O ex-governador do Rio Sérgio Cabral teria montado fundo milionário para bisbilhotar a vida pessoal e profissional do juiz que o condenou, da
família do magistrado e de investigadores da operação que o levou para a prisão.
Dossiês com informações sobre a vida do juiz da 7ª Vara Federal Criminal
do Rio, Marcelo Bretas, estariam sendo montados sob encomenda do
ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), preso por decisão dele há um
ano. A informação foi divulgada na quarta-feira, 08.nov.2017, e negada
pela defesa de Cabral. O ex-governador e Bretas tiveram uma discussão
durante um interrogatório no último dia 23.out.2017.
A Polícia Federal investiga a confecção dos dossiês, e quer saber com
que recursos eles estão sendo financiados, e ainda qual objetivo estaria
por trás disso. Pessoas supostamente contratadas a mando de Cabral
foram a pelo menos três delegacias do Estado do Rio buscar possíveis
registros de ocorrência no nome do juiz. A mulher dele, a também juíza
Simone Diniz Bretas, também seria alvo dos dossiês. Procurada pela
reportagem, a PF ainda não se manifestou sobre as investigações, que,
segundo apurou a reportagem, são sigilosas.
A chefia da Polícia Civil determinou na quarta-feira (08.nov.2017) à sua
corregedoria interna a instauração de uma investigação imediata do
envolvimento de policiais no levantamento de possíveis informações sobre
Bretas no Sistema de Inteligência da instituição (ao qual só servidores
têm acesso), com o intuito de “abastecer o suposto dossiê”. A polícia
ressaltou, em nota enviada à imprensa, “que tem o maior interesse de
apurar com rigor e celeridade a responsabilidade por eventuais ilícitos
administrativas e/ou criminais para que os servidores envolvidos sejam
penalizados na forma da lei” e se colocou “totalmente à disposição da
Polícia Federal e do Ministério Público Federal para colaborar com as
investigações referentes a este caso”.
A informação da existência dos dossiês partiu de dentro da Cadeia
Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde Cabral e comparsas
estão presos. Ele é acusado de liderar uma organização criminosa que
embolsou propina advinda de contratos públicos durante suas duas gestões
(2007-2014).
Um fundo milionário teria financiado os dossiês, que serviriam para
fazer uma devassa na vida pessoal e profissional de Bretas e de membros
da Força Tarefa da Lava Jato no Rio.
No último dia 23.out.2017, em audiência na 7ª Vara Federal Criminal,
Bretas perguntou a Cabral sobre a compra de joias para lavagem de
dinheiro, prática atribuída à quadrilha, e o ex-governador mencionou em
sua resposta que a família do magistrado comercializa bijuterias. Bretas
considerou o tom ameaçador e determinou sua transferência para um
presídio federal, o que foi revertido por uma decisão do ministro do
Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
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