detalhes da propina com o presidente do banco suíço Cramer e um agente da instituição, chamado Pierino Lardi.
No dia seguinte, eles abriram contas em nome de off-shores no banco suíço, exceto Camargo, que já mantinha relacionamento com os europeus. Pedro Barusco contou que foram abertas 19 contas em nove bancos e confirmou que o esquema de propinas teve início em 1997.
Uma planilha montada por ele, além de seu depoimento, serviram para a Polícia Federal desencadear a nona fase da Operação Lava-Jato, na última quinta-feira (05.fev.2015), prendendo quatro pessoas. O quadro montado pelo ex-gerente e entregue aos procuradores da República tem cinco páginas e informa, entre outros dados, a obra, quem pagou, intermediário e destino do dinheiro.
O documento de Barusco abrange, no total, 87 dos principais contratos firmados pela Petrobras na última década no país e no Exterior. Somam a quantia de R$ 97 bilhões. Desse total, R$ 1,2 bilhão teriam sido pagos em propina.

P-53, primeira plataforma montada no Estado, em Rio Grande,
aparece na planilha de Barusco

Propinas em três obras da Petrobras no Rio Grande do Sul
Pedro Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobras, afirmou ao Ministério Público Federal (MPF) que três contratos envolvendo obras no Rio Grande do Sul teriam sido foco de cobrança de propina por parte de dirigentes da estatal. O suborno, no Estado, teria alcançado valor equivalente a R$ 110,5 milhões — a maior parte paga em dólares.
Planilha montada por Barusco mostra três obras no Rio Grande do Sul:
  • oleoduto Osório-Canoas – o oleoduto foi construído para aumentar o escoamento de petróleo e derivados entre o terminal da Petrobras, em Osório, e a Refap, em Canoas.
  • montagem da plataforma P-53 – a P-53 foi a primeira plataforma de petróleo montada no Estado. Deixou Rio Grande em outubro de 2008.
  • construção de oito cascos de plataformas – os oito cascos encomendados para a produção de petróleo no pré-sal estão sendo construídos no Estaleiro Rio Grande, operado pela Ecovix, controlada pela Engevix.
A unidade de tratamento de diesel da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) é outro projeto no Estado que pode ter sido envolvido em pagamento de propina.

A planilha dos desvios
Documento fornecido por Barusco ao MPF detalha a cobrança de propina. Além de valores dos contratos e percentual do suborno, o documento especifica a divisão. O termo "casa" refere-se à Diretoria de Serviços da Petrobras, e "part", ao PT, partido ao qual a diretoria estava vinculada.






Empreiteira: Engevix
Obra: Oito cascos
Valor do contrato: US$ 3,37 bilhões
Valor da propina:US$ 33,78 milhões

Empreiteira: Quip (Queiróz Galvão, UTC e IESA)
Obra: Plataforma P-53
Valor do contrato: US$ 523,72 milhões
Valor da propina: US$ 5,23 milhões

Empreiteira: UTC
Obra: Oleoduto Canoas-Osório
Valor do contrato: R$ 109,57 milhões
Valor da propina: R$ 2,19 milhões


Planilha de Alberto Youssef apreendida mirava 17 obras no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, a tabela de Youssef apreendida pela Polícia Federal (PF) lista 17 contratos firmados entre 2008 e 2012. Desses, 10 se referem à Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), da Petrobras, em Canoas. Cinco são para construção de componentes para plataformas petrolíferas, em Charqueadas. E os últimos dois são de áreas muito diferentes: uma obra de saneamento em Porto Alegre e um projeto privado, serviço de engenharia em indústria de celulose em Guaíba (cancelado antes de começar). Somadas, as anotações do doleiro referentes a esses projetos, no lado direito da planilha, totalizam quase R$ 76,7 milhões.


Os 10 contratos da ampliação da Refap foram tocados, inclusive, por empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. A maioria dos documentos foi assinada por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, outro dos delatores do esquema de corrupção na estatal. A ampliação da refinaria foi orçada em R$ 1,59 bilhão e, após três anos de obras, acabou concluída por R$ 2,1 bilhões. Na tabela de Youssef, os registros de valores referentes a esses 10 contratos somam R$ 49,8 milhões. Ou seja, significam pouco mais de 2% do custo final da obra e podem ser referência à comissão recebida pelo doleiro (ou que ele pretendia obter).


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