Acidificação de oceanos poderá causar prejuízo anual de US$ 1
trilhão
Problema afetará recifes de corais, segundo relatório lançado pelo
Pnuma e pela Convenção sobre a Diversidade Biológica
Indústria de recreação ligada ao turismo e mergulho depende dos
corais, assim como a pesca artesanal em várias partes do mundo |
Os impactos da acidificação dos oceanos poderão causar um prejuízo
anual de mais de US$ 1 trilhão para a economia mundial até 2100. A
conclusão é de um novo relatório internacional lançado pelo Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Convenção
sobre Diversidade Biológica (CBD, na sigla em inglês). O documento
foi um dos resultados da 12ª Conferência das Partes (COP 12) da CBD,
realizada na semana passada em Pyeongchang, na Coreia do Sul, com a
participação de 194 países.
De acordo com um dos autores do estudo, Sebastian Hennige, da
Universidade Heriot Watt University (Escócia), o prejuízo anual de
US$ 1 trilhão até o fim do século teve base na perda prevista de
serviços fornecidos pelos recifes de corais - que envolvem turismo,
proteção costeira e abastecimento alimentar.
"A acidificação da água marinha afeta a calcificação dos corais,
interferindo em seu metabolismo. Uma imensa indústria de recreação
ligada ao turismo e mergulho depende dos corais, assim como a pesca
artesanal em várias partes do mundo. Os recifes de corais têm sido
chamados de 'Amazônias do mar', por causa de imensa quantidade de
espécies que eles mantêm", disse Hennige. De acordo com o estudo, os
recifes de coral têm papel fundamental para a subsistência de cerca
de 400 milhões de pessoas.
Além do turismo e pesca, segundo Hennige, os corais fornecem outros
serviços importantes, como a proteção dos litorais, a ciclagem de
nutrientes e a absorção de carbono. "O valor desses serviços já é
mais difícil de quantificar, assim como a importância cultural dos
corais em vários países". declarou.
Segundo ele, para proteger os recifes de corais e a economia ligada
a eles, a única solução real é uma ação global para reduzir os
impactos da acidificação dos oceanos. "Não há outro caminho. É
preciso reduzir a quantidade de dióxido de carbono que está sendo
lançada no oceano.
Quando aumenta a quantidade de carbono na atmosfera - como no
crescimento recorde registrado em 2013 - o pH das águas diminui,
segundo Hennige. "Essa resposta química é inevitável. O que tem sido
questionado é o quanto o processo afeta a vida marinha. Há 10 anos,
poucos pesquisadores estavam estudando os impactos da acidificação
do oceano. Mas desde então mais de mil estudos foram publicados e
agora está claro que muitas espécies marinhas sofrerão com uma alta
taxa de CO2 na atmosfera, com grandes impactos econômicos", afirmou.
Se não forem tomadas medidas de mitigação das emissões de dióxido de
carbono, segundo Hennige, há risco de que o habitat dos corais
literalmente se dissolva. "Os corais crescem sobre estruturas feitas
por seus ancestrais mortos. Essas estruturas ficarão sujeitas à
erosão química em áreas muito grandes do oceano, se as mesmas
tendências forem mantidas", disse.
Para elaborar o relatório, a CBD reuniu uma equipe internacional de
30 especialistas, liderada por cientistas do Reino Unido. A
conclusão foi que a acidificação dos oceanos já está em andamento e
que o problema vai piorar, causando impactos generalizados nos
organismos e ecossistemas marinhos.
A Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 20), que será
realizada em novembro em Lima (Peru), será uma boa oportunidade para
dar atenção à questão, segundo outra autora do relatório, Carol
Turley, pesquisadora do Programa de Pesquisa em Acidificação do
Oceano do Reino Unido.
"O debate posterior ao Protocolo de Kioto teve pouca inclusão dos
temas ligados ao oceano e a questão da acidificação só foi incluída
no acordo como uma nota de rodapé. A conferência em Lima, na
magnífica costa do Pacífico, parece o lugar apropriado para colocar
o tema em pauta. Se o tema do oceano não for incorporado na
linguagem das negociações sobre o clima global, temo que ele será
sistematicamente ignorado", afirmou.
Segundo ela, os oceanos absorvem cerca de 90% do calor causado pelas
mudanças climáticas globais e cerca de 30% das emissões de CO2 da
atmosfera. "Os oceanos são realmente uma vítima não reconhecida do
CO2. E a importância deles para a sociedade é gigantesca, como
mostra o relatório da CBD.
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