Temer diz que nomeará ministros mais técnicos
O presidente Michel Temer |
Prestes a trocar pelo menos mais 13 ministros que deixarão a Esplanada
para participar das eleições, Michel Temer disse na sexta-feira
(02.02.2018): “Farei a opção por um ministério técnico.”
Simultaneamente, voltou a defender a nomeação da deputada Cristiane
Brasil, filha do presidente do PTB, Roberto Jefferson.
Temer soou assim, contraditório, numa entrevista à ‘Rádio Jornal’, de
Pernambuco. O entrevistador perguntou o que Cristiane Brasil ainda
precisa fazer para que Temer desista de acomodá-la na pasta do Trabalho.
E o presidente: “Eu estou esperando a decisão do Judiciário. Você sabe
que eu sou muito atento à separação de funções estatais e sou muito
obediente às decisões judiciais.”
Nomeada em 4 de janeiro de 2018, a filha de Jefferson teve a posse
adiada um par de vezes por conta de liminares judiciais. A última delas
foi expedida pela presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia. O
pano de fundo da controvérsia é o fato de a quase-ministra ter sido
alvejada por duas ações trabalhistas. Numa, foi condenada a pagar R$ 60
mil a um ex-motorista. Noutra, fechou acordo com outro motorista — coisa
de R$ 14 mil —, para evitar uma segunda condenação.
Na entrevista, Temer se absteve de discutir se uma pessoa sentenciada
por violar direitos trabalhistas e filmada numa lancha ironizando a
Justiça do Trabalho tem ou não condições morais de comandar o ministério
incumbido de zelar pelo cumprimento das leis que amparam os
trabalhadores. Limitou-se a realçar que a prerrogativa de nomear
ministros é sua, não dos juízes.
“Sou obediente às competências que a Constituição conferiu ao presidente
da República. Ao presidente foi conferida a competência privativa de
nomear ministros de estado. E como a Constituição não tem palavras
inúteis, quando ela diz privativa, significa que priva outrem da prática
daquele ato. Estou esperando a decisão final do Judiciário e serei
obediente a ele, mas confio que lá no Supremo Tribunal Federal — a nossa
presidente [Cármen Lúcia] é uma eminente constitucionalista — haverá
obediência à esta competência que acabei de mencionar.”
A ênfase com que Temer defende a escolha da filha de Jefferson
enfraquece sua hipotética “opção por um ministério técnico.” É possível
que o presidente seja compelido a acomodar especialistas em algumas
pastas, pois os congressistas que forem às urnas são proibidos pela
legislação de ocupar cargos públicos no Executivo.
Entretanto, os “técnicos” que Temer eventualmente terá que nomear serão
indicados por padrinhos políticos. Dito de outra maneira: os ministérios
continuarão sendo feudos dos partidos, comandados por prepostos de
bancadas legislativas e caciques políticos. O ministério da Indústria e
Comércio, por exemplo, permanece vago à espera de que o PRB, partido
vinculado à Igreja Universal, indique um novo titular.
Avaliação do governo Temer — Recente pesquisa demonstrou
que a imagem do governo Michel Temer continua estabilizada no fundo do
poço, a taxa de aprovação do presidente oscilou de 5% para 6%. O índice
de reprovação, foi de 71% para 70%.
Os 70% de reprovação conservam Temer no pedestal reservado aos presidentes mais impopulares da história.
Em verdade, o presidente Temer tornou-se uma espécie de teflon às
avessas. Por ora, boas notícias como a queda dos juros e a inflação
abaixo da meta não grudaram nele. O brasileiro ainda não enxergou luz no
fim do túnel. Pior: tomados pelo mau humor, muitos parecem avaliar que
já roubaram até o túnel.
Cristiane Brasil |
Cristiane Brasil é investigada por suposta associação com o tráfico
— Segundo denúncia, assessores da deputada teriam dado dinheiro a
traficantes para poder fazer campanha na Zona Norte do Rio. Ela nega.
A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), nomeada para o Ministério do
Trabalho, e que até agora não conseguiu assumir, está sendo investigada
num inquérito por suposta associação ao tráfico de drogas.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro começou a investigar o caso em 2010 a partir de uma denúncia.
Assessores de Cristiane Brasil, do PTB, são suspeitos de terem dado
dinheiro a traficantes em troca do "direito exclusivo" de fazer campanha
eleitoral em Cavalcanti, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. O
autor da denúncia também disse que presidentes de associações do bairro
foram levados para conversar com o chefe do tráfico na região por
estarem se recusando a trabalhar para a deputada.
Em 2010, Cristiane Brasil era vereadora licenciada e ocupava a
Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, da
Prefeitura do Rio. Na época, ela não se candidatou, mas apoiou a
candidatura do deputado estadual Marcus Vinicius, também do PTB,
ex-cunhado de Cristiane Brasil.
A investigação, que apura o suposto crime de associação para o tráfico,
ficou quase oito anos na Delegacia de Combate às Drogas do Rio. O
Ministério Público Estadual informou que recebeu o inquérito oito dias
atrás. Como a deputada tem foro privilegiado, o inquérito foi enviado ao
Ministério Público Federal na última quinta-feira (01.fev.2018). E deve
ser encaminhado à Procuradoria-Geral da República na segunda
(05.fev.2018).
A assessoria de Cristiane Brasil informou que a deputada não gravaria
entrevista. Em nota, Cristiane afirmou que o inquérito foi aberto
baseado em uma denúncia anônima durante a campanha de 2010. Disse também
que não foi ouvida no inquérito e nega veementemente que tenha tido
contato com qualquer criminoso. A deputada afirmou ainda que estranha o
encaminhamento ao Ministério Público Federal, justamente, agora, que foi
nomeada para assumir o Ministério do Trabalho.
Em entrevista, o Presidente Nacional do PTB e pai de Cristiane Brasil,
Roberto Jefferson, disse que não desistirá da nomeação de sua filha e
que ela não vai sair de bandida.
Desde o início do ano, Cristiane Brasil vem se envolvendo em polêmicas.
Ela foi nomeada Ministra do Trabalho pelo presidente Michel Temer, mas
teve a posse suspensa pela Justiça Federal de Niterói. Um grupo de
advogados argumentou judicialmente que Cristiane Brasil não atende ao
requisito da moralidade administrativa, previsto na Constituição. Ela já
respondeu a duas ações trabalhistas, por não assinar a carteira de
motoristas particulares. Numa delas foi condenada a pagar indenização.
Na outra, fez acordo.
No início da semana, a deputada federal divulgou um vídeo numa rede
social falando sobre os motivos que vem impedindo a posse dela como
ministra do Trabalho.
A Advocacia Geral da União já recorreu e perdeu vários recursos. Acionou
o Superior Tribunal de Justiça, que liberou a posse. Mas, a presidente
do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, suspendeu a posse
novamente numa decisão liminar.
Cristiane Brasil pediu a revogação. Agora, uma decisão definitiva pode
ser tomada pela ministra Cármen Lúcia ou pelo plenário do STF.
A assessoria de Cristiane Brasil afirmou também que, se o inquérito
ficou parado, as responsabilidades devem ser apuradas. E que não se pode
aceitar que investigações sejam engavetadas e movimentadas ao sabor das
conveniências das autoridades para atingir a honra de agentes públicos.
A Polícia Civil do Rio disse que o caso está sob sigilo e por isso não pode comentar a respeito.
A assessoria do deputado Marcus Vinícius declarou que ele prestou
esclarecimentos em 2010 sobre a denúncia anônima feita, de acordo com
ele, por motivações políticas de algum adversário. Disse ainda que as
acusações não foram comprovadas, e que nunca houve denúncia criminal
contra ele.
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