Moody's rebaixa nota da Petrobrás e mantém perspectiva negativa
Agência diz que decisão reflete a alta alavancagem - relação entre
dívida e patrimônio - da empresa e a percepção de que ela só vai
diminuir depois de 2016
Com alto endividamento e cenário internacional desfavorável, a
Petrobrás teve sua avaliação de crédito rebaixada pela agência de
classificação de risco Moody’s. A agência atribuiu a decisão à uma
piora nos indicadores financeiros, pressionados pela desvalorização
cambial e pela “incapacidade” de repassar os custos e perdas
acumulada nos últimos três anos com a defasagem no preço dos
combustíveis.
A decisão reforça o temor da perda do grau de investimento da
companhia (nota considerada segura pelos investidores), além de
ampliar as críticas à gestão financeira da Petrobrás a cinco dias
das eleições.
A agência revisou a classificação de Baa1 para Baa2. Na escala da
Moody’s, assim como na da agência Fitch, são necessários mais dois
rebaixamentos para que a companhia perca o grau de investimento. Já
a nota concedida pela Standard&Poor’s a Petrobrás está no limite
do descredenciamento.
“Quando há alta alavancagem, resta pouca flexibilidade para lidar
com uma situação em que os indicadores são diferentes do planejado.
Quanto mais alavancagem, mais vulnerável fica a companhia”, diz a
analista da Moody’s, Nymia Almeida.
A alavancagem é medida pela relação entre o endividamento e a
geração de caixa da empresa. A estatal espera fechar o ano com um
nível de 44,7%, bem acima da meta estabelecida pelo conselho de
administração, de 35%. O patamar não é atingido desde o terceiro
trimestre de 2013. Em seu plano estratégico, divulgado em fevereiro,
a Petrobrás estima que o indicador iniciará uma trajetória de queda
a partir do próximo ano.
A Moody’s questiona as projeções e avalia que somente em 2017 haverá
melhora. “A alavancagem ainda vai piorar e demorar bastante até
reduzir. Não há um fato material que possa mudar nossa visão no
curto prazo”, indicou Nymia.
Governo
Em nota, a estatal informou que o rating, ainda grau de
investimento, é “embasado por sua larga base de reservas e
dominância na indústria do petróleo no Brasil”, destacando os
avanços de produção no pré-sal. A Petrobrás avaliou que a nota
considera um “suporte extraordinário do governo federal num cenário
de estresse”.
Fontes do conselho de administração dizem que o colegiado aguardava
essa posição. “Não significa que o conselho quisesse, é claro. Mas o
conselho estava de olho em um possível rebaixamento há muito tempo”,
afirmou Silvio Sinedino, representante dos funcionários.
Já outro conselheiro classifica a situação como “terrível” e avalia
que, diante da tensão eleitoral, a Petrobrás não deve alterar seu
plano estratégico até o resultado das urnas.
O Porquê
A Moody’s atribuiu o rebaixamento à “incapacidade de repassar os
custos relacionados aos derivados de petróleo importados, à
desvalorização da moeda local e ao agressivo programa de
investimentos”.
A queda na cotação do barril de petróleo, negociado a US$ 86, também
interferiu. A agência estima que a situação desfavorável pode ser
duradoura, em um patamar de US$ 70.
A agência negou relação com o calendário eleitoral. Mas as
incertezas do período pressionam ainda mais o câmbio, que interfere
em cerca de 70% da dívida da companhia. As pesquisas eleitorais
também influenciaram a queda de 6,9% nas ações preferenciais da
companhia no pregão de terça-feira, 21.out.2014.
A analista Karina Freitas, da Concórdia Corretora, classificou como
“atípico” o rebaixamento num período “conturbado” de eleições. “O
fato de estar se posicionando agora, tendo recentemente revisado a
perspectiva do rating do Brasil, pode sinalizar preocupação efetiva
e mostrar que as coisas precisam melhorar de alguma forma.”
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