Vaccari despeja na CPI toda sua meia verdade
João Vaccari Neto |
Desobrigado pelo STF (**) de assinar na CPI da Petrobras um termo de
compromisso de dizer a verdade, o tesoureiro do PT João Vaccari Neto despejou
diante das lentes da TV Câmara todas as meias verdades que dão a ele a
aparência de uma condenação esperando para acontecer. O depoente
portou-se como um robô. Programado com antecedência, não se desviou um
milímetro do roteiro traçado por seu advogado.
Vaccari admitiu tudo o que as provas recolhidas na Operação Lava Jato já
tornaram irrefutável. E tergiversou sobre detalhes ainda sujeitos ao
contraditório. Sim, conhecia os delatores Alberto Youssef, Pedro Barusco
e Paulo Roberto Costa. Mas as acusações que fizeram contra ele não são
verdadeiras.
Sim, jantou várias vezes com o ex-diretor Renato Duque, homem do PT na
Petrobras, preso em Curitiba. Mas não trataram do rateio de propinas.
Falaram de política e assuntos gerais. Foram encontros sociais.
Sim, Pedro Barusco, o ex-gerente que entesourou na Suíça US$ 97 milhões,
testemunhou conversas travadas entre Duque e Vaccari nas mesas de
restaurantes. Mas o tesoureiro não tinha intimidade com ele.
Sim, Vaccari foi ao escritório do doleiro preso Alberto Youssef, em São
Paulo. Mas o anfitrião não estava. E ele foi embora. Conversariam sobre o
quê? Fui convidado para um encontro sem agenda, desconversou Vaccari.
Mas qual seria o assunto da conversa? Essa dúvida eu também tenho, ele
desconversou.
Sim, recebeu dinheiro de empreiteiras enroladas no cartel da Petrobras.
Visitou os executivos das empresas. Mas os encontros foram
institucionais. E não recebeu senão “doações legais, registradas na
Justiça Eleitoral”. De resto, PMDB e PSDB também receberam.
Tomando-se Vaccari a sério, os delatores que o entregaram, os agentes
federais que o investigaram, os procuradores que o denunciaram e o juiz
que o converteu em réu integram um grande complô para fazer de um
tesoureiro modelo um corrupto.
Ou tudo se reduz a uma grande conspiração ou o PT descobriu uma maneira
legal de ser desonesto. Evoluiu do “dinheiro não contabilizado'' do
mensalão para a propina legalizada. Converteu a Justiça Eleitoral numa
imensa lavanderia de verbas sujas.
Ao lançar mão de tantas meias verdades, Vaccari acaba reforçando a
impressão de que conta apenas a metade mentirosa. A tática pode ser
últil à defesa do tesoureiro. Mas transforma o PT numa legenda
indefensável.
(**) Teori autoriza Vaccari a "não se autoincriminar"O ministro Teori Zavascki concedeu liminar a João Vaccari Neto que permite ao tesoureiro do PT permanecer calado durante a sessão da CPI da Petrobrás. É a garantia ao direito de não se "autoincriminar". Vaccari também não será obrigado a assinar o termo de compromisso de dizer a verdade, sem risco de prisão em decorrência disso.Interlocutores de Vaccari informaram que o tesoureiro estaria disposto a responder as perguntas dos deputados. Contudo, a defesa do tesoureiro recorreu ao Supremo para solicitar que Vaccari não seja ouvido na condição de testemunha, pois já é réu em processo da Lava Jato. Caso fosse prestar depoimento como testemunha, Vaccari teria de assinar o termo de compromisso."Para que o paciente possa exercer livremente seu direito constitucional contra a autoincriminação, não pode ser ouvido na CPI como testemunha, que tem a obrigação de assinar termo de compromisso, pelo contrário, deve ser dispensado de tal compromisso", escrevem os advogados de Vaccari no habeas corpus.O ministro do STF atendeu ao pedido da defesa do tesoureiro. Vaccari terá direito ainda a ser acompanhado e se comunicar com advogado durante a sessão da CPI. Zavascki determinou que a decisão seja comunicada com urgência ao presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB).
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