Sem Lula, eleitores que declaram voto no ex-presidente levariam Bolsonaro para o 2º turno
José Roberto de Toledo |
Não é só ao PT que convém manter viva a candidatura presidencial de
Lula, pelo menos por enquanto. Aos partidos que buscam ocupar o centro
do espectro político também — especialmente ao PSDB. A mais recente
pesquisa Datafolha mostra que, hoje, o petista é um obstáculo ao
crescimento mais acelerado de Bolsonaro. Sem Lula, eleitores que
declaram voto no ex-presidente elevariam o militar reformado a patamar
acima de 20%, um passaporte para o 2º turno.
Com Lula fora do páreo, Bolsonaro aumenta em 26% sua intenção de votos
no Datafolha. O militar reformado cresce 4,5 pontos na média dos
cenários testados: vai de 16,8% a 21,3% quando o ex-presidente não
aparece na lista. Mais: Bolsonaro se distancia de Alckmin e abre 12
pontos do tucano. Esse nem é o único problema do PSDB causado por uma
eventual saída prematura de Lula.
Marina Silva e Ciro Gomes herdam ainda mais eleitores lulistas do que
Bolsonaro: 6 e 5 pontos, respectivamente. Como resultado, ambos se
destacam de Alckmin quando o candidato petista é outro. Com Fernando
Haddad, Marina vai de 10% para 16%, e Ciro quase dobra, de 7% para 12%.
Ambos deixam o tucano sozinho no quarto lugar, com 9%, e a sete pontos
de uma vaga no 2º turno.
É certo que a esta altura da corrida presidencial as pesquisas de
intenção de voto não passam de simulações que, olhando-se eleições
passadas, guardam pouca relação com o resultado das urnas. Mesmo assim,
são ferramentas fundamentais para entender as afinidades, simpatias e
antipatias do eleitorado. O que o Datafolha confirma é que Alckmin é o
mais atrasado na disputa.
Não estivesse o líder sob grande risco de ser sacado da corrida pela
Justiça, os adversários imediatos do tucano estariam ainda mais
adiantados do que ele na conquista de votos. O problema de Alckmin não é
se tornar conhecido, mas ficar palatável aos eleitores mais pobres,
principalmente do Nordeste. É um eleitorado que sabe quem ele é, só não
votaria nele.
Hoje, o tucano é apenas a quarta ou quinta opção da massa de eleitores
que esteve do lado vencedor da disputa presidencial em 2006, 2010 e
2014. Se, em vez do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, o
ex-governador baiano Jaques Wagner vier a substituir Lula na chapa
petista, ainda mais tortuoso será o caminho nordestino de Alckmin para
chegar a Brasília. Por isso o governador paulista precisa do tempo que a
candidatura-tampão de Lula lhe dá, para tentar melhorar sua imagem fora
de São Paulo.
O raciocínio também vale para o PT. Se Lula deixasse hoje a disputa, as
chances de ele conseguir transferir votos para seu substituto seriam
muito menores do que se isso viesse a ocorrer na reta final da campanha,
quando a candidatura petista disporá de tempo garantido de TV e rádio
para martelar a troca e pregar na cabeça do eleitorado lulista o nome de
Wagner ou de Haddad.
Quanto a Bolsonaro, a pesquisa confirma que ele é um fenômeno sem
precedente na história das disputas presidenciais pós-ditadura. Nunca
antes um candidato que vai ter muito pouco tempo de TV no horário
eleitoral na reta final da campanha partiu de um patamar tão elevado
quanto Bolsonaro. Collor teve 10 minutos em 1989 — uma eternidade se
comparado ao tempo do Patriotas.
A intenção de voto em Bolsonaro só faz se consolidar. É o único que
segue crescendo na pesquisa espontânea. Saiu de 3% um ano atrás para 7%
em abril, foi a 9% em setembro e chegou agora a 11%. Fora ele e Lula,
ninguém supera 1% nesse tipo de pergunta, em que o eleitor responde sem
que lhe informem quem são os concorrentes. Bolsonaro tem um eleitorado
convicto, que comunga um ideário com ele e é menos propenso a mudar de
candidato.
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