terça-feira, 16 de dezembro de 2014


SBM nega ser “o cara mau” do mercado de plataformas e tenta limpar seu nome
Diretor da empresa holandesa reconhece erro no pagamento de R$ 102 milhões em propinas a funcionários da Petrobras
Fabricante diz que setor de exploração marítima de petróleo é “escuro como o breu”

Sietze Hepkema, chefe de Governança e Compliance
da SBM Offshore

A empresa holandesa SBM Offshore, que fornece plataformas de exploração de petróleo à Petrobras e confessou ter pago R$ 102 milhões em subornos a dirigentes da estatal de 2005 e 2011, se recusa a ser vista como “o cara mau” do mercado.
Fundada em 1862, a SBM envida esforços para limpar seu nome. Diz que pretende se tornar um modelo de transparência no setor de exploração marítima, tradicionalmente vinculado a estatais de vários países e à tentação constante da propina.
“O mercado offshore é um mundo escuro como o breu. Mas há alguns anos tomamos um novo caminho”, diz Sietze Hepkema, chefe de Governança e Compliance. “Compliance'' é uma expressão em inglês usada no mundo corporativo brasileiro e quer dizer, numa tradução livre, “cuidado e respeito às normas e leis vigentes'' ou “esforço para estar em conformidade com as normas e leis vigentes''.
Em entrevista ao jornal holandês NRC Handelsblad publicada no sábado (13.dez.2014), ele afirma que a SBM passou por um processo de depuração interna e é hoje um “cisne branco” nessa “lagoa negra”.
Hepkema diz que a SBM começou a investigar seus agentes em 2011, mas a apuração só ganhou força no ano seguinte. No Brasil, o agente da SBM era Julio Faerman, que obteve contratos com a Petrobras no valor total de US$ 27,6 bilhões ao longo de 6 anos, segundo reportagem do jornal “O Globo”.
Apesar dos negócios bilionários no Brasil, Hepkema diz que a SBM está arrependida de ter dado tanta liberdade aos seus agentes, considerados o “elo fraco” da empresa. “Agora decidimos que não usamos mais agentes nesse tipo de trabalho. Lamentamos que não tivemos no passado o controle que temos hoje”, afirmou ele ao jornal holandês.
Hepkema também se ressente da cobertura da imprensa brasileira sobre o caso. Cita que o ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, admitiu ter recebido cerca de US$ 100 milhões de propinas por negócios na Petrobras, dos quais US$ 22 milhões da SBM Offshore. “Os jornais brasileiros consideram apenas nós como o cara mau, mas não quem pagou os outros US$ 78 milhões”, diz. Embora a entrevista tenha sido publicada em holandês, nesse trecho aparece a expressão em inglês, “bad guy''.
A SBM tinha esperança da colocar uma pá de cal nas acusações de corrupção ao fechar em 12.nov.2014 um acordo com o Ministério Público da Holanda. A empresa se comprometeu a pagar US$ 240 milhões como punição por oferecer propina no Brasil, Angola e Guiné Equatorial. Mas o momento da assinatura do acordo não foi o mais adequado. Neste último mês, a Operação Lava Jato ganhou proporções inéditas no Brasil e é pouco provável que esse seja o preço final a ser pago pela empresa, hoje sob investigação da Controladoria Geral da União, do Tribunal de Contas da União e da Polícia Federal.
Hepkema diz estar disposto a ir até o fim para limpar o nome da SBM, mesmo que isso implique em levar antigos diretores da empresa para a Justiça. Indagado se a SBM conseguirá operar com transparência nessa “lagoa negra” do mercado offshore, ele se diz otimista. “Podemos fazer isso porque temos uma tecnologia líder. E a pressão para que se aumente a transparência no setor de energia está aumentando”, afirma.

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