Projeção —> nova forma de se manifestar
O produtor de VJ Spencer, um dos criadores do Projetemos, diante de imagem do grupo |
Em tempos de pandemia e confinamento, um novo tipo de protesto passou a
acompanhar os panelaços contra o governo Jair Bolsonaro. Projeções
feitas em paredões de prédios dão voz às pessoas que, dentro de casa,
acham que bater panela é pouco para manifestar indignação política ou
alertar sobre os cuidados recomendados contra o coronavírus.
Em menos de 24 horas, a iniciativa de um produtor de vídeo e de uma
cientista política, ambos moradores de São Paulo, ganhou o País. Pelas
redes, o Projetemos, que hoje virou um grupo com mais de 150 pessoas,
debate diariamente a pauta das mensagens e compartilha arquivo único
para projeção, mesmo que de forma caseira, e dicas para obter o melhor
resultado.
De acordo com o VJ Felipe Spencer, um dos criadores do grupo, basta
baixar as imagens no computador, conectá-lo a qualquer projetor e
apontar para uma parede vizinha. As exposições são informais, ou seja,
sem autorização de condomínios ou das prefeituras — na capital paulista,
a Lei Cidade Limpa proíbe esse tipo de ação.
“Nossa intenção é conscientizar as pessoas sobre a situação que estamos
vivendo, destacar a posição dos especialistas da área médica e protestar
contra a postura do governo diante da pandemia.”
Na semana passada, as projeções se tornaram coletivas, diárias (sempre
às 20h) e com duas horas, em média, de duração. Nesse período, as
mensagens são trocadas, alternando dicas de saúde com críticas
políticas. Salvador, Recife, Rio, Belo Horizonte e Brasília são algumas
das cidades que já registraram ações do Projetemos.
O grupo faz contato, quando possível, com especialistas para chegar às frases ideais.
Os participantes também tomaram partido na polarização mais recente da
política brasileira: a necessidade de isolamento social para combater a
pandemia, defendida por governadores e negada pelo presidente Jair
Bolsonaro. Nas paredes dos prédios, mensagens como “Ei, mano, fica em
casa” fizeram defesa do distanciamento emergencial.
Projeção em prédio da Vila Madalena, em São Paulo |
Empatia —> Mas nem tudo é protesto. Brunna Rosa, que trabalha
como estrategista de redes sociais, diz que o objetivo é também focar na
formação de uma rede de afeto. Ela destaca as mensagens otimistas
projetadas em todo o Brasil, como “Vai dar tudo certo” ou “Vai passar,
fiquem vivos para ver.”
“As nossas projeções são coletivas desde o dia 21.mar.2020. Foi
fantástico nesse dia ver uma enorme rede de solidariedade e informação
se formando”, disse Brunna. “E depois todo mundo manda foto dos
bastidores. Tem gente que coloca o projetor em cima de uma tábua de
passar roupa, na pia da cozinha, adaptado num banquinho. Todo mundo pode
dar um jeito de usar a arte para quebrar barreiras.”
A repercussão ganhou as redes e o grupo começa hoje a ensinar a
distância como dar seu recado. Uma live destinada a jovens da Rocinha,
uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, oferece uma introdução à
projeção mapeada. “Mesmo quando essa pandemia passar vamos continuar com
as mensagens. Sempre há o que reivindicar”, diz Spencer.
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