domingo, 3 de dezembro de 2017

Lobista administrava conta de propinas para
'pessoas do PT' no exterior



Gerson Almada
Em depoimento espontâneo à Polícia Federal, o ex-vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, declarou que o lobista e delator da operação Lava-Jato Milton Pascowitch contou que administrava uma conta bancária em Madri, na Espanha, para “pessoas do PT”. Almada entendeu que essas “pessoas do PT” seriam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu. As declarações foram anexadas ao processo que apura o pagamento de propinas, entre 2011 e 2014, pelas empresas Engevix e UTC para Dirceu, que foi chefe da Casa Civil de Lula.
Dirceu é acusado de receber R$ 2,4 milhões dessas empresas no esquema de corrupção montado na Petrobras e usar os recursos para pagar uma empresa de comunicação com o objetivo de melhorar sua imagem pública após as denúncias do esquema do Mensalão. A força-tarefa da Lava-Jato apresentou denúncia contra o ex-ministro José Dirceu pelo recebimento desse valor.
Almada afirmou ao delegado Felipe Hayashi, da Polícia Federal do Paraná, em julho passado, que Milton Pascowitch, considerado operador de propinas em contratos da Petrobras, disse que iria viajar a Paris, na França, e, “para não deixar rastros”, seguiria até Madri de trem para “olhar a conta” que “administrava” para “pessoas do PT”. Almada chegou à conclusão de que a conta bancária na Espanha seria administrada por Pascowitch para José Dirceu porque, desde 2008, ambos mantinham contato intenso.
Em relação ao ex-presidente Lula, Almada afirmou que concluiu que a conta também seria destinada a ele porque, após a assinatura de um contrato entre a Ecovix-Engevix Construções Oceânicas e a PNBV Petrobras Netherland, em 2009 ou 2010, Milton Pascowitch justificou que uma comissão do negócio seria destinada para a aposentadoria do ex-presidente Lula. O valor do contrato foi de US$ 3,5 milhões para fornecimento de peças e o percentual pedido por Pascowitch seria de 0,5%.
O ex-vice-presidente da Engevix, entretanto, declarou que não tem provas de que os recursos da comissão de 0,5% foram mesmo repassados ao ex-presidente Lula. Também afirmou que não detém informações e provas relacionadas à suposta conta administrada por Pascowitch na Espanha.

OS DOCUMENTOS — O ex-vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, afirmou ter firmado contratos 'simulados' com assessoria de comunicação e gráfica em benefício do ex-ministro José Dirceu.
Almada entregou ao juiz federal Sérgio Moro comprovantes de pagamentos no valor de R$ 1 milhão a empresas de comunicação, supostamente em benefício do ex-ministro José Dirceu. Trata-se de contratos que a construtora firmou de forma ‘simulada no intuito de justificar pagamentos sem causa lícita’ com a Entrelinhas Comunicação e a gráfica ‘VC’, nome fantasia de Márcia Cristina Maffei – ME.
Almada afirma que, ao lado de seu sócio Cristiano Kok ‘foram efetivadas as transferências, no período de 2011 a 2012’. Ele diz ‘que mantinha uma ‘conta corrente’ desde o ano de 2005 com o operador financeiro Milton Pascowitch, a qual era utilizada com o objetivo de pagamentos de propinas a agentes públicos, políticos e partidos, dentre os quais especificamente, José Dirceu de Oliveira e Silva’.



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A DEFESA — Em nota, o escritório de advocacia Teixeira Martins, que defende o ex-presidente Lula, afirma que as declarações de Almada são mais uma peça de ficção que integra o sistema de delações premiadas a “la carte” que vem se tornando uma marca da operação Lava Jato.
“Para obter benefícios, réus confessos precisam se referir a pessoas pré-estabelecidas pelos integrantes da operação, em especial, o ex-presidente Lula”, diz a nota.
Segundo o escritório, Lula jamais recebeu qualquer valor indevido da Engevix ou de qualquer outra empresa e empresário. O texto ressalta que o próprio depoente reconheceu que não tem qualquer prova contra Lula, “deixando evidente que a referência ao nome do ex-presidente foi artificialmente construída para manter a delação premiada já homologada pelo juiz Sérgio Moro”.
Segundo o escritório, os sigilos bancário e fiscal de Lula já foram quebrados pela Lava Jato e nenhum valor ilícito foi encontrado, o que confirmaria que ele não recebeu vantagens indevidas antes, durante ou após exercer o cargo de presidente. Lula, diz o escritório, é vítima de “lawfare”, que consiste no mau uso das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política.

O advogado de defesa de José Dirceu, Roberto Podval, diz que “Vou ter acesso ao depoimento ainda, mas, se for verdade, a colaboração de Milton Pascowitch deve ser revista”.




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