quarta-feira, 22 de outubro de 2014


Acidificação de oceanos poderá causar prejuízo anual de US$ 1 trilhão
Problema afetará recifes de corais, segundo relatório lançado pelo Pnuma e pela Convenção sobre a Diversidade Biológica

Indústria de recreação ligada ao turismo e mergulho depende dos corais,
assim como a pesca artesanal em várias partes do mundo

Os impactos da acidificação dos oceanos poderão causar um prejuízo anual de mais de US$ 1 trilhão para a economia mundial até 2100. A conclusão é de um novo relatório internacional lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD, na sigla em inglês). O documento foi um dos resultados da 12ª Conferência das Partes (COP 12) da CBD, realizada na semana passada em Pyeongchang, na Coreia do Sul, com a participação de 194 países.
De acordo com um dos autores do estudo, Sebastian Hennige, da Universidade Heriot Watt University (Escócia), o prejuízo anual de US$ 1 trilhão até o fim do século teve base na perda prevista de serviços fornecidos pelos recifes de corais - que envolvem turismo, proteção costeira e abastecimento alimentar.
"A acidificação da água marinha afeta a calcificação dos corais, interferindo em seu metabolismo. Uma imensa indústria de recreação ligada ao turismo e mergulho depende dos corais, assim como a pesca artesanal em várias partes do mundo. Os recifes de corais têm sido chamados de 'Amazônias do mar', por causa de imensa quantidade de espécies que eles mantêm", disse Hennige. De acordo com o estudo, os recifes de coral têm papel fundamental para a subsistência de cerca de 400 milhões de pessoas.
Além do turismo e pesca, segundo Hennige, os corais fornecem outros serviços importantes, como a proteção dos litorais, a ciclagem de nutrientes e a absorção de carbono. "O valor desses serviços já é mais difícil de quantificar, assim como a importância cultural dos corais em vários países". declarou.
Segundo ele, para proteger os recifes de corais e a economia ligada a eles, a única solução real é uma ação global para reduzir os impactos da acidificação dos oceanos. "Não há outro caminho. É preciso reduzir a quantidade de dióxido de carbono que está sendo lançada no oceano.
Quando aumenta a quantidade de carbono na atmosfera - como no crescimento recorde registrado em 2013 - o pH das águas diminui, segundo Hennige. "Essa resposta química é inevitável. O que tem sido questionado é o quanto o processo afeta a vida marinha. Há 10 anos, poucos pesquisadores estavam estudando os impactos da acidificação do oceano. Mas desde então mais de mil estudos foram publicados e agora está claro que muitas espécies marinhas sofrerão com uma alta taxa de CO2 na atmosfera, com grandes impactos econômicos", afirmou.
Se não forem tomadas medidas de mitigação das emissões de dióxido de carbono, segundo Hennige, há risco de que o habitat dos corais literalmente se dissolva. "Os corais crescem sobre estruturas feitas por seus ancestrais mortos. Essas estruturas ficarão sujeitas à erosão química em áreas muito grandes do oceano, se as mesmas tendências forem mantidas", disse.
Para elaborar o relatório, a CBD reuniu uma equipe internacional de 30 especialistas, liderada por cientistas do Reino Unido. A conclusão foi que a acidificação dos oceanos já está em andamento e que o problema vai piorar, causando impactos generalizados nos organismos e ecossistemas marinhos.
A Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 20), que será realizada em novembro em Lima (Peru), será uma boa oportunidade para dar atenção à questão, segundo outra autora do relatório, Carol Turley, pesquisadora do Programa de Pesquisa em Acidificação do Oceano do Reino Unido.
"O debate posterior ao Protocolo de Kioto teve pouca inclusão dos temas ligados ao oceano e a questão da acidificação só foi incluída no acordo como uma nota de rodapé. A conferência em Lima, na magnífica costa do Pacífico, parece o lugar apropriado para colocar o tema em pauta. Se o tema do oceano não for incorporado na linguagem das negociações sobre o clima global, temo que ele será sistematicamente ignorado", afirmou.
Segundo ela, os oceanos absorvem cerca de 90% do calor causado pelas mudanças climáticas globais e cerca de 30% das emissões de CO2 da atmosfera. "Os oceanos são realmente uma vítima não reconhecida do CO2. E a importância deles para a sociedade é gigantesca, como mostra o relatório da CBD.

Nenhum comentário:

Postar um comentário