Governador Sartori quer aumentar os impostos no Rio Grande do Sul
O governador José Ivo Sartori |
O governador José Ivo Sartori disse que pensa mesmo em aumentar impostos
porque está ciente de que a redução dos gastos do Estado não será
suficiente para superar a crise estrutural das finanças do Rio Grande do
Sul.
O governo trabalha para aumentar a receita, e isso se dará em várias
frentes. Além de buscar novos empreendimentos, o Palácio Piratini avalia
uma série de alternativas. Sartori confirma que há estudos para o
aumento da alíquota de ICMS, receita adotada na última gestão do PMDB,
do ex-governador Germano Rigotto (2003-2006).
O governador já propôs um pacote de impostos à Assembleia Legislativa
Gaúcha, mas são tributos incidentes apenas para casos de doações de bens
e transmissões de bens causa mortis.
O governo também projeta mudanças de bases de cálculos e valores presumidos, que não deixa de ser aumento de impostos.
Entretanto, o atual chefe do Executivo ressalva que não há nada de
prático ainda e que o aumento de impostos necessário para resolver o
problema das contas do Estado seria brutal. "Se quisesse hoje aumentar
impostos e equilibrar as finanças do Rio Grande do Sul por um bom tempo,
teria que colocar o ICMS a 31%. Quem vai fazer isso? Aí quebra o Estado
e toda a economia gaúcha. Não tem como", pondera. O governador também
reforça que uma medida como essa precisaria do apoio da sociedade. "Mas
pelo que vejo, ninguém deseja isso."
Sartori também revelou que deve sair no segundo semestre a modelagem das
Parcerias Público Privadas (PPPs) e garantiu que as licenças ambientais
serão agilizadas. Disse que, após uma ampla análise, tomará medidas em
relação a empresas estatais – "isso é o máximo que eu posso dizer para
não avançar o sinal antes da hora" – e falou sobre prós e contras de uma
possível revisão dos incentivos fiscais.
O governador ainda demonstrou confiança em relação a projetos no Estado
que dependem da Petrobras, caso das plataformas P-75 e P-77, em Rio
Grande, e de novos aportes industriais no Polo Petroquímico de Triunfo,
que aguardam solução para o impasse sobre o preço da nafta repassado a
Braskem.
Leia toda a entrevista do governador José Ivo Sartori:
O Estado vive uma crise de endividamento há décadas. Que saída
o senhor vê para a crise? Tem solução próxima ou é preciso o trabalho
de uma geração inteira?
Solução sempre tem. O ensinamento brasileiro veio com o
processo de estabilização econômica e combate inflacionário. Estávamos
acostumados com a inflação, dificuldades do dia a dia... Hoje, as
dificuldades e os desafios são internacionais. Pensávamos que o problema
era só na Espanha, Portugal, Itália – nem vou falar da Grécia. Mas até a
Alemanha, que se tornou mais forte após a unificação, conseguiu, apenas
no final do ano que passou, adiantar um pouco o processo de equilíbrio
financeiro. E achávamos que a Alemanha andava muito bem. E do Brasil, se
ouvia que estava bem. Então, de certa forma, vivemos um falso otimismo
ao longo do tempo. Não quero ser vendedor de um falso pessimismo,
prefiro trabalhar com a realidade que está aí no dia a dia. E tivemos de
tomar algumas medidas no início do nosso governo. Tivemos que dizer:
"olha, o que está para trás, não podemos pagar agora. Pelos próximos
seis meses, segura". Isso afetou hospitais, prefeituras e fornecedores.
Procuramos, do mês de janeiro em diante, manter em dia aquilo que fosse
possível para sustentar o que é fundamental para a sociedade em termos
de serviço público: saúde, educação e segurança. Então, essa não é uma
tarefa de um governo só, muito menos de uma pessoa só... Outras medidas
foram a diminuição do número de secretarias, que teve aprovação da
Assembleia, (o corte em) diárias, horas extras. Claro, tem secretarias
que separamos, porque eram muito pesadas. As pessoas têm que entender
que não é diminuir uma secretaria que vai melhorar as condições
financeiras internas do governo...
Só cortar gastos é o suficiente ou também é preciso aumentar as receitas?
Olha, não diria que é corte, porque no custeio não se pode
nunca cortar da parte fim, que é o serviço público, especialmente o que é
prioritário – o campo social como um todo, programas sociais.
Quando se fala em aumentar receitas, relaciona-se a aumento de
impostos. Seu conterrâneo, o ex-governador Germano Rigotto usou essa
ferramenta e aumentou a alíquota de energia, combustível e telefonia na
época em que foi governador. No seu horizonte, existe a possibilidade de
aumentar impostos para aumentar receitas?
Olha, a gente tem discutido, conversado, mas não existe nada de prático até agora.
Mas há estudos?
Há estudos. Se quisesse hoje aumentar impostos e equilibrar as
finanças do Rio Grande do Sul por um bom tempo, teria que colocar o
ICMS a 31%. Quem vai fazer isso? Aí quebra o Estado e toda a economia
gaúcha. Não tem como. Eu disse publicamente que não estava na minha
visão de futuro do Rio Grande do Sul, mesmo com as dificuldades, essa
questão (aumentar impostos), a não ser que toda a sociedade fosse
parceira nesse processo. Mas pelo que vejo, ninguém deseja isso. Então, é
muito limitante esse processo, mesmo que seja só Rio Grande do Sul e
Santa Catarina que tenham hoje uma alíquota de 17% de ICMS. Todos os
outros estados são 18%. E o Rio de Janeiro, inclusive, é de 19%.
Então, há margem de um a dois pontos percentuais para aumentar o ICMS?
É, mas isso é muito relativo. É muito pouco, mas hoje em dia o
pouco é muito importante para as finanças do Rio Grande do Sul...
Agora, em relação à pergunta anterior, sobre ampliar a receita, só
cortar não adianta, é preciso atrair investimentos. Outra coisa: o papel
do Estado é não atrapalhar quem produz e realiza. Tem que resolver
questões burocráticas, abrir espaço para dar mais celeridade às decisões
para quem quer empreender, tem que dar oportunidade para realizar. Por
exemplo, uma licença ambiental: estrategicamente, a questão ambiental é o
fundamento para o futuro. Se não cuidarmos da natureza hoje, vai custar
muito caro recuperar os estragos que foram feitos no meio ambiente. Mas
não pode alguém elaborar um projeto e esperar quatro anos para receber
um não de (um pedido de) licença ambiental. Então, tem que criar as
condições para que, no mínimo, as coisas sejam ditas claramente e
imediatamente. É preciso dar respostas rápidas.
Mas a demora nas licenças ambientais continua sendo uma queixa dos empreendedores.
Acho que já teve muita mudança em quatro meses. E Yeda
(Crusius, PSDB, 2007-2010) já tinha feito muitas mudanças no campo dos
licenciamentos ambientais, Tarso (Genro, PT, 2011-2014) seguiu fazendo, e
vamos continuar. Mas com o cuidado sempre de que o valor estratégico do
mundo ambiental está colocado como o futuro da humanidade. Água, matas,
clima, isso tem que ser sempre preservado. Agora, isso não impede que
se tenha mais agilidade e que se supere com mais facilidade esse
processo burocrático.
Outra questão importante é a infraestrutura. Tem alguma Parceria Público-Privada já em vista ou ainda estão em fase de estudos?
O ideal era que tivéssemos uma infraestrutura elevada em todas
as áreas, mas sabemos que até para o transporte da soja fica muito
difícil, porque ainda falta infraestrutura para o escoamento de toda a
produção. Então, as PPPs têm um papel (importante). Dadas as condições
financeiras do Rio Grande do Sul, vão ser uma grande alternativa. Agora
nós não temos expertise ainda. É preciso estudar muito para que a coisa
seja bem analisada e construída. O Estado tem de se preparar para
fiscalizar e controlar as Parcerias Público Privadas, porque sem
controle, sem fiscalização do poder público, também não pode deixar
andar, porque depois vêm dificuldades. Não que a gente vá desconfiar,
mas também é bom para o investidor saber que tem um controle e uma
fiscalização. Acho que vamos chegar a construir um novo marco
regulatório, o primeiro no Rio Grande do Sul, para as PPPs.
Então vão sair mais adiante, talvez no ano que vem...
Vai amadurecer... Eu sou muito otimista neste campo e espero
que já no segundo semestre tenhamos uma definição. E que não seja apenas
para a infraestrutura rodoviária, tem que ser para várias situações.
Tem que ser abrangente e que possa incidir sobre outros setores da
infraestrutura do Rio Grande do Sul. Até porque eu disse durante toda a
campanha (eleitoral) que não tinha preconceito político-ideológico em
adotar as PPPs, consórcios, concessões. Chegou a hora de a gente saber
nossa limitação – que são as finanças do Estado – e criar as condições
de oferecer à sociedade uma infraestrutura melhor.
Há anos se discute fechar estatais deficitárias, ultimamente
se fala em Corag (Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas), Cesa
(Companhia Estadual de Silos e Armazéns). O que o senhor planeja fazer
com as empresas do Estado?
O problema das empresas estatais é ver se não fica um passivo
para o próprio governo do Estado. Às vezes a situação é diferente
daquilo que a gente pensa... Tem questões trabalhistas, jurídicas...
É o caso da Cesa?
Dentro da equipe de governo, vai ter algumas ponderações, com
certeza com o tempo vamos fazer. Mas primeiro é preciso avaliar bem,
conhecer a realidade, saber o que se vai fazer e de que forma vai ser o
passo seguinte, se ela (empresa estatal) é necessária ou não para o
Estado. Poderíamos ter entrado no governo com uma sinalização e ter
tomado atitudes intempestivas, imediatamente, com muita agilidade,
rapidamente dar um sinal. Mas acho que não é espetáculo, não é fazer
show, tem que olhar a realidade, saber como vai fazer. Posso dizer que
estamos estudando bem, queremos avançar, inclusive, estamos atrasados na
criação do grupo que vai avaliar organismo por organismo. Estamos mais
adiantados no processo de gestão do que propriamente na avaliação dos
organismos estatais. Eu participei, porque era líder da bancada do PMDB
(na Assembleia), em 1995 (no governo Antonio Britto, PMDB), de um
processo em que foram extintas várias estatais. E foram todas numa mesma
ocasião. E optamos por fazer uma caminhada diferente, estudar bem,
analisar bem – respeito o processo anterior, porque participei dele, mas
acredito que vamos ter atitude sim nesse campo. Isso é o máximo que eu
posso dizer para não avançar o sinal antes da hora, não criar
preocupação a ninguém, porque cada vez que se diz uma coisa já aparece
uma ansiedade em todo mundo. Então, prefiro ter o processo na mão bem
acertado, com o conhecimento real da situação, e tomar a atitude
necessária.
A crise na Petrobras teve efeito na economia de todo o País. O
Rio Grande do Sul não é exceção. Havia grande expectativa pela
construção de duas novas plataformas no Rio Grande do Sul, P-75 e P-77.
Quais são as últimas informações que o senhor tem de Brasília sobre
esses investimentos? Virão?
Em relação ao polo naval, há uma movimentação muito grande de
todas as forças políticas do Rio Grande do Sul, concentradas na Câmara
dos Deputados e no Senado, e também do governo do Estado, porque sabemos
que é importante. Então, o governo tem esse papel de se mobilizar, é
uma preocupação muito grande.
O senhor acha que as plataformas virão?
Se tiver as condições de superação daquilo que gerou uma crise
moral no entorno, pode haver negociação de alguém que estava
empreendendo, mudar de direção? Nossa expectativa é continuar lutando
para que, no mínimo, se minimizem os prejuízos que afetaram o polo
naval.
Outro caso é no setor petroquímico. A Petrobras ainda não
chegou a um acordo com a Braskem para o fornecimento de nafta, o que
está adiando investimentos em novas plantas ou ampliações previstas para
o Polo Petroquímico de Triunfo.
Quanto ao polo petroquímico, a ação foi feita e talvez passou
meio perdida. Nós tivemos um papel importante, caminhamos juntos,
conversamos, fizemos uma ação nessa questão da nafta, que poderia,
inclusive, ter paralisado o Polo Petroquímico de Triunfo. Mas o ministro
(de Minas e Energia) Eduardo Braga (PMDB) foi muito sensível e houve
uma conversa (para prorrogar o contrato), embora a parte técnica muitas
vezes não desejasse fazê-lo. Mas acho que o caminho está bem traçado, há
um caminho novo. Estamos trabalhando, inclusive, com uma empresa que
pertencia à Petrobras em Triunfo, que é a Innova, e foi adquirida por um
gaúcho, Lírio Parisotto. Estamos conversando, há a possibilidade de
duplicação da planta, mas que depende também da questão do insumo. Por
enquanto, está resolvido. Aquilo que foi visto anteriormente era por um
determinado tempo, depois houve uma prorrogação, mas está se chegando
mais ou menos a um acordo (entre Petrobras e Braskem). Por enquanto, a
questão está muito bem resolvida.
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