Primeiro foguete com combustível líquido é lançado em Alcântara
Movido a etanol e oxigênio líquido, o veículo de sondagem tem motor totalmente desenvolvido no País; voo teve duração de 3min34s
O primeiro foguete brasileiro com combustível líquido foi lançado às 23
horas de segunda-feira, 1º de setembro, do Centro de Lançamento de
Alcântara (CLA). O principal objetivo da missão, coordenada pelo
Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), era testar o motor L5,
totalmente desenvolvido no Brasil e que utiliza etanol e oxigênio
líquido para propulsão.
O foguete de sondagem é suborbital, isto é, não sai da atmosfera
terrestre. No voo, com duração de três minutos e 34 segundos, o VS-30
descreveu uma parábola até cair no mar, conforme o previsto. A Marinha
atuou no isolamento do tráfego marítimo e na comunicação com os
navegantes.
De acordo com o coordenador geral da operação, coronel Avandelino
Santana Junior, o combustível líquido - utilizado na maior parte dos
programas espaciais do mundo - substituirá com diversas vantagens, no
futuro, os propulsores sólidos utilizados até hoje no VLS-1 (Veículo
Lançador de Satélites) do Programa Espacial Brasileiro. "Se comparado a
países como China e Índia, Brasil está no estágio inicial do
desenvolvimento de propulsão líquida para foguetes. Os maiores satélites
são colocados em órbita com motores de combustível líquido", disse.
O desenvolvimento do motor L5, segundo Santana Junior, foi resultado de
anos de estudo no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial
(DCTA), ligado ao comando da Aeronáutica. "O L5 foi testado pela
primeira vez no Brasil em condições de temperatura e pressão reais",
afirmou. A propulsão líquida, de acordo com ele, tem as vantagens de
melhorar a precisão da inserção em órbita e liberar mais energia de
impulsão e usar câmaras de combustão mais leves - o que aumenta a força
do foguete, diminuindo seu peso. "Teoricamente, a substituição do
combustível sólido permitirá quase dobrar a carga-útil - isto é, o
conjunto de módulo e satélite - do nosso atual lançador VLS-1", afirmou.
O VS-30 V13 decolou movido por um estágio propulsor de combustível
sólido, que foi programado para se desprender do foguete 124 segundos
após o lançamento. A partir daí, uma carga de nitrogênio gasoso aciona o
estágio propulsor de combustível líquido (EPL), enviando o etanol e o
oxigênio líquido para o motor L5, converte a energia química em força
propulsora. O impulso gerado é de cinco quilonewtons. O voo impulsionado
pelo motor de etanol e oxigênio líquido durou um minuto e meio.
O foguete levou embarcados dispositivos experimentais do IAE, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da empresa Orbital
Engenharia. A carga útil não é resgatada. Mas o módulo de telemetria
monitorou todo o funcionamento no estágio de propulsão líquida, enviando
os dados remotamente para o estudo do comportamento do veículo.
"Verificamos o bom funcionamento do motor L5 durante os 90 segundos
previstos", disse Santana Junior.
Segundo Santana Junior futuras versões dos principais veículos
lançadores de satélites brasileiros preveem estágios a propulsão
líquida. Para isso, segundo ele, é essencial o domínio técnico desse
tipo de combustível. "Com as vantagens desse tipo de combustível,
esperamos que haja no país o desenvolvimento de toda uma cadeia técnica e
produtiva - envolvendo centros de pesquisa, institutos, universidades,
indústria - especializada em projetos envolvendo propulsão líquida",
afirmou.
Além dos testes do combustível, da interface entre o propelente sólido e
o líquido, a missão também teve os objetivos de manter a
operacionalidade do centro de lançamento e dar prosseguimento ao
Programa Espacial Brasileiro, em coordenação com a Agência Espacial
Brasileira (AEB). "Além disso, em um cenário de baixo orçamento e sem
cooperação estrangeira na área de propulsão líquida, isso pode ser uma
alternativa para treinar e capacitar equipes nessa área", declarou
Santana Junior.
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