Na década de 60, o menino Aécio e
a adolescente Dilma coabitaram a abastada região sul de BH
Dilma do São Pedro, Aécio da Savassi
Na atual e acirrada disputa pela Presidência da República, Dilma
Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) encarnam hoje dois polos da
política nacional. Mas a presidente que tenta conquistar mais um
mandato para o lulopetismo e o senador que luta para recolocar a
legenda tucana no comando do Palácio do Planalto têm uma origem
comum: embora 12 anos separem Dilma de Aécio, os dois conviveram -
na infância dele e na adolescência dela - na tradicional e abastada
região sul de Belo Horizonte.
No início da década de 1950, Dilma era uma menina séria e ávida por
livros que quase não era vista nas ruas do bairro São Pedro, então
uma área nobre predominantemente residencial e bem tranquila da
capital mineira.
Já na década seguinte, Aécio, que nasceu em 1960, cresceu a poucos
quarteirões dali, na Savassi, um bairro novo, que rapidamente se
transformou em uma das regiões mais prestigiadas da cidade.
Na infância do garoto de perfil expansivo, Belo Horizonte tinha 693
mil habitantes, quase o dobro da população da cidade quando Dilma
nasceu, em 1947. A menina que décadas depois se tornaria presidente
viveu seus primeiros anos no número 469 da rua Major Lopes - que
ainda pertence à família. Iniciou os estudos no Colégio Nossa
Senhora de Sion, escola destinada às filhas da elite da capital
mineira e onde Dilminha, como era conhecida, e seus colegas ainda
tinham aulas de latim e francês.
A menos de um quilômetro da residência dos Rousseff, que ainda
pertence à família e hoje abriga um buffet, o pequeno Aécio vivia na
casa do avô, Tancredo Neves, localizada na Praça Diogo de
Vasconcelos. Era de lá que ele saía diariamente para frequentar as
aulas no Colégio Zilah Frota, no bairro Mangabeiras, outra escola
das famílias abastadas da cidade e coincidentemente localizado nos
fundos do Palácio Mangabeiras, residência oficial do governador de
Minas Gerais - que viria a ser ocupado pelo próprio Aécio entre 2003
e 2010.
“Eles devem ter se cruzado dezenas de vezes”, acredita o compositor
e produtor musical Pacífico Mascarenhas, de 79 anos, integrante da
turma frequentadora da antiga Padaria Savassi, vizinha à casa de
Tancredo e que veio a dar nome à região.
Mas há muito mais em comum entre os dois candidatos além do tipo de
educação que receberam em Belo Horizonte. Eles também frequentavam o
Minas Tênis Clube, o mais tradicional da capital e do qual os pais
de Dilma, o imigrante búlgaro Pedro Rousseff, e de Aécio, o político
Aécio Cunha, eram sócios. A jovem Dilma era titular do clube, usado
pelo menino Aécio para praticar natação. Os dois foram
frequentadores também do Cine Pathé, tradicional cinema que
funcionou na Savassi de 1948 até meados da década de 1990.
“A gente ia muito ao Cine Pathé. Inclusive porque os filmes de arte,
mais interessantes, iam para lá, e também os filmes mais políticos.
O Pathé era uma referência cultural muito forte”, recorda o cineasta
Helvécio Ratton, 65 anos, amigo de Dilma, que começou a andar com a
futura presidente no fim da década de 1960, quando ambos já
militavam na política.
Na adolescência, a diversão mais comum de Dilma eram os bailes da
região. Ainda criança, o atual senador já nutria paixão pelo futebol
e não perdia os jogos do Cruzeiro no Mineirão ou mesmo as “peladas”
das quais o pai participava com veteranos do time do coração. “Aos
sábados os ex-atletas faziam uma pelada e ele (Aécio Cunha)
participava. Depois ficavam tomando uma cervejinha e cantando. Ele
sempre trazia o Aecinho”, recorda José Francisco Lemos Filho, de 84
anos, colega de Cunha no conselho do clube. Como na política, Dilma
e Aécio divergem no futebol. A presidente se declara torcedora do
Atlético-MG.
Aos 10 anos o tucano foi morar no Rio de Janeiro, onde passou a
adolescência e juventude, até retornar a Belo Horizonte para entrar
de cabeça na política como secretário particular do avô Tancredo
Neves, eleito governador.
Dilma fez um caminho inverso. Depois de ingressar na Escola Estadual
Governador Milton Campos - local onde Aécio atualmente vota - e
iniciar a militância contra a ditadura, a atual presidente passou a
viver na clandestinidade e deixou a capital mineira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário