Ação pede à Justiça que barre
31 de março festivo de Bolsonaro
31 de março festivo de Bolsonaro
Ação popular pede à Justiça que barre a comemoração de 31 de março,
ordenada pelo presidente Jair Bolsonaro aos quartéis das Forças Armadas.
Nesta data, em 1964, um golpe militar derrubou o governo João Goulart e
iniciou um regime ditatorial que durou 21 anos.
Na terça-feira, 26.mar.2019, um advogado e um defensor público federal
também pediram que a Presidência se abstivesse de celebrar a data. A
juíza federal da 6ª Vara de Brasília, Ivani da Silva Luz, mandou na
quarta-feira, 27.mar.2019, intimar Bolsonaro sobre ação popular do
advogado Carlos Alexandre Klomphas.
Em seu texto, a ação aponta para ‘lesão à Moralidade Administrativa e ao Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiros’.
“Não é moralmente correto um ato que manda comemorar o início do mais
longo regime de exceção da História do Brasil e um dos mais longos do
mundo. Comemorar a tortura, a exceção e a morte é provavelmente, uma das
poucas condutas cuja imoralidade é passível de consenso”, destaca.
Na ação, destaca-se que: ‘durante a Ditadura Militar os crimes de tortura e homicídio foram usados como método’.
“Havia planejamento de curto, médio e longo prazo da prática destes
crimes para calar ou eliminar toda e qualquer forma de oposição”,
aponta.
Entenda o caso – Na segunda-feira, 25.mar.2019, o
porta-voz da Presidência da República, general Otávio Santana do Rêgo
Barros, informou que a inclusão da data na ordem do dia das Forças
Armadas, para comemoração dos 55 anos do golpe de 1964, já foi aprovada
por Bolsonaro. A participação do presidente nesses eventos, porém, ainda
não está confirmada.
“O presidente não considera 31 de março de 1964 um golpe militar”, disse
o porta-voz. Segundo Rêgo Barros, na avaliação de Bolsonaro, sociedade
civil e militares, “percebendo o perigo” que o País vivenciava naquele
momento, se uniram para “recuperar e recolocar o nosso País no rumo”.
“Salvo melhor juízo, se isso não tivesse ocorrido, hoje nós estaríamos
tendo algum tipo de governo aqui que não seria bom para ninguém”, disse o
porta-voz.
Questionado sobre como serão as comemorações, Rêgo Barros disse que
ficará a cargo de cada comando. “Aquilo que os comandantes acharem,
dentro das suas respectivas guarnições e dentro do contexto, que devam
ser feitas”, disse. Não há previsão de que haja qualquer evento no
Palácio do Planalto.
Cautela – Generais da reserva que integram o primeiro
escalão do Executivo, porém, pediram cautela no tom para evitar ruídos
desnecessários diante do clima político acirrado e do risco de polêmica
em meio aos debates da reforma da Previdência no Congresso.
Em um governo que reúne o maior número de militares na Esplanada dos
Ministérios desde o período da ditadura (1964-1985) – o que já gerou
insatisfação de parlamentares –, a comemoração da data deixou de ser uma
agenda “proibida”. Ainda que sem um decreto ou portaria para
formalizá-la, a efeméride volta ao calendário de comemorações das Forças
Armadas após oito anos.
Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff, ex-militante torturada no
regime ditatorial, orientou aos comandantes da Aeronáutica, do Exército e
da Marinha a suspensão de qualquer atividade para lembrar a data nas
unidades militares.
O Ministério da Defesa, que reúne as três Forças Armadas, divulgou
nota na quarta-feira, 27.mar.2019, em que afirma que, em 1964, ‘as
famílias no Brasil estavam alarmadas e colocaram-se em marcha’. O texto
busca aplacar pesadas manifestações contra a ordem do presidente Jair
Bolsonaro para os quartéis festejarem a data.
Leia a íntegra da nota da Defesa.
MINISTÉRIO DA DEFESA
Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964
Brasília, DF, 31 de março de 2019
As Forças Armadas participam da história da nossa gente, sempre alinhadas com as suas legítimas aspirações. O 31 de Março de 1964 foi um episódio simbólico dessa identificação, dando ensejo ao cumprimento da Constituição Federal de 1946, quando o Congresso Nacional, em 2 de abril, declarou a vacância do cargo de Presidente da República e realizou, no dia 11, a eleição indireta do Presidente Castello Branco, que tomou posse no dia 15.
Enxergar o Brasil daquela época em perspectiva histórica nos oferece a oportunidade de constatar a verdade e, principalmente, de exercitar o maior ativo humano – a capacidade de aprender.
Desde o início da formação da nacionalidade, ainda no período colonial, passando pelos processos de independência, de afirmação da soberania e de consolidação territorial, até a adoção do modelo republicano, o País vivenciou, com maior ou menor nível de conflitos, evolução civilizatória que o trouxe até o alvorecer do Século XX.
O início do século passado representou para a sociedade brasileira o despertar para os fenômenos da industrialização, da urbanização e da modernização, que haviam produzido desequilíbrios de poder, notadamente no continente europeu.
Como resultado do impacto político, econômico e social, a humanidade se viu envolvida na Primeira Guerra Mundial e assistiu ao avanço de ideologias totalitárias, em ambos os extremos do espectro ideológico. Como faces de uma mesma moeda, tanto o comunismo quanto o nazifascismo passaram a constituir as principais ameaças à liberdade e à democracia.
Contra esses radicalismos, o povo brasileiro teve que defender a democracia com seus cidadãos fardados. Em 1935, foram desarticulados os amotinados da Intentona Comunista. Na Segunda Guerra Mundial, foram derrotadas as forças do Eixo, com a participação da Marinha do Brasil, no patrulhamento do Atlântico Sul e Caribe; do Exército Brasileiro, com a Força Expedicionária Brasileira, nos campos de batalha da Itália; e da Força Aérea Brasileira, nos céus europeus.
A geração que empreendeu essa defesa dos ideais de liberdade, com o sacrifício de muitos brasileiros, voltaria a ser testada no pós-guerra. A polarização provocada pela Guerra Fria, entre as democracias e o bloco comunista, afetou todas as regiões do globo, provocando conflitos de natureza revolucionária no continente americano, a partir da década de 1950.
O 31 de março de 1964 estava inserido no ambiente da Guerra Fria, que se refletia pelo mundo e penetrava no País. As famílias no Brasil estavam alarmadas e colocaram-se em marcha. Diante de um cenário de graves convulsões, foi interrompida a escalada em direção ao totalitarismo. As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo.
Em 1979, um pacto de pacificação foi configurado na Lei da Anistia e viabilizou a transição para uma democracia que se estabeleceu definitiva e enriquecida com os aprendizados daqueles tempos difíceis. As lições aprendidas com a História foram transformadas em ensinamentos para as novas gerações. Como todo processo histórico, o período que se seguiu experimentou avanços.
As Forças Armadas, como instituições brasileiras, acompanharam essas mudanças. Em estrita observância ao regramento democrático, vêm mantendo o foco na sua missão constitucional e subordinadas ao poder constitucional, com o propósito de manter a paz e a estabilidade, para que as pessoas possam construir suas vidas.
Cinquenta e cinco anos passados, a Marinha, o Exército e a Aeronáutica reconhecem o papel desempenhado por aqueles que, ao se depararem com os desafios próprios da época, agiram conforme os anseios da Nação Brasileira. Mais que isso, reafirmam o compromisso com a liberdade e a democracia, pelas quais têm lutado ao longo da História.
FERNANDO AZEVEDO E SILVA
Ministro de Estado da Defesa
ILQUES BARBOSA JUNIOR
Almirante de Esquadra
Comandante da Marinha
Gen Ex EDSON LEAL PUJOL
Comandante do Exército
Ten Brig Ar ANTONIO C. M. BERMUDEZ
Comandante da Aeronáutica
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