Carne e etanol — sem proposta — acordo entre
Mercosul e União Europeia em risco
Mercosul e União Europeia em risco
Os europeus não apresentaram sua proposta para o comércio de carne e
etanol na segunda-feira, 02.out.2017, no primeiro dia de negociações do
acordo entre o Mercosul e a União Europeia, em Brasília. Esse ponto era
considerado o mais importante para a atual rodada, que pretende avançar
na definição dos limites para o comércio de bens entre os dois blocos.
Para negociadores sul-americanos, a falta da oferta deixou um sabor
amargo logo na largada. A ausência dela pode levar a uma revisão das
concessões que o Mercosul está disposto a fazer e comprometer o
cronograma de negociações.
No entanto, segundo essas fontes, ainda é cedo para considerar que houve
uma implosão no diálogo. A expectativa é que os europeus formalizem sua
proposta ao longo desta semana. Eles disseram aos sul-americanos que a
oficialização dos números estava pendente de uma autorização do alto
nível da Comissão Europeia.
Não houve, porém, nenhum sinal indicando que a oferta será diferente da
que circulou informalmente na semana passada: uma cota de 70.000
toneladas anuais para a compra de carne, sendo metade congelada e a
outra metade in natura, e 600.000 toneladas de etanol, sendo dessas
400.000 toneladas para uso industrial.
Essa oferta é considerada "insuficiente" pelo Mercosul. Isso porque a
proposta que havia sobre a mesa em 2004, quando as negociações chegaram a
um impasse, era de 100.000 toneladas anuais de carne e 1 milhão de
toneladas de etanol. O compromisso assumido pelos dois blocos em 2010
era que as novas ofertas, quando apresentadas, teriam de ser melhores do
que as de 2004, para evitar um novo impasse. Não foi o que se viu.
O fato de não haver a oferta e a sinalização que ela virá pior do que a
de 2004 não foram entendidos pelo Mercosul como uma recusa à negociação.
A presença de uma grande delegação europeia no Brasil indica que há
disposição para o diálogo. No entanto, há dificuldades políticas na
abertura do mercado agrícola.
Fora a parte de acesso a mercados, que é a mais sensível, seguem os
entendimentos em outros capítulos do acordo, como por exemplo o que
trata de compras governamentais e o de proteção a investimentos. Ao
longo do dia, estavam em andamento 11 diferentes negociações.
A meta é anunciar, em dezembro, o fechamento de um acordo "político",
com pontos a detalhar ao longo de 2018. Esse objetivo, porém, ficou
ameaçado porque os europeus não completaram sua proposta justamente na
parte mais importante do acordo.
Os europeus estão profundamente divididos e têm dificuldade em fechar
uma proposta para o Mercosul. No entanto, a tendência seria mesmo a
apresentação da proposta mais conservadora, considerada inviável pelos
setores brasileiros de carne e etanol.
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