segunda-feira, 13 de outubro de 2014


Queda inédita de diplomados
Áreas têm falta de profissionais; punição a cursos ruins contribuiu, diz MEC
Rede privada liderou redução do número de graduados; cursos de formação de professor tiveram baixa de 10%


A queda inédita no número de alunos formados no ensino superior em 2013 acentuou o deficit de profissionais que o país enfrenta nas áreas de saúde e educação.
Cursos como enfermagem, farmácia e odontologia entregaram 13,4% menos diplomas em 2013 em comparação com 2012. Em cursos de formação de professores, verificou-se uma baixa de 10%.
Em ambas as áreas, a redução de estudantes que concluíram o ensino superior foi maior do que a média de 5,65% de todos os cursos.
Em 2012, foram entregues 1,05 milhão de diplomas; no ano passado, 991 mil, de acordo com o censo apresentado pelo Ministério da Educação em setembro.
Foi a primeira vez que caiu o número de formandos desde 2002, quando teve início a série histórica.
O MEC (Ministério da Educação) afirma que a queda se deve a ações de fiscalização em faculdades, entre outros motivos.
Especialistas apontam como fatores de desestímulo para a formação em saúde e educação baixos salários, além de estrutura e gestão precárias, principalmente em cidades do interior do país.

MENOS PROFESSORES
O MEC (Ministério da Educação) informa o número de concluintes por áreas, e não por cursos, seguindo o padrão da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A área de saúde e bem-estar abrange graduações em medicina, enfermagem, farmácia e odontologia, entre outras. No ano passado, voltou ao patamar de 2009 com cerca de 140 mil diplomas. Em 2012, a área havia computado 162 mil graduados.
Segundo o pesquisador Ronaldo Mota, secretário de ensino superior do MEC entre 2007 e 2008, estudantes de medicina não costumam deixar o curso, mas o processo é mais frequente em graduações como enfermagem, fonoaudiologia e fisioterapia.
A área de educação já tinha apresentado redução de 6,37% no número de graduados de 2011 para 2012. Em 2013, houve nova queda, desta vez de 10% -- de 223 mil diplomas para 201 mil.
"É preocupante. O Brasil não tem nenhuma possibilidade de desenvolvimento sem um número de profissionais com curso superior muito acima do que tem hoje. É um país não competitivo internacionalmente", diz Mota, atual reitor da universidade particular Estácio de Sá.

GARGALO
O principal gargalo para a expansão da educação superior está na baixa qualidade do ensino médio, concordam especialistas.
Menos concorrida, a área de educação é a porta de entrada "mais fácil" para estudantes com histórico escolar "frágil" e restrições socioeconômicas, diz Mozart Neves Ramos, integrante do Conselho Nacional de Educação.
"Apesar do brilho nos olhos, os meninos chegam com muitas deficiências", afirma Ramos.
Os cursos de licenciatura são, em geral, noturnos, permitindo o trabalho durante o dia. Para Neves, ao enfrentarem dificuldades curriculares já nos primeiros anos de faculdade, os alunos desistem.

PRIVADAS
Com 77% dos alunos formados, a rede privada liderou a baixa de diplomas, com queda de 6,3% em relação a 2012. As instituições públicas tiveram redução de 3,48%.
No ensino à distância, que formou cerca de 15% dos alunos no ensino superior, ocorreu o oposto. Enquanto a rede pública entregou 34,5% menos diplomas no ano passado, a privada manteve-se praticamente estável.

OUTRO LADO
MEC diz que fiscalização provocou a queda
'Tão importante quanto expandir o número de matrículas é a qualidade dos cursos' afirma a pasta em nota.
O Ministério da Educação afirmou, em nota, que flutuações anuais, especificamente a de 2012 para 2013, "representam questões pontuais" e são "consequência de ações de regulação e supervisão" em cursos com deficiências.
A pasta afirmou que "tão importante quanto expandir o número de matrículas é a qualidade dos cursos. E o governo vem trabalhando nesse sentido em todas as áreas, em especial nos cursos de formação de professores".
Segundo o MEC, em 2013, quase 260 mil professores da educação básica cursavam o ensino superior.
O ministério considera que a migração de estudantes entre diferentes cursos é outra explicação para a variação na taxa de diplomas e tem ocorrido com maior frequência devido a programas federais.
A pasta cita o Sisu, que seleciona alunos por meio do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o Prouni, que concede bolsas de estudo em instituições privadas, e o Fies, programa de financiamento.
O número de formandos em um determinado ano depende do número de ingressantes em um período anterior de quatro anos e meio a cinco anos, ressalta o MEC.
E esse número caiu de 2008 para 2009, passando de 2,6 milhões para 2 milhões.
Segundo a pasta, 97% da queda no número de alunos formados em 2013 está concentrada em 14 instituições, e a maioria delas "passou por supervisão que resultou em suspensão, redução de vagas ou descredenciamento".
A fiscalização teve maior impacto na área de educação, principalmente na modalidade à distância, disse a pasta.

ENGENHEIROS
A área de engenharia, produção e construção, que também enfrenta carência de profissionais foi na contramão da tendência observada na maioria dos cursos.
Com aumentos consecutivos no número de formandos desde 2009, chegou a 81 mil diplomas no ano passado --um aumento de 8,47% em relação ao ano anterior.
O valor, porém, representa menos de 10% do total dos estudantes que se formam no ensino superior.

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