Lava Jato prende operador que fez pagamentos a firma de José Dirceu
Em mais uma fase da Operação Lava Jato, a Polícia Federal prendeu na
manhã de quinta-feira (21.maio.2015) Milton Pascowitch, apontado como
operador da empreiteira Engevix em contratos da Petrobras e suspeito de
repassar propina na diretoria de Serviços, que Renato Duque ocupou entre
2003 e 2012 na estatal.
Pascowitch foi preso em São Paulo por reiteração criminosa e para a
garantia da ordem pública, segundo o procurador Carlos Fernando Lima. As
movimentações financeiras do operador, oriundas de propina, sustenta
ele, continuavam em andamento mesmo após a deflagração da Lava Jato.
Milton Pascowitch deixa o prédio da Policia Federal em São Paulo após depoimento, em fevereiro |
O irmão dele, José Adolfo, também apontado como operador no esquema, foi
levado em condução coercitiva, ordem judicial para prestar depoimento
às autoridades. A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 78 milhões
em contas dos dois irmãos.
Ligações de outras empreiteiras com Pascowitch também serão
investigadas. Segundo o Ministério Público, existem indicativos de
depósitos de outras empresas, como a UTC, para o operador.
O objetivo desta 13ª fase da operação é investigar crimes dos dois
operadores financeiros do esquema de corrupção na estatal. Ainda não há
estimativas de quanto eles movimentaram.
A força-tarefa da Lava Jato apura as ligações dos operadores com Duque e
com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. A Jamp Engenheiros
Associados, empresa de Pascowitch, fez pagamentos de R$ 1,45 milhão à JD
Consultoria, firma de Dirceu, em 2011 e 2012.
Pascowitch é apontado como um dos onze operadores da propina na
diretoria de Serviços, comandada por Duque (indicado pelo PT), e com bom
trânsito no Partido dos Trabalhadores.
"Isso ainda não está claro, mas é uma linha investigativa", disse o
procurador sobre a relação com petistas. "Não sabemos quem são as
pessoas com quem ele conversava no partido, mas vamos investigar."
A Engevix é suspeita de integrar o cartel na estatal e também fez
pagamentos à firma de Dirceu, no valor de R$ 1,1 milhão. Tanto a
empreiteira quanto Dirceu negam
que os pagamentos sejam propina disfarçada. O executivo Gerson Almada –
ex-vice-presidente da empresa, preso em novembro e liberado no mês
passado –, afirmou que Dirceu prestou serviços prospectando negócios no
exterior.
"O que eles chamam de lobby, nós chamamos de corrupção", afirma o
procurador. "Quando você tem alguém que é contratado por cinco
concorrentes ao mesmo tempo, para fazer um serviço igual nos mesmos
mercados, você começa a duvidar que seja uma prestação séria."
A investigação sobre o ex-ministro, porém, ainda necessita ser aprofundada, segundo o procurador.
HOYER
Foram cumpridos ainda mandados de busca e apreensão nas casas dos
irmãos, além de um no Rio de Janeiro e outro em Minas Gerais, em imóveis
do empresário Henry Hoyer de Carvalho, que foi mencionado pelo
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa durante as
investigações.
Segundo Costa, Hoyer substituiu o doleiro Alberto Youssef como
interlocutor entre a diretoria de Abastecimento e integrantes do PP no
início de 2012, pois os líderes do partido estavam insatisfeitos com
atrasos nos repasses de propinas.
Hoyer também é investigado pela CPI do SwissLeaks do Senado, criada para
apurar supostas irregularidades praticadas pelo banco HSBC na abertura
de contas ilegais na Suíça.
Não havia mandado de prisão contra ele, mas três armas e munição de
calibre restrito foram encontradas em sua casa e caracterizaram prisão
em flagrante por porte ilegal. Ele pode sair mediante ordem judicial.
O empresário ainda terá suas operações com o PP esmiuçadas. Segundo as
investigações, ele assumiu parte das transações financeiras do partido
oriundas de corrupção após a morte do ex-deputado José Janene, em 2010.
Ex e atuais deputados do partido podem ser identificados como beneficiários do esquema a partir dele, diz o procurador Lima.
A atuação de Hoyer como operador do PP em outros órgãos do governo
também será investigada. "Não se descarta que a gente verifique ligação
do partido com outros órgãos", disse Lima.
NOVO FLANCO
A atuação de Pascowitch também abre uma linha de investigação na
diretoria de Exploração e Produção da Petrobras – que já foi apontada
pelo delator Costa como o local dos "grandes desvios" na estatal.
Segundo o delegado Igor Romário de Paula, já é sabido que o operador
atuou como representante da Engevix em um estaleiro ligado à diretoria.
Há dados sobre sua atuação e movimentação financeira que levam a
suspeitas sobre o pagamento de propina também nessa obra.
"A fórmula pode se repetir; o modelo é o mesmo. E aí não acaba nunca mais", diz o delegado.
OBRAS DE ARTE
Com Milton e seu irmão, José Adolfo Pascowitch, apontado como sócio nas
operações de pagamento de propina, também foram apreendidos 60 telas de
arte e duas esculturas – pagas com dinheiro de corrupção, segundo as
investigações.
A PF suspeita que Pascowitch tenha repassado propina da Engevix para
Duque até mesmo na forma de obras de arte. Em 16 de março, dia da prisão de Duque, a PF encontrou na casa do ex-diretor da Petrobras uma escultura do artista Franz Krajcberg comprada em 2012 por Pascowitch pela preço de R$ 212,5 mil, junto com outras 130 obras.
Em depoimento à Justiça Federal no dia 17 de março, Almada afirmou que
Pascowitch atuava como lobista da empreiteira. Segundo o executivo,
Pascowitch e o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, pediram que
a empreiteira fizesse doações eleitorais ao partido. A construtora
realizou as contribuições, disse.
"Como ele [Milton Pascowitch] tinha um relacionamento com o PT, na
Diretoria de [Engenharia e] Serviços [da Petrobras], também ele trazia
pedidos não vinculados a obras, mas vinculados a doações para o partido
nas épocas de eleições ou em dificuldades de caixa do partido", relatou
no testemunho ao juiz Sergio Moro.
Ainda de acordo com Almada, entre 0,5% e 1% dos contratos celebrados
entre a Engevix e a Petrobras intermediados por Pascowitch, eram
repassados ao lobista – o executivo, no entanto, disse não saber qual
era a destinação final dos valores. Ele afirmou que Pascowitch teria
posto como condição o pagamento a ele para que a Engevix "ficasse bem
com o partido político", referindo-se ao PT.
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