Velas abertas no oceano cósmico!
O veleiro solar LightSail-A, da ONG Planetary Society, acaba de concluir
a transmissão de sua primeira imagem diretamente do espaço, com as
velas abertas. A foto é basicamente a declaração mais eloquente de
sucesso que os engenheiros e cientistas poderiam ter. E é uma beleza de
se ver.
As velas do LightSail abertas no espaço, sob a luz do Sol, em imagem transmitida na terça-feira (09.jun.2015) |
A missão passou por momentos de emoção antes da abertura dos painéis
solares, o contato com o pequeno satélite foi interrompido por um
problema com as baterias, frustrando os planos de abrir as velas como
originalmente planejado. A comunicação voltou e o cubesat (de apenas 10 x
30 cm) foi comandado a içar as velas. Foi detectada a telemetria dos
motores executando a operação, mas somente com uma imagem seria possível
confirmar o sucesso. Na segunda-feira (08.jun.2015) já havia uma pista
boa, com uma imagem parcial, e na tarde de terça-feira (09.jun.2015) a
imagem completa revelou a abertura bem-sucedida!
Agora, o que era um satélite do tamanho de um pão de forma é uma pipa
com 5,6 metros de lado voando acima da Terra. O aumento de área fez duas
coisas: tornou possível observar o LightSail a olho nu quando ele passa
por cima de cidade logo após o pôr do Sol ou antes do nascente e
aumentou brutalmente o arrasto atmosférico, de forma que ele deve decair
de sua órbita e reentrar na atmosfera terrestre em poucos dias. Mas com
a missão cumprida.
LUZ QUE EMPURRA
Um veleiro solar funciona usando a luz que vem do Sol como propulsão.
Cada partícula de luz produz um empurrão muito suave nas superfícies que
toca, e se a superfície for suficientemente grande, e a nave
suficientemente leve, isso é o que basta para obter aceleração para
viajar pelo espaço, uma vez que se vence o poderoso campo gravitacional
da Terra.
É um empurrãozinho de nada, é verdade, mas a vantagem é que ele é sempre
constante — o Sol não para nunca de brilhar. Combustível é
desnecessário para acelerar o veículo. Então, imagine um empurrãozinho
agindo durante meses e anos, aumentando gradualmente a velocidade da
nave. Com habilidade e controle, é possível levá-la a qualquer parte do
Sistema Solar (claro, tudo vai ficando mais difícil conforme se afasta
do Sol, e o nível de luz diminui, mas ainda assim é teoricamente
possível ir bem longe desse jeito).
Honestamente, os veleiros movidos a luz são hoje a única tecnologia
conhecida que pode de fato realizar missões interestelares — ou seja,
capazes de atravessar num tempo razoável a distância entre o Sol e as
estrelas mais próximas. Alguns conceitos de missões (tripuladas e
não-tripuladas) até as estrelas mais próximas com veleiros já chegaram a
ser rascunhados (eles envolviam, além do veleiro em si, poderosos
lasers espaciais para focar a luz sobre a vela quando ela já estivesse
bem longe do Sol). Mas, claro, tudo isso ainda está muito longe de nossa
capacidade de engenharia atual. De toda forma, são uma luz no fim do
túnel no espinhoso problema do voo interestelar, e missões como a
LightSail são um passo na direção certa para demonstrar conclusivamente o
potencial dessa tecnologia.
Nesse lançamento inicial, os sistemas do veleiro foram testados, mas
ainda não produziram efetiva navegação por luz. Como o cubesat foi
colocado numa órbita baixa, o arrasto provocado pela atmosfera terrestre
sobre a grande superfície das velas é maior do que qualquer propulsão
que ele possa obter. A proposta nesse primeiro momento era testar a
capacidade de abrir as velas no espaço e controlar a orientação do
veículo. No ano que vem deve voar o LightSail para valer, que usará suas
velas para efetivamente navegar por luz.
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