Nas dependências da Polícia Federal
Lula chega a Curitiba, apos ser preso em 07.04.2018 |
Instalado em uma cela de 15 metros quadrados com banheiro na sede
paranaense da Polícia Federal e sem permissão judicial para ter contato com os demais
presos, Lula passou a conviver intensamente com os policiais. O contato
é maior ainda nos fins de semana, quando as visitas, até mesmo de
advogados, são proibidas. Hoje ele tem direito de receber um líder
religioso às segundas, além de familiares e dois amigos às quintas.
A primeira conversa do petista com seus carcereiros acontece por volta
das 7 horas, quando o café da manhã, geralmente um pão, suco e café, é
levado para o preso. Àquela hora, Lula já está de pé. Regularmente de
bom humor, com seu calção do Corinthians ou moletom nos dias mais frios,
lança logo a primeira piada. As brincadeiras são dirigidas a quase
todos que aparecem para vê-lo. Nem os juízes da vara de execução penal
de Curitiba foram poupados. Na semana passada, quando vistoriaram a cela
de Lula, ele disparou rindo: "Olha o livro que estou lendo, para
aprender a me controlar aqui", e apontou para A virtude da raiva, escrito
por Arun Gandhi, neto do líder pacifista Mahatma Gandhi.
Vez ou outra, policiais chegam a fazer companhia ao ex-presidente por
alguns minutos, enquanto ele assiste a programas dominicais dentro da
própria cela. A Justiça permitiu que o petista tivesse uma tevê no
local. No controle-remoto de Lula, apenas canais abertos e filmes
levados em pen-drives.
É ao redor da mesa quadrada de quatro lugares que assistem ao Domingão
do Faustão, ou a jogos de futebol. Um dos quadros que mais entusiasmaram
o petista nesses meses de prisão foi o "Show dos famosos", em que
globais dublam cantores. A apresentação mais elogiada pelo ex-presidente
foi a do ator Silvério Pereira como a francesa Édith Piaf.
Preso há seis meses, Lula chamou a atenção dos funcionários da PF não só
pelo bom humor, descrito por eles como “inabalável”, mas também pelas
horas que passa entretido com os mais de 40 livros que ganhou. “Quando
Lula chegou aqui, a fama era de que não tinha nada de intelectual. Mas
desde que foi preso, passa a maior parte do tempo lendo e escrevendo.”
Policiais contam que, após a leitura, o petista costuma relatar a eles
um resumo das obras. Quase sempre, faz um paralelo com o que o Brasil
vive hoje. As referências são eruditas.
O ex-presidente já falou sobre obras do russo Leon Tolstói, citou
Dostoiévski e dissertou sobre Amor nos tempos do cólera, do colombiano
Gabriel García Márquez. Os textos do linguista americano Noam Chomsky,
um dos principais intelectuais de esquerda da atualidade, entrou na roda
de conversas no último mês, após a visita do professor ao petista.
Houve tietagem. Policiais que leram seus textos nos tempos de
universitários pediram selfies para o americano.
Lula sempre evitou falar de política com os agentes, mas nas últimas
semanas, quando ficou praticamente impossível não tratar da eleição, tem
quebrado a própria regra. Quando o assunto surge, o ex-presidente não
se furta em dizer que cumpriu sua missão e deixou seu legado para o
país. Preparado para o pior, tem dito que o PT “tem que cair de pé” e
destacar o que fez pelo Brasil.
Com Lula, nunca falta papo. Algumas vezes, as conversas só acabam por
causa da disciplina espartana da PF. Com a chegada da noite, é hora do
preso ficar só.
Os carcereiros de Lula vão votar no PT de olhos fechados. Um pequeno
grupo da corporação que simpatiza com o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva — aqueles que o conheceram desde abril, quando Lula foi parar
atrás das grades do prédio da PF, em Curitiba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário