Brasil descumpre metas do Plano Nacional de Educação
O país não cumpriu nenhuma das ações do PNE (Plano Nacional de
Educação) com prazos previstos para este ano. Entre os atrasos, estão
metas de inclusão escolar e definições de regras de investimento para a
área.
Aprovado em 2014, o PNE traçou 20 metas para a educação a serem
alcançadas em dez anos. Há uma série de prazos parciais de atendimento. O
plano completou dois anos no último dia 24 com atraso nos 14
dispositivos previstos para serem concluídos neste segundo ano.
Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
Daniel Cara, os cortes de recursos e falta de vontade política
emperraram o plano. "O PNE é uma lei que depende de desempenho da
trajetória. Se não implementa no início, não chega até o fim." Cara diz
que o ponto que mais deve atrapalhar é a não regulamentação do Sistema
Nacional de Educação.
O sistema vai reorganizar o regime de colaboração entre União, Estados e
municípios, redefinindo os mecanismos de financiamento — com maior
protagonismo federal. "Sem ele, as metas do plano são inviáveis", diz
Cara.
O sistema inclui a implementação de um mecanismo de financiamento que
traduz em valores quanto o Brasil precisa investir, por aluno, para
garantir um padrão mínimo de qualidade. O cálculo inicial desse
dispositivo, chamado CAQi (Custo-Aluno Qualidade inicial), deveria estar
pronto o dia 24.
O MEC (Ministério da Educação) não informou quando planeja finalizar o
Sistema Nacional de Educação. Com relação ao CAQi, afirmou que realiza
"análise cuidadosa do orçamento".
UNIVERSALIZAÇÃO — Pelo PNE, o país deveria ter universalizado a
escolarização entre crianças de 4 a 5 anos (pré-escola) e jovens de 15 a
17 (ensino médio). O país tem 600 mil crianças na idade da pré-escola
fora da escola, segundo dados de 2014 — os mais recentes disponíveis.
São 10,9% do total de crianças dessa idade. Entre os jovens que deveriam
estar no ensino médio, 17,4% estão fora da escola. São 1,7 milhão de
jovens.
O Brasil registrou queda de matrículas nessas duas etapas entre 2014 e 2015. Na educação infantil, o gargalo é a falta de vagas.
Já no ensino médio, é o abandono de jovens para trabalhar. Matheus
Fernandes, 17, largou os estudos no início de 2016, quando ingressaria
no 3º ano do médio. "Foi uma decisão que tive que tomar. Para
trabalhar", diz ele, funcionário de um restaurante na zona leste de São
Paulo. "Ano que vem quero voltar."
Além do PNE, uma emenda constitucional prevê a obrigatoriedade de
matrícula para as crianças entre 4 e 17 anos até o fim deste ano. Outra
meta não atendida é a elevação da taxa de alfabetização entre adultos
para 93,5%. O dado mais recente aponta para 91,7%.
A criação de uma política nacional de formação de professores e a
publicação de estudos sobre o acompanhamento das metas do PNE também não
avançaram. O MEC afirmou que está desenvolvendo um programa de formação
com vistas à implementação da nova Base Nacional Curricular. A própria
base deveria ter sido entregue no dia 24.
A divulgação dos indicadores de monitoramento das metas do PNE ocorreria
nesta semana, segundo o MEC. A pasta ainda prometeu "ampliar" os
recursos para a pré-escola, sem detalhar valores. O ministério afirma
que a reforma do ensino médio é prioridade.
Para Anna Helena Altenfelder, do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas
em Educação), o governo precisa de um planejamento para cumprir o que
está atrasado. "O PNE traduz anseios de muitos setores da sociedade e
metas factíveis importantes."
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