Diretoria executiva da Petrobrás aprovou compra
de navios-sonda de perfuração marítima
‘fora do procedimento licitatório’
Ex-diretor da estatal que teria recebido
propina milionária, declarou à PF que compra foi feita ‘fora do
procedimento licitatório’; na época, diretoria era presidida por Sérgio
Gabrielli.
O ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró chegando ao IML de Curitiba. |
O ex-diretor da área de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró
afirmou, na quinta-feira (15.jan.2015), que a compra dos navios-sonda de
perfuração marítima, que teriam sido alvo de propina de US$ 30 milhões
para a força-tarefa da Operação Lava Jato, foi feita “fora de
procedimento licitatório” e aprovada pela Diretoria Executiva da
estatal, “composta por seis diretores e o presidente, a quem cabe
examinar a compra de equipamentos e construção de refinarias e
gasodutos”.
O depoimento, com duração de cerca de três horas, foi prestado à Polícia
Federal, em Curitiba. Cerveró, preso desde terça-feira (13.jan.2015), é
acusado de tentar ocultar patrimônio após ser denunciado por corrupção e
lavagem de dinheiro em esquema investigado pela Lava Jato.
Na época da compra dos navios-sonda, o presidente da Petrobrás era José
Sergio Gabrielli, apadrinhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. “Gostaria de esclarecer de forma espontânea que a aquisição
das sondas em questão se deu fora de procedimento licitatório, por ser
incabível diante das circunstâncias que cercavam o negócio, que visava
atender uma necessidade específica e imediata da Petrobrás”, disse
Cerveró, acrescentando que o negócio recebeu parecer jurídico favorável
da estatal.
Fernando Baiano
Cerveró foi questionado, em especial, sobre seu envolvimento com outro
réu da Lava Jato, Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano,
preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele respondeu que o
“conheceu por volta do ano de 2000, quando era gerente executivo de
Energia” da Petrobrás e que ele teve participação ativa no negócio das
sondas. Baiano é apontado como operador do esquema de propinas para o
PMDB, com intermediação de Cerveró.
“Fernando representava empresas espanholas do ramo de energia térmica”,
afirmou a quatro delegados da Polícia Federal. O ex-diretor lembrou que,
nesse período, o País passava por uma crise de abastecimento e apontou a
Union Fenosa como empresa representada por Baiano, que continuou
atuando na Petrobrás, diz Cerveró, “tendo se dirigido a outras
diretorias, como a de Abastecimento e Gás e Energia”.
A primeira era ocupada pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, por
intermédio do PP. Preso em março de 2014, ele virou delator do caso. A
de Gás e Energia era ocupada pela atual presidente da Petrobrás, Graça
Foster. Sua única referência à executiva foi quando perguntado sobre as
transferências de imóveis que ele fez para as filhas, um dia antes de se
tornar réu em ação penal da Lava Jato. “A atual presidente da Petrobrás
realizou operações semelhantes, transferindo imóveis aos filhos dela”.
Cerveró negou ter recebido propina nas negociações dos navios, que
teriam resultado em uma comissão de US$ 30 milhões paga pelo executivo
Julio Camargo, delator do processo.
COM A PALAVRA, JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI:
Presidente da Diretoria Executiva da estatal na época das compras dos
navios-sonda, José Sergio Gabrielli afirmou, por meio de nota, que
desconhece o pagamento de propinas apontadas pelas investigações da Lava
Jato e que as decisões sobre as contratações feitas na época foram
coletivas. “O presidente da companhia, isoladamente, não tem poderes
para aprovar processos de contratação. As decisões são coletivas e de
responsabilidade da diretoria executiva”, diz a nota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário