Dilma diz que propinas da Petrobras não irrigaram as contas de sua campanha
Em entrevista ao canal em espanhol da tevê norte-americana CNN, Dilma
Rousseff disse ter “certeza” de que o dinheiro desviado da Petrobras não
chegou ao caixa do seu comitê de campanha. A emissora divulgou
em seu site um trecho da conversa. Eis o que declarou Dilma ao ser
indagada sobre a hipótese de uso de dinheiro sujo no financiamento das
despesas do seu comitê:
“Se dinheiro de suborno chegar a alguém, essa pessoa tem que ser
responsabilizada. É assim que tem que ser. Eu tenho absoluta certeza que
a minha campanha não tem dinheiro de suborno. Isso não significa que eu
me coloque acima de qualquer brasileiro, cidadão ou cidadã. Eles têm
que prestar contas do que fazem. E eu prestei. Para quem? Para o
Tribunal Superior Eleitoral. Entreguei todas as minhas contas de
campanha. Elas foram auditadas e foram aprovadas.”
Dilma foi citada em depoimentos de dois delatores da Lava Jato: o
ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Mas o
ministro Teori Zavascki, do STF, avalizou o entendimento do
procurador-geral Rodrigo Janot, para quem não é possível abrir
investigação contra a presidente. Primeiro porque não haveria indícios
que justificassem o inquérito. Segundo porque as menções referem-se a
fatos da campanha eleitoral de 2010, antes de Dilma ser empossada no
primeiro mandato, em janeiro de 2011.
Segundo Janot, a Constituição, no parágrafo 4º do artigo 86, anota que
um presidente da República, no curso do mandato, não pode ser processado
por atos não relacionados ao exercício das suas funções. O
procurador-geral realçou que essa proibição para a abertura de
investigação é uma imunidade temporária. Prevalece enquanto durar o
mandato.
O delator Paulo Roberto contou que, em 2010, o doleiro Alberto Youssef
lhe trouxe um pedido do petista Antonio Palocci, então coordenador da
campanha presidencial de Dilma. Queria que fossem cedidos do caixa de
petropropinas do PP, o Partido Progressista, R$ 2 milhões para a
campanha de Dilma. Youssef foi autorizado a realizar o repasse. Ouvido, o
doleiro negou que tivesse transferido o dinheiro.
Janot requereu ao ministro Teori que devolvesse à primeira instância do
Judiciário esse pedaço do processo, para que seja apurada a conduta de
Palocci. Foi atendido. Caberá ao juiz Sérgio Moro, que cuida da Lava
Jato em Curitiba, perscrutar o suposto elo entre a roubalheira e a caixa
registradora do comitê de Dilma-2010.
Dilma foi citada também em depoimento do doleiro Youssef. Ele afirmou
que a presidência da Petrobras e o Palácio do Planalto sabiam do
propinoduto que drenava verbas da estatal. Seus inquiridores perguntaram
a quem se referia quando citava o Planalto. E o doleiro: Presidência da
República, Casa Civil e Minas e Energia. Youssef foi aos nomes: Lula,
Gilberto Carvalho, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffman, Dilma Rousseff,
Antonio Palocci, José Dirceu e Edison Lobão.
O procurador Rodrigo Janot avaliou que não há nessa declaração do
delator Youssef indícios mínimos de que as autoridades citadas soubessem
dos fatos. Na falta de evidências mais explícitas, achou que não seria o
caso investigar.
De resto, a Operação Lava Jato alcançou também o atual tesoureiro do PT,
João Vaccari Neto. Denunciado pelo Ministério Público Federal por
corrupção e lavagem de dinheiro, Vaccari foi convertido em réu pelo juiz
paranaense Sérgio Moro, que converteu a denúncia dos procuradores em
ação penal. O gestor das arcas do PT terá de responder à acusação de que
recebeu propinas provenientes da Petrobras em nome do PT.
Vaccari e o partido não negam o recebimento de verbas de empresas
pilhadas no cartel que fraudou licitações na Petrobras. Alegam, porém,
que foram doações legais, devidamente informadas à Justiça Eleitoral. A
Procuradoria sustenta que parte do dinheiro surrupiado da estatal
petroleira foi lavado por meio de supostas doações de campanha. A
despeito de tudo isso, Dilma disse à CNN ter “certeza” de que não
passaram verbas de má origem pela caixa registradora do seu comitê.
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