quarta-feira, 1 de abril de 2015


Youssef diz em depoimento que deixou R$ 400 mil na porta do diretório do PT

O doleiro Alberto Youssef, delator no caso da operação Lava Jato, afirmou, em novo depoimento à Justiça Federal na terça-feira (31.mar.2015), que entregou cerca de R$ 800 mil para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O dinheiro seria fruto de propina paga no contrato para obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), entre 2009 e 2010. A Lava Jato apura o desvio de verbas na Petrobras para favorecer servidores públicos e políticos da base aliada e também da oposição.
O valor, segundo o doleiro, foi dividido em dois - metade, diz ele, foi deixado na porta do diretório nacional do partido, localizado na Rua Silveira Martins, em São Paulo. A outra metade foi retirada no escritório de Youssef, afirma o delator.
Por conta de um processo sobre operações ilegais de câmbio realizadas, Youssef disse que fez dois pagamentos para o tesoureiro "a mando da Toshiba (Infraestrutura)".
"Eu entreguei esse valor pessoalmente. O segundo valor foi entregue na porta do diretório do PT nacional pelo meu funcionário Rafael Ângulo para o funcionário da Toshiba para que ele pudesse entregar o valor para o Vaccari", afirmou Youssef em seu depoimento.

O doleiro Alberto Youssef, agora de barba,
durante seu depoimento à Operação Lava Jato

Retificando informações
O doleiro já havia relatado esse pagamento específico, que ao todo — de acordo com os depoimentos — soma aproximadamente R$ 800 mil. No entanto, em seu depoimento anterior, Youssef não havia detalhado como os pagamentos foram feitos.
No início da fala, Youssef diz que retificará informações dadas anteriormente. Em novembro, ele relatou a propina, mas disse que a transação fora em um restaurante.
Questionado sobre o caso específico, Youssef diz que usou uma empresa em nome de Waldomiro Oliveira, apontado como laranja das empresas do doleiro, para repassar dinheiro ao PT, ao PP e ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, também delator do esquema.
"Foram dois valores, de 400 e poucos mil reais, que foram entregues, a mando da Toshiba, para o tesoureiro do PT, o [João] Vaccari [Neto]", diz Youssef no depoimento.
O suborno, de acordo com depoimento anterior do doleiro, teria resultado de um contrato que a Toshiba fechou com a Petrobras em 2009 para executar obras no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), no valor de R$ 117 milhões.
"O primeiro valor foi retirado no meu escritório, na [rua] Renato Paes de Barros, pela cunhada dele [Vaccari]. Eu entreguei esse valor pessoalmente", continua o doleiro. "O segundo valor foi entregue na porta do diretório do PT, nacional, pelo meu funcionário Rafael Angulo, para o funcionário da Toshiba, para que ele pudesse entregar esse valor para o Vaccari."


Presidente da Toshiba diz que Youssef e Costa o enganaram
O presidente da Toshiba América do Sul Luís Carlos Borba disse que foi enganado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, e induzido a contratar a empreiteira Rigidez para negociar o ressarcimento de prejuízos provocados à empresa pela greve ocorrida no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) em 2011. Segundo o advogado de Borba, José Carlos Dias, o executivo não sabia que a Rigidez era uma das fachadas usadas por Youssef para lavar dinheiro desviado de contratos com a Petrobras. "Não resta dúvida de que ele foi enganado. A Rigidez foi contratada porque naquele momento havia o problema da greve na Petrobras e a empresa iria apresentar uma assessoria e consultoria para ver se conseguiria retomar a obra", afirmou o criminalista. O contrato da Toshiba com a Rigidez envolveu R$ 2 milhões, segundo documentos que constam dos autos da Operação Lava-Jato.

Outro lado
Por meio de nota da Secretaria de Finanças do PT, Vaccari Neto, "nega veementemente que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro por parte do senhor Alberto Youssef ou de seus representantes".
"Chama a atenção o fato de que, na delação realizada em fevereiro, Youssef afirmou que uma suposta entrega do dinheiro teria sido feita em um restaurante em São Paulo. No depoimento de hoje, se contradiz e afirma que foi na frente da sede do PT", informa a nota petista.
O partido diz ainda que "Youssef também afirma que um funcionário dele teria entregue o dinheiro a um representante da empresa Toshiba [investigada na Lava Jato], e não diretamente a Vaccari ou a outro representante do PT". "A Toshiba nega veementemente que algum dos seus funcionários tenha repassado recursos para representantes do PT", informa o PT.
"A afirmação de Youssef causa ainda mais estranheza porque sua contadora, Meire Bonfim Poza, declarou à CPI Mista da Petrobras, no último dia 8 de outubro, que não conhece e que nunca fez transações financeiras com Vaccari Neto. Essa Secretaria de Finanças reitera que todas as doações que o Partido dos Trabalhadores recebe são feitas na forma da lei e declaradas à Justiça", diz a secretaria do PT na nota.

A nota divulgada pela Secretaria de Finanças do PT:
“O secretário Nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, nega veementemente que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro por parte do senhor Alberto Youssef ou de seus representantes.
Chama a atenção o fato de que, na delação realizada em fevereiro, Youssef afirmou que uma suposta entrega do dinheiro teria sido feita em um restaurante em São Paulo. No depoimento de hoje, se contradiz e afirma que foi na frente da sede do PT.
Youssef também afirma que um funcionário dele teria entregue o dinheiro a um representante da empresa Toshiba, e não diretamente a Vaccari ou a outro representante do PT. A Toshiba nega veementemente que algum dos seus funcionários tenha repassado recursos para representantes do PT.
A afirmação de Youssef causa ainda mais estranheza porque sua contadora, Meire Bonfim Poza, declarou à CPI Mista da Petrobras, no último dia 8 de outubro, que não conhece e que nunca fez transações financeiras com Vaccari Neto.
Essa Secretaria de Finanças reitera que todas as doações que o Partido dos Trabalhadores recebe são feitas na forma da lei e declaradas à Justiça.
Secretaria de Finanças do PT”


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