Lobista administrava conta de propinas para
'pessoas do PT' no exterior
'pessoas do PT' no exterior
Gerson Almada |
Em depoimento espontâneo à Polícia Federal, o ex-vice-presidente da
Engevix, Gerson Almada, declarou que o lobista e delator da operação
Lava-Jato Milton Pascowitch contou que administrava uma conta bancária
em Madri, na Espanha, para “pessoas do PT”. Almada entendeu que essas
“pessoas do PT” seriam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
ex-ministro José Dirceu. As declarações foram anexadas ao processo que
apura o pagamento de propinas, entre 2011 e 2014, pelas empresas Engevix
e UTC para Dirceu, que foi chefe da Casa Civil de Lula.
Dirceu é acusado de receber R$ 2,4 milhões dessas empresas no esquema de
corrupção montado na Petrobras e usar os recursos para pagar uma
empresa de comunicação com o objetivo de melhorar sua imagem pública
após as denúncias do esquema do Mensalão. A força-tarefa da Lava-Jato
apresentou denúncia contra o ex-ministro José Dirceu pelo recebimento
desse valor.
Almada afirmou ao delegado Felipe Hayashi, da Polícia Federal do Paraná,
em julho passado, que Milton Pascowitch, considerado operador de
propinas em contratos da Petrobras, disse que iria viajar a Paris, na
França, e, “para não deixar rastros”, seguiria até Madri de trem para
“olhar a conta” que “administrava” para “pessoas do PT”. Almada chegou à
conclusão de que a conta bancária na Espanha seria administrada por
Pascowitch para José Dirceu porque, desde 2008, ambos mantinham contato
intenso.
Em relação ao ex-presidente Lula, Almada afirmou que concluiu que a
conta também seria destinada a ele porque, após a assinatura de um
contrato entre a Ecovix-Engevix Construções Oceânicas e a PNBV Petrobras
Netherland, em 2009 ou 2010, Milton Pascowitch justificou que uma
comissão do negócio seria destinada para a aposentadoria do
ex-presidente Lula. O valor do contrato foi de US$ 3,5 milhões para
fornecimento de peças e o percentual pedido por Pascowitch seria de
0,5%.
O ex-vice-presidente da Engevix, entretanto, declarou que não tem provas
de que os recursos da comissão de 0,5% foram mesmo repassados ao
ex-presidente Lula. Também afirmou que não detém informações e provas
relacionadas à suposta conta administrada por Pascowitch na Espanha.
OS DOCUMENTOS — O ex-vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, afirmou ter
firmado contratos 'simulados' com assessoria de comunicação e gráfica
em benefício do ex-ministro José Dirceu.
Almada entregou ao juiz federal Sérgio Moro comprovantes de pagamentos
no valor de R$ 1 milhão a empresas de comunicação, supostamente em
benefício do ex-ministro José Dirceu. Trata-se de contratos que a
construtora firmou de forma ‘simulada no intuito de justificar
pagamentos sem causa lícita’ com a Entrelinhas Comunicação e a gráfica
‘VC’, nome fantasia de Márcia Cristina Maffei – ME.
Almada afirma que, ao lado de seu sócio Cristiano Kok ‘foram efetivadas
as transferências, no período de 2011 a 2012’. Ele diz ‘que mantinha uma
‘conta corrente’ desde o ano de 2005 com o operador financeiro Milton
Pascowitch, a qual era utilizada com o objetivo de pagamentos de
propinas a agentes públicos, políticos e partidos, dentre os quais
especificamente, José Dirceu de Oliveira e Silva’.
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A DEFESA — Em nota, o escritório de advocacia Teixeira Martins, que
defende o ex-presidente Lula, afirma que as declarações de Almada são
mais uma peça de ficção que integra o sistema de delações premiadas a
“la carte” que vem se tornando uma marca da operação Lava Jato.
“Para obter benefícios, réus confessos precisam se referir a pessoas
pré-estabelecidas pelos integrantes da operação, em especial, o
ex-presidente Lula”, diz a nota.
Segundo o escritório, Lula jamais recebeu qualquer valor indevido da
Engevix ou de qualquer outra empresa e empresário. O texto ressalta que o
próprio depoente reconheceu que não tem qualquer prova contra Lula,
“deixando evidente que a referência ao nome do ex-presidente foi
artificialmente construída para manter a delação premiada já homologada
pelo juiz Sérgio Moro”.
Segundo o escritório, os sigilos bancário e fiscal de Lula já foram
quebrados pela Lava Jato e nenhum valor ilícito foi encontrado, o que
confirmaria que ele não recebeu vantagens indevidas antes, durante ou
após exercer o cargo de presidente. Lula, diz o escritório, é vítima de
“lawfare”, que consiste no mau uso das leis e dos procedimentos
jurídicos para fins de perseguição política.
O advogado de defesa de José Dirceu, Roberto Podval, diz que “Vou ter acesso ao depoimento ainda, mas, se for verdade, a colaboração de Milton Pascowitch deve ser revista”.
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